Personalizar preferências de consentimento

Utilizamos cookies para ajudar você a navegar com eficiência e executar certas funções. Você encontrará informações detalhadas sobre todos os cookies sob cada categoria de consentimento abaixo.

Os cookies que são classificados com a marcação “Necessário” são armazenados em seu navegador, pois são essenciais para possibilitar o uso de funcionalidades básicas do site.... 

Sempre ativo

Os cookies necessários são cruciais para as funções básicas do site e o site não funcionará como pretendido sem eles. Esses cookies não armazenam nenhum dado pessoalmente identificável.

Bem, cookies para exibir.

Cookies funcionais ajudam a executar certas funcionalidades, como compartilhar o conteúdo do site em plataformas de mídia social, coletar feedbacks e outros recursos de terceiros.

Bem, cookies para exibir.

Cookies analíticos são usados para entender como os visitantes interagem com o site. Esses cookies ajudam a fornecer informações sobre métricas o número de visitantes, taxa de rejeição, fonte de tráfego, etc.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de desempenho são usados para entender e analisar os principais índices de desempenho do site, o que ajuda a oferecer uma melhor experiência do usuário para os visitantes.

Bem, cookies para exibir.

Os cookies de anúncios são usados para entregar aos visitantes anúncios personalizados com base nas páginas que visitaram antes e analisar a eficácia da campanha publicitária.

Bem, cookies para exibir.

Líder viva da cena de resistência comemora 100 anos de vida

Por Abdias Abrantes

Especial para edição 217 da RNE

 

 

Uma das lideranças camponesas mais importantes da história do Brasil e militante das Ligas Camponesas Elizabeth Altino Teixeira completa 100 anos. Nasceu em 13 de fevereiro de 1925 na comunidade de Anta do Sono, em Sapé-PB.

 

O Memorial das Ligas e Lutas Camponesas localizado na Comunidade Tradicional de Barra de Antas Sapé-PB, vai realizar o Festival da Memória Camponesa em celebração ao centenário de Elizabete Teixeira, símbolo histórico da luta pela terra  e pela justiça social no Brasil.

 

A casa onde viveu João Pedro Teixeira e sua família, no sítio Antas do sono, zona rural do município de Sapé, foi tombada por Ricardo Coutinho, ex-governador do Estado da Paraíba.

 

O festival é uma homenagem à vida de Elizabeth Teixeira, uma mulher que se tornou símbolo de resistência e liderança na luta camponesa. Sua coragem e dedicação à causa dos trabalhadores e trabalhadoras do campo marcaram a história da lupa pela terra, inspirando gerações na busca por direitos, dignidade, justiça social e memória.

 

13 de Fevereiro: O primeiro foi  marcado pelo reencontro de Elizabeth Teixeira com familiares e amigos. Lançamento da exposição Elizabeth Teixeira: 100 faces de uma mulher marcada para viver e apresentação cultural. 14 de Fevereiro: O segundo dia trouxe a Marcha da Memória Camponesa, abertura oficial da exposição e apresentações culturais. 15 de Fevereiro: Feira Cultural da Agricultura Familiar Camponesa, ato político com presença de autoridades e atividades culturais.

 

Perfil da liderança camponesa Elizabeth Teixeira

 

Elizabeth Teixeira, mulher branca, filha mais velha de Altina Maria da Costa, de origem latifundiária, e de Manoel Justino da Costa, de família de pequenos proprietários de terra, ambos naturais da região de Sapé/PB e Pilar/PB.

 

Desde jovem, ela demonstrava inconformismo com as injustiças praticadas pelos grandes proprietários de terra contra as famílias camponesas.

 

Em 1940, Elizabeth Teixeira conheceu João Pedro Teixeira, um trabalhador negro e evangélico que trabalhava em uma pedreira próxima à sua casa e se casaram em Cruz do Espírito Santo/PB.

 

Em defesa dos direitos dos trabalhadores rurais

 

Não obstante a resistência de seu pai, que desaprovava o relacionamento, Elizabeth Teixeira desafiou a realidade social da época, casando-se com João Pedro. Juntos, construíram uma vida de amor e luta, dedicando-se à defesa dos direitos dos trabalhadores rurais.

 

João Pedro Teixeira tornou-se uma das principais lideranças das Ligas Camponesas de Sapé-PB, organização criada nos anos 1950 para combater as violações do latifúndio e defender os direitos dos trabalhadores do campo.

 

Elizabeth Teixeira quando decidiu se relacionar com João Pedro Teixeira, camponês, negro, operário (trabalhava em uma pedreira) e pobre, a família foi contra.

 

 

Após o casamento, a primeira criança nasceu em junho de 1944, e devido às dificuldades, Elizabeth Teixeira, em janeiro de 1945, foi morar em Jaboatão dos Guararapes-PE, localizado na Região Metropolitana do Recife, onde teve mais quatro filhos. Na cidade pernambucana, João Pedro Teixeira ajudou a fundar o Sindicato dos Trabalhadores da Construção.

 

 

O retorno à Paraíba

 

Por conta de seu envolvimento com questões trabalhistas, ele tinha dificuldade de arrumar emprego.

 

Por conseguinte, Elizabeth Teixeira começou a trabalhar em uma mercearia nos anos de 1950, 1951 e 1952, permanecendo três anos como trabalhadora urbana e vivenciando as dificuldades que a vida na cidade submetia sua família.

