O Serviço Geológico do Brasil (SGB) receberá um investimento de R$ 10,2 milhões, ao longo de cinco anos, para impulsionar o desenvolvimento de materiais inovadores à base de terras raras. A iniciativa, parte de um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), reforça a soberania tecnológica do Brasil e promete impactos diretos em áreas como energia renovável, armazenamento de energia e produção de materiais avançados.
Segundo a coordenadora do Projeto Terras Raras do SGB, geóloga Lucy Takehara, o investimento fortalece a cooperação com centros de excelência e representa um passo importante para aumentar a autonomia científica e tecnológica do país. “Esse projeto nos coloca em sinergia com as melhores universidades e institutos do Brasil. Além disso, vamos formar pessoal qualificado para atuar em toda a cadeia produtiva, do subsolo até a inovação industrial”, explica Lucy.
Coordenado pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), o INCT reúne 15 instituições de pesquisa, entre elas USP, UFMG, CETEM, IPT, SENAI-SP, além de universidades federais em diversas regiões. Embora o foco inicial esteja voltado para a Amazônia, a iniciativa pode ter desdobramentos no Nordeste, onde há novas frentes de prospecção e crescente interesse por minerais estratégicos.
As reservas estratégicas no Nordeste
Abaixo, um panorama dos principais minerais do futuro já mapeados na região:
Mineral | Localização no Nordeste | Potencial e Cadeia Produtiva |
---|---|---|
Terras raras | Bahia (Itaeté) | Depósito associado a carbonatitos, com neodímio e praseodímio. Foco em ímãs permanentes. |
Níquel | Bahia (Santa Luz, Itagibá) | Minas em operação, como a da Atlantic Nickel. Exportação concentrada na China. |
Grafite | Ceará (Itapipoca) | Produção com alto grau de pureza. Potencial para baterias de lítio e eletrólitos sólidos. |
Silício (quartzo) | Bahia (Chapada Diamantina); RN (Seridó) | Quartzo de alta pureza. Pode integrar cadeias de painéis solares e semicondutores. |
Lítio | Ocorrências esparsas em avaliação técnica | Ainda em prospecção. Nordeste pode integrar cadeia nacional de baterias e mobilidade elétrica. |
Desafios para industrializar o subsolo
A Bahia lidera a corrida mineral no Nordeste, com reservas conhecidas e operação ativa de níquel e terras raras. O Ceará já é destaque na produção de grafite, enquanto o Rio Grande do Norte aparece com jazidas de quartzo. O desafio agora é ir além da exportação de matéria-prima e estruturar cadeias produtivas locais, com foco em tecnologia limpa e inovação.
“Temos capacidade técnica, geológica e energética para avançar. Mas precisamos fortalecer a indústria e a formação de talentos que operem essas cadeias com alto valor agregado”, aponta Lucy Takehara. Ela reforça que o Brasil precisa desenvolver competências não só para extrair, mas também para transformar os minérios em produtos industriais estratégicos, como ímãs para turbinas eólicas, componentes eletrônicos e catalisadores.
Portos como Suape (PE), Pecém (CE) e Salvador (BA) já operam como plataformas de exportação mineral, mas também podem ser hubs logísticos para a integração com polos industriais e tecnológicos, favorecendo a chamada economia verde.
Nordeste em transição
Com matriz energética renovável e crescente articulação entre universidades e setores produtivos, o Nordeste tem base para se posicionar como protagonista nessa nova geopolítica dos recursos minerais.
Centros como a UFBA, UFRN, UFC e o SENAI Cimatec estão ampliando pesquisas em energias sustentáveis e materiais avançados, o que pode acelerar a internalização dessas cadeias.
A coordenadora do projeto reforça que o país não pode repetir o modelo histórico de exportação bruta de recursos: “É a chance de transformar riqueza natural em autonomia tecnológica, com respeito ambiental e inclusão produtiva.”