Por Luciana Leão
O Nordeste brasileiro possui características únicas no cenário nacional, combinando desafios estruturais históricos e um imenso potencial econômico. Com 28% da população do país e contribuindo com 14% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, a região apresenta avanços em áreas como energia renovável e economia criativa, mas enfrenta déficits significativos em setores estratégicos como segurança pública, infraestrutura, saneamento básico, mobilidade urbana, moradia e saúde.
Essas questões são ainda mais evidentes nas capitais, que concentram parte significativa da população e sofrem os efeitos da desigualdade social e da violência. Dados do Atlas da Violência 2024 e do Ranking de Competitividade dos Municípios 2024 do Centro de Liderança Pública (CLP) reforçam a urgência de ações coordenadas entre as esferas municipal, estadual e federal para enfrentar esses desafios e aproveitar oportunidades em áreas como turismo, inovação e sustentabilidade fiscal.
A eleição e reeleição de prefeitos em 2024, como João Campos (PSB) no Recife, JHC (PL) em Maceió, Bruno Reis (União Brasil) em Salvador, Eduardo Braide, do Podemos, em São Luís e Cícero Lucena, do Progressistas, em João Pessoa, trazem uma nova janela para mudanças concretas.
Ao mesmo tempo, novos gestores como Emília Corrêa (PL) em Aracaju, Evandro Leitão (PT) em Fortaleza, Sílvio Mendes, do União Brasil, em Teresina, e Paulinho Freire, do União Brasil, em Natal, assumem com a missão de implementar políticas públicas inclusivas e eficazes.
Os Prefeitos eleitos ou reeleitos e seus desafios
João Pessoa: Cícero Lucena (Progressistas)
Reeleito em João Pessoa, Cícero Lucena continuará à frente de uma cidade reconhecida pela qualidade de vida e relativa segurança. Contudo, desafios como a desigualdade social, altos custos de moradia e falta de habitações populares demandam atenção.
“Apesar de ser uma das capitais mais seguras, ainda enfrentamos uma exclusão habitacional preocupante”, ressalta Lucena.
Apesar disso, a capital paraibana se destaca como uma das melhores do Nordeste em saneamento básico (77ª posição) e tem potencial para melhorar em conectividade e turismo.
Lucena declarou que sua gestão dará continuidade ao foco em infraestrutura e saúde, mas com maior atenção às políticas habitacionais para reduzir a desigualdade. “João Pessoa precisa crescer com qualidade de vida, garantindo justiça social e moradia para todos”, afirmou
Recife: João Campos (PSB)
João Campos, reeleito no Recife, com ampla margem (78,11% dos votos), destacou em entrevistas que pretende “aprofundar os investimentos na educação e na tecnologia”, e consolidar Recife como um polo de inovação e economia criativa, áreas nas quais Recife já tem se destacado como um polo tecnológico, a exemplo do Porto Digital.
Ele também menciona a continuidade dos projetos de infraestrutura e a busca por parcerias público-privadas para enfrentar o desafio da mobilidade urbana, problema histórico da capital pernambucana e do saneamento básico, essencial para reduzir desigualdades de saúde pública.
Apesar de comandar a capital nordestina melhor posicionada no ranking geral do CLP, a segurança pública permanece como uma preocupação grave, já que Recife ocupa a última posição entre as capitais da região (368ª) nesse indicador.
Em contrapartida, a cidade tem grande destaque em Capital Humano (4ª posição nacional), o que reforça seu papel como polo de inovação e educação.
Salvador: Bruno Reis (União Brasil)
Após ser reeleito com 78,67% dos votos, Bruno Reis reafirmou seu compromisso com o desenvolvimento social e a redução das desigualdades. Ele enfatiza que “Salvador continuará sendo referência em turismo e cultura”, mas que sua nova gestão dará atenção especial às periferias, com projetos de urbanização, saneamento e ampliação do acesso à saúde.
Reis inicia seu segundo mandato enfrentando questões estruturais como segurança pública e mobilidade urbana. A capital baiana está na 349ª posição no Pilar Segurança Pública, segundo o CLP, e também sofre com índices de saneamento ainda insatisfatórios.
Por outro lado, Salvador desponta como a segunda melhor capital nordestina em sustentabilidade fiscal (17ª posição) e um destino consolidado no turismo.
Renovação e compromisso Fortaleza: Evandro Leitão (PT)
Fortaleza, agora sob o comando de Evandro Leitão, eleito no segundo turno, colocou como prioridade a segurança pública, o investimento em educação e a promoção do turismo sustentável.
“Fortaleza precisa se posicionar como um destino turístico internacional, mas isso só será possível se garantirmos uma cidade segura e acolhedora para todos”, disse durante a campanha.
Contudo, enfrenta desafios severos de segurança pública, com a cidade posicionada em 328º lugar no pilar. Na área de educação, a capital ocupa a 164ª posição, um destaque em relação à média regional. Por outro lado, na área ambiental, Fortaleza está mal classificada (377ª), exigindo ações urgentes de sustentabilidade e preservação.
Aracaju: Emília Corrêa (PL)
Emília Corrêa, a primeira mulher a assumir a prefeitura de Aracaju, enfrentará desafios no saneamento e na segurança pública, com a cidade ocupando a 320ª e a 362ª posições nesses indicadores, respectivamente, segundo o CLP. Por outro lado, a capital sergipana aparece bem posicionada no Pilar Acesso à Saúde (95ª), liderando a região.