 

A família retornou para a Paraíba em 1954, onde recebeu apoio de um irmão de Elizabeth, indo residir na comunidade de Barra de Antas, Sapé/PB. Foi lá que o casal liderou a Liga Camponesa do estado. Elizabeth e João Pedro tiveram onze filhos. Na tarde de segunda-feira, no dia 2 de abril de 1962, em uma emboscada, o latifúndio tirou a vida de João Pedro Teixeira, marido de Elizabeth.

 

O líder campesino João Pedro Teixeira ao descer do ônibus, no qual voltava de uma viagem à capital paraibana, João Pessoa – entre Café do Vento e Sapé – foi assassinado a tiros, pelas costas, por tiros de fuzil aos 44 anos. No dia da do sepultamento do líder campesino João Pedro Teixeira, cerca de 5 mil camponeses tomaram as ruas de Sapé em protesto. Em janeiro de 2018, o nome de João Pedro Teixeira passou a figurar no Livro os Heróis e Heroínas da Pátria, que homenageia personalidades com destaque na história do país.

 

Como líder camponês, João Pedro vivia sob ameaças constantes, que se tornaram mais presentes a partir de 1955, quando organizou o Encontro dos Camponeses de Sapé, já naquele momento com a presença de Nego Fuba (João Alfredo Dias) e Pedro Fazendeiro (Pedro Inácio de Araújo).

 

Elizabeth Teixeira só ficou sabendo do assassinato do marido na manhã seguinte e, ao se deparar com o corpo de seu companheiro, falou a seguinte frase: “João Pedro por mais de uma vez me perguntou se eu daria continuidade à sua luta e eu nunca te dei minha resposta. Hoje eu te digo, com consciência ou sem consciência de luta, EU MARCHAREI NA SUA LUTA, JOÃO PEDRO, PRO QUE DER E VIER.”

 

Elizabeth Teixeira assumiu o comando das Ligas Camponesas de Sapé e, depois, do estado da Paraíba. Sua atuação política ampliou a participação de camponesas e camponeses na resistência, dobrando o número de associados, e reforçando a participação das mulheres na luta do campo, entre elas, Margarida Maria Alves e as que a sucederam.

 

 

Trajetória familiar

torturante

 

Tendo seu marido assassinado em 1962, Elizabeth Teixeira passou a enfrentar intensa repressão aos camponeses neste período, e logo após, a situação foi agravada pelo golpe militar de 1964. Elizabeth Teixeira enfrentou perdas, como o suicídio de uma filha, deprimida com a morte do pai e as prisões da mãe; o assassinato de dois filhos (José Eudes Teixeira e João Pedro Teixeira Filho).

 

Vendo sua vida familiar sendo destruída e sem ter a quem recorrer contra toda essa violência, Elizabeth passou a viver na clandestinidade.

 

Saiu de Sapé, foi para São Rafael, no interior do Rio Grande do Norte, e adotou o nome de Marta Maria da Costa, onde permaneceu escondida por 17 anos, lavando roupa e dedicou-se à alfabetização de crianças mantendo viva a essência de sua luta. Em 1981, com ajuda de seus dois filhos, o cineasta Eduardo Coutinho reencontrou Elizabeth Teixeira, que retratou sua história no documentário Cabra Marcado para Morrer.

 

Prêmio Bertha Lutz

 

Em 2006 foi homenageada com o Diploma Bertha Lutz, também conhecido como Prêmio Bertha Lutz, foi instituído pelo Senado Federal do Brasil para agraciar mulheres que tenham oferecido relevante contribuição na defesa dos direitos da mulher e questões do gênero no Brasil. Homenageia a bióloga brasileira e líder feminista Bertha Lutz.

 

Recebeu o Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queirós de 2024 da Câmara dos Deputados. Elizabeth Teixeira é memória viva da história das Ligas Camponesas no estado da Paraíba. Desde o assassinato do seu companheiro, João Pedro Teixeira, militante das Ligas Camponesas e fundador da Liga de Sapé-PB, ela passou a ser a identidade e a força para a trajetória de milhares de famílias camponesas por esse país em busca de respeito, direitos garantidos e vida digna.

 

Nas palavras de Elizabeth Teixeira:

 

Enquanto houver a fome e a miséria atingindo a classe trabalhadora, tem que haver luta dos camponeses, dos operários, das mulheres, dos estudantes e de todos aqueles que são oprimidos e explorados. Não pode parar.

 

 

Comemorar o centenário de Elizabeth Teixeira é mais do que uma homenagem; é um compromisso coletivo com a memória e a história das lutas camponesas no Brasil. A ativista histórica na luta pela terra, Elizabeth Teixeira merece ter seu nome incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Criado em 1992, o livro reúne protagonistas da liberdade e da democracia, que dedicaram sua vida ao país em algum momento da história. A inscrição de um novo personagem depende de lei aprovada no Congresso.

 

 

*Abdias Duque de Abrantes é Advogado, jornalista, servidor público, graduado em Jornalismo e Direito pela UFPB e pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Potiguar (UnP), que integra a Laureate International Universities.
Curta e compartilhe:

Redacao RNE

Leia mais →

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

enptes