Por Luciana Leão
A chegada de grandes investimentos logísticos ao Nordeste está transformando a região em um novo polo estratégico para o e-commerce no Brasil.
Matéria exclusiva publicada na edição 215, da Revista Nordeste. Leia abaixo ou se preferir acesse pelo app da revista NORDESTE clicando AQUI
Com a inauguração recente do centro de distribuição em Pernambuco CD PE01, no município do Cabo de Santo Agostinho, na região Metropolitana do Recife, numa área de 60 mil metros quadrados, o Mercado Livre avança em sua meta de regionalizar operações, reduzindo prazos de entrega, otimizando custos e conectando milhões de consumidores a uma nova era de eficiência no comércio eletrônico.
Até 2025, o Mercado Livre planeja operar 21 centros de distribuição no Brasil, com mais da metade localizados fora do eixo Rio-São Paulo. Segundo Iuri Maia, Diretor de Estratégia de Marca em entrevista à revista NORDESTE, 63% dos novos centros de distribuição estão fora de São Paulo, “ampliando significativamente nossa cobertura, não só no Nordeste, mas também em outras regiões do país.”
A NORDESTE perguntou ao executivo, onde estariam localizados os novos CDs e previsão de investimentos. Entretanto, como política de negócios do grupo, essa informação não é revelada, segundo Maia. “A gente não abre valor de investimento, de planejamento nos próximos anos, mas toda a parte de ampliação logística e operação, eles estão dentro do valor que a gente investe no país”.
Embora o Mercado Livre não revele detalhes de seus investimentos futuros, as inaugurações recentes no Nordeste sugerem uma priorização clara pela descentralização e atendimento regionalizado. Historicamente, empresas do setor priorizam estados com localização estratégica e boa infraestrutura logística, como Pernambuco e Bahia, o que indica que novas expansões podem seguir esse padrão.
Segundo o executivo, no começo de 2024, a empresa anunciou o investimento de R$ 23 bilhões no Brasil. “Para 2025, assim como nos anos seguintes, o que a gente for investir no país vai ter sua priorização de investimento para expandir infraestrutura logística, não só no Nordeste, assim como outros lugares do Brasil”, disse.
Bahia e Pernambuco
No Nordeste, a escolha por Pernambuco e Bahia como bases logísticas reflete essa estratégia de descentralização. “Bahia foi nosso primeiro CD na região, em Lauro de Freitas e agora, com Pernambuco, estamos expandindo a capacidade de atendimento, especialmente com o novo CD inaugurado em agosto, antes da Black Friday”, afirmou o executivo.
Apenas no CD de Pernambuco, a capacidade de processamento chega a 250 mil itens por dia, beneficiando estados vizinhos como Alagoas, Paraíba e Ceará.
Transformação no consumo e economia local
A operação no Nordeste já apresenta resultados concretos.No Grande Recife, consumidores agora podem receber pedidos no mesmo dia, um marco importante para a experiência do usuário. “Além de entregas mais rápidas, nosso modelo também reduz custos de frete e aumenta a possibilidade de frete grátis, especialmente nas compras via full”, explicou o diretor.
Os 420 empregos diretos gerados pelo CD