A nova prefeita destaca a recuperação econômica como sua prioridade. “Nossa missão é garantir que Aracajú seja uma cidade que acolha e gere oportunidades para todos, especialmente os mais vulneráveis”, comentou em discurso após a vitória.
Natal: Paulinho Freire (União Brasil)
Paulinho Freire, do União Brasil, foi eleito prefeito de Natal, Rio Grande do Norte, no segundo turno das eleições municipais de 2024, realizadas em 27 de outubro. Ele obteve 55,34% dos votos válidos, derrotando a candidata Natália Bonavides, do PT, que alcançou 44,66%.
Freire, de 60 anos, é empresário e possui uma longa trajetória política, incluindo mandatos como vereador, deputado estadual e deputado federal. Freire, destaca a importância de parcerias público-privadas para o desenvolvimento da cidade. Em suas palavras: “As parcerias com a iniciativa privada serão fundamentais para o desenvolvimento de Natal”.
Além disso, ele enfatiza seu compromisso com a educação, afirmando: “Vamos zerar as filas por vagas nas creches”.
Maceió: JHC (PL)
JHC, reeleito com forte apoio popular (84% dos votos), ressaltou a importância de continuar modernizando a administração pública e investindo em tecnologia para aproximar a prefeitura dos cidadãos.
Ele declarou que “Maceió é uma cidade de muitas oportunidades, mas com desigualdades que precisam ser combatidas com políticas públicas robustas”. Ele promete continuar apostando em boas práticas administrativas, que posicionaram Maceió como a 15ª melhor cidade em sustentabilidade fiscal do Brasil.
Contudo, desafios críticos em saúde (381ª posição) e segurança pública (313ª) exigem ações integradas. Em sua diplomação, no dia 13 de dezembro, como prefeito para os próximos quatro anos, ele voltou a se comprometer em questões críticas da cidade.
“Sabemos que muitos desafios ainda existem, que há questões a serem resolvidas e que o caminho é árduo. Nossa administração continuará focada nas necessidades reais da população. A saúde, a educação, a infraestrutura e o desenvolvimento social continuarão sendo nossas prioridades”.
Em meio a esses problemas, a capital alagoana tem destaque no Pilar Meio Ambiente, ocupando a 29ª posição nacional, um exemplo positivo de gestão ambiental.
São Luís: Eduardo Braide (Podemos)
Eduardo Braide foi reeleito em São Luís, a capital nordestina com a melhor posição no Pilar Segurança Pública (205ª). No entanto, a cidade ainda enfrenta dificuldades em saneamento (252ª) e conectividade (339ª). O destaque positivo está em seu desempenho na máquina pública, ocupando a 46ª posição nacional.
Braide reafirma o compromisso com a eficiência da máquina pública, um dos pontos altos de sua gestão anterior. Ele declarou que “a resposta ao povo será dada com trabalho” e que os esforços estarão voltados para melhorar o saneamento básico e a mobilidade urbana.
Teresina: Sílvio Mendes (União Brasil)
Em seu terceiro mandato à frente da Prefeitura de Teresina, Silvio Mendes retorna em 2025, numa disputa acirrada na eleição de 2024, onde obteve 52,19% dos votos válidos.
Ele já foi prefeito anteriormente, entre 2004 e 2010. Eleito com promessas de mudanças, Silvio Mendes pretende avançar na área de educação e saúde, destacando Teresina como um modelo em gestão pública.
Ele também apontou a necessidade de priorizar a segurança pública, em alinhamento com o governo estadual e federal. “Desmontar o palanque e trabalhar em parceria com os governos federal e estadual”, destaca o novo prefeito.
Principais desafios por Áreas nas nove capitais
Segurança Pública: Urgência Regional
De acordo com o Atlas da Violência 2024, as capitais nordestinas lideram as estatísticas de homicídios e mortes violentas, muitas vezes superando a média nacional.
Apenas São Luís (205ª) e João Pessoa (253ª) figuram entre os 300 primeiros municípios no Pilar Segurança Pública do CLP, enquanto Recife ocupa a última posição (368ª). “Essas posições evidenciam que o tema é delicado e requer um trabalho mais profundo dos gestores para ampliar os diálogos entre governos federal, estaduais e municipais no combate à violência”, pontua Pedro Trippi, coordenador do CLP, em entrevista à NORDESTE.
Saúde e Educação: Desafios Fundamentais
No Pilar Acesso à Saúde, apenas Aracaju está entre as 100 melhores cidades (95ª). Maceió ocupa a última posição no Nordeste (381ª), seguida por Salvador (356ª). Na educação, Fortaleza (164ª) e Teresina (99ª) apresentam índices melhores, mas a maioria das capitais está fora do Top 300, como Natal (382ª) e Maceió (350ª), ambas precisam de avanços urgentes..
Meio Ambiente e Saneamento: Resultados Mistos
O Pilar Meio Ambiente revela uma performance heterogênea: Maceió se destaca no Top 30 (29ª), enquanto Fortaleza amarga a 377ª posição. No saneamento, João Pessoa (77ª) e Salvador (93ª) lideram na região, mas a desigualdade no acesso a serviços básicos continua evidente.
Inovação e Dinamismo Econômico
A conectividade também é um ponto fraco, com Recife ocupando a 387ª posição. Em inovação e dinamismo econômico, Recife (29ª) e Fortaleza (38ª) lideram, destacando-se como polos criativos e tecnológicos.