A missão de impactar 1 milhão de pessoas com inclusão tecnológica

Pernambucano Raphael Gadelha quer garantir novas oportunidades para crianças e adolescentes através do desenvolvimento socioemocional e multidisciplinar por meio da educação tecnológica nas escolas.

 

Acesse abaixo a reportagem completa publicada na edição 216 da revista RNE ou se preferir clique aqui e leia diretamente no APP da Nordeste.

 

 

No coração da Bahia, uma revolução silenciosa tem transformado a forma como crianças e adolescentes aprendem. Em municípios como Feira de Santana, Conceição da Feira, Coração de Maria e Uauá, algo novo está acontecendo: salas de aula estão se tornando laboratórios vibrantes de criatividade, onde estudantes montam robôs, programam jogos e dão vida a projetos únicos com impressoras 3D. Por trás dessa transformação, está Raphael Gadelha, um pernambucano que, aos 33 anos, carrega a ambição de impactar 1 milhão de vidas com a inclusão digital até 2030.

 

Raphael não começou sua jornada em um ambiente tecnológico. Nascido no Recife e criado em Igarassu, na região metropolitana, cresceu em uma comunidade onde o acesso à tecnologia parecia algo distante. Ainda jovem, encontrou na educação pública e em cursos técnicos a chave para mudar sua realidade. Ele viu o poder transformador da tecnologia quando se formou em eletrônica e gestão de tecnologia, abrindo portas que antes pareciam inatingíveis. “A educação e a tecnologia mudaram o curso da minha vida. Hoje, quero oferecer essa mesma oportunidade para crianças e adolescentes em todo o Brasil, especialmente nos lugares onde o acesso é mais difícil”, diz ele.

 

Foi assim que nasceu a Dulino Sistema de Ensino, em 2013, com a missão de levar a educação 7.0 a escolas públicas. Mais do que distribuir equipamentos tecnológicos, a empresa oferece uma metodologia que ensina jovens a “aprender fazendo”, combinando prática, ferramentas tecnológicas e formação socioemocional. O objetivo não é apenas ensinar a usar a tecnologia, mas capacitar crianças e adolescentes a criar, inovar e se preparar para um futuro no qual o digital será indispensável.

 

Transformação no

interior da Bahia

Na Bahia, o impacto é visível. Com investimento de prefeituras, a Dulino está implementando laboratórios de tecnologia em 28 escolas públicas, atendendo mais de 12 mil estudantes e capacitando 244 professores. As aulas não se limitam ao ensino tradicional. Com academias temáticas — robotics, maker, game e english academy —, os estudantes aprendem robótica, programação de jogos e cultura maker enquanto desenvolvem habilidades multidisciplinares.

 

Em Conceição da Feira, por exemplo, alunos como Davi Saturnino, de 14 anos, estão descobrindo um novo mundo. “Dá para aprender coisas que normalmente não teríamos na escola. É divertido e parece um jogo, mas a gente aprende de verdade”, diz ele. Para sua mãe, Lícia, ver o entusiasmo do filho é uma emoção única. “Saber que meu filho está aprendendo sobre robôs e usando computadores de forma criativa me enche de orgulho. Ele vai para as aulas com uma alegria que eu nunca vi antes”, comenta.

 

 

Educação na prática

 

As aulas nos laboratórios 7.0 são imersivas e envolventes. Uma vez por semana, as turmas se reúnem em grupos para trabalhar com kits tecnológicos, como peças de robótica, tablets e impressoras 3D. No espaço maker, materiais recicláveis ganham vida como projetos inovadores, enquanto nas aulas de robótica, alunos programam e montam seus próprios robôs.

 

Em Uauá, município do sertão baiano, esse aprendizado prático foi além e trouxe uma solução inclusiva e inovadora. Três jovens da Escola Municipal São Geraldo desenvolveram o “Geraldinho”, um robô iluminado feito com materiais recicláveis, como papelão e peças descartadas. Criado para substituir o som alto e agudo do sinal escolar por feixes de luz, o “Geraldinho” foi pensado especialmente para acolher alunos sensíveis ao som, como aqueles com autismo.

 

 

Robô “Geraldinho” foi pensado especialmente para acolher alunos sensíveis ao som, como aqueles com autismo

 

“Quando começamos, a ideia era simples: ajudar os colegas que se sentiam desconfortáveis com o barulho do sinal”, conta Saullo Gabriel, um dos idealizadores do projeto. Já Felipe Aquiles ressalta o impacto da experiência: “Foi incrível usar materiais que iam para o lixo e transformá-los em algo útil. Ver o ‘Geraldinho’ funcionando é uma prova de que com criatividade e trabalho em equipe podemos fazer a diferença”.

 

O robô, embora ainda não implementado oficialmente na escola, já é um exemplo de empatia e inovação que inspira a comunidade local. Apresentado em uma competição escolar que reúne 225 estudantes da rede pública de Uauá, o projeto reflete o potencial transformador da educação 7.0, que incentiva os jovens a resolver problemas do cotidiano com criatividade e tecnologia. “A educação tem o poder de transformar não apenas a vida dos alunos, mas também das comunidades onde eles vivem”, destaca Gadelha.

 

Com atividades como essas, os alunos são desafiados a inovar e trazer novas funcionalidades aos protótipos que desenvolvem. Cada equipe trabalha para cumprir os desafios propostos em aula, o que amplia o aprendizado e estimula a criatividade. Assim, projetos como o “Geraldinho” mostram como a educação 7.0 não apenas forma cidadãos mais preparados, mas também cria agentes de transformação social dentro de suas comunidades.

 

 

 

Uma missão maior

 

Raphael quer transformar vidas por meio da educação tecnológica. Foto: Arquivo Pessoal

 

 

Para Raphael Gadelha, o impacto da Dulino vai muito além das aulas nos laboratórios. Sua visão é clara: transformar vidas por meio da educação tecnológica, garantindo que estudantes tenham as ferramentas e o conhecimento necessário para um futuro no qual a tecnologia é indispensável. “O Brasil precisa voltar a incentivar a ciência. A tecnologia precisa ser uma ‘cultura’ adotada na educação básica. Se fomentarmos a formação tecnológica desde cedo, teremos uma geração capaz de criar soluções inovadoras. Assim, deixaremos de ser apenas consumidores para nos tornarmos provedores de tecnologia”, assegura ele, destacando a necessidade de o Brasil seguir os passos de potências como China, EUA e Índia, que têm investido massivamente na formação tecnológica.

 

Com o avanço da inteligência artificial (IA), essa transformação se torna ainda mais urgente. A nova revolução tecnológica exige habilidades para interagir e desenvolver projetos com base em ferramentas avançadas. A Dulino já incorpora essa realidade com o uso de IA em suas operações, como o chatbot Lili, que dinamiza a comunicação e facilita processos educacionais, mostrando como a tecnologia pode ser uma aliada no dia a dia.

 

Rota do milhão

 

Atualmente, a empresa de ensino impacta diretamente 55 mil pessoas em todo o Brasil, mas Raphael tem metas ainda mais ambiciosas: alcançar 1 milhão de vidas até 2030. Para isso, ele desenvolveu a chamada “Rota do Milhão”, uma estratégia que inclui projetos inovadores como laboratórios móveis — ônibus equipados com tecnologia que estacionam em praças e convidam os jovens a explorar esse universo —, além de podcasts gravados em auditórios e até a proposta de um reality show com professores de diferentes partes do país. Já presente em estados como Pernambuco, Bahia e São Paulo, a Dulino planeja expandir ainda mais seu alcance nos próximos anos.

 

A Dulino tem sido uma ponte de inclusão tecnológica para escolas muitas vezes carentes até mesmo do básico. Em parceria com municípios e instituições, a empresa leva equipamentos tecnológicos e metodologias que garantem uma formação completa e gratuita aos estudantes. “Os alunos dão ‘vida’ aos protótipos tecnológicos e veem seus projetos ganharem movimento, colocando a mão na massa e aprendendo junto com os professores. Não se trata apenas de ensinar, mas de fazer junto, deixando como legado um conhecimento prático que pode ser usado tanto na carreira profissional quanto no dia a dia”, explica Raphael.

 

Quando as atividades não acontecem nas escolas parceiras, a Dulino oferece laboratórios próprios, completamente equipados, onde os alunos podem experimentar criar e construir ideias. Essa abordagem prática estimula os estudantes a desenvolverem soluções inovadoras que têm impactos não apenas em suas vidas, mas também na sociedade.

 

Além de habilidades técnicas, a Dulino prioriza o desenvolvimento humano dos alunos, indo além da sala de aula. “Trabalhamos com cinco pilares fundamentais: criatividade, iniciativa, empatia, estabilidade emocional e a capacidade de aprender a aprender. Esses elementos norteiam todas as nossas práticas e garantem que os jovens não apenas aprendam tecnologia, mas saibam aplicá-la de maneira consciente no dia a dia”, conclui Raphael. Esses conceitos são integrados à prática educacional para formar cidadãos mais conscientes, preparados para lidar com os desafios do mundo moderno e capazes de usar a tecnologia de forma responsável.

 

 

 

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Redacao RNE

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