Nos últimos dias de 2024, o turismo brasileiro celebrou a marca histórica de 6,65 milhões de visitantes internacionais que estiveram no País ao longo do ano, segundo dados oficiais.
Até então, o recorde tinha sido registrado em 2018, quando foram 6,62 milhões de chegadas. Na leitura da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), esse é, de fato, um dado a ser comemorado. Contudo, uma análise mais aprofundada revela que ainda há muito o que se fazer para elevar o status do setor do Brasil perante o mundo.
Em primeiro lugar, porque a marca de 6 milhões de turistas internacionais tem se mantido constante desde, pelo menos, 2015 — exceto nos anos da pandemia de covid-19. Assim, se esse é um número relevante, também demarca a necessidade de ajustes nas políticas públicas no campo do turismo para ir além desse dado já consolidado há pelo menos uma década. Sem considerar que, desses 6,65 milhões, pelo menos 10% são de brasileiros e brasileiras com cidadanias de países do exterior que voltaram ao País.
Na avaliação da FecomercioSP, o turismo brasileiro ainda é fortemente dependente de uma sazonalidade típica de países como o nosso, além de ser extremamente concentrado. É assim que as informações da Embratur revelam que o grosso das visitas internacionais aconteceram entre dezembro de 2023 e março de 2024, no verão do Hemisfério Sul, e que 8 em cada 10 dessas visitas (80%) foram registradas em aeroportos de São Paulo ou do Rio de Janeiro.
Segundo a FecomercioSP, debruçar-se sobre essas variantes é perceber que os números estão abaixo do potencial do Brasil no campo turístico. O País não apenas tem estrutura em várias regiões, como as capitais do Nordeste ou as cidades do interior que se dedicam ao turismo rural, como pode oferecer atividades em todas as épocas do ano — desde que sejam devidamente atendidas por iniciativas públicas e por medidas que ajudem o empresariado do setor a investir nos negócios.
Há ainda a barreira estrutural, que se liga, justamente, à análise anterior. Muitos locais ainda não oferecem acesso constante à internet, enquanto algumas cidades que atraem mais turistas no exterior têm sido cada vez mais ligadas à violência, como o caso do Rio de Janeiro. É por isso que, mesmo com o real em desvalorização desde o fim do ano passado, que favorece a presença de visitantes que usam o dólar ou o euro, o fluxo de turistas não aumentou muito até agora.
Tudo isso sem contar a própria falta de estratégia do governo, que restabeleceu a exigência de vistos para pessoas que chegam de países relevantes para diversificar os fluxos do nosso Turismo — e com moedas mais valorizadas —, como Estados Unidos, Canadá e Austrália. A medida vai na contramão do que deveria ser feito: estimulá-los a vir mais ao Brasil. Nesse caso, a FecomercioSP está trabalhando ativamente com as autoridades para impedir que a decisão, marcada para entrar em vigor em abril, prospere até lá.
É essa mesma visão limitada que impediu a redução de alíquotas para o setor na Reforma Tributária recém-aprovada e regulamentada no Congresso, uma prática comum em muitos países. Cálculos da Federação já sugerem que os preços dos produtos turísticos vão, ao contrário, ficar mais caros daqui para a frente, impactando negativamente a competividade das empresas.
Ainda de acordo com a FecomercioSP, a solução para todos esses problemas passa, fundamentalmente, por boas políticas públicas. Isso significa medidas integradas que gerem efeitos tanto sobre os investimentos das empresas do setor como nas áreas onde o Poder Público pode oferecer melhores condições, caso da infraestrutura. De um lado, isso significaria mais hotéis, agências turísticas e serviços de transporte e alimentação; de outro, melhores aeroportos, rodovias e sistemas de conexão.
Sem investimentos sólidos e planejamento estratégico, o Brasil permanecerá na casa dos 6 milhões de turistas, muito atrás de potências mundiais do setor, como o México (45 milhões de visitantes em 2024) ou mesmo países que não figuram nessa lista, como os Emirados Árabes Unidos (8 milhões, segundo o Banco Mundial) ou a Romênia (5 milhões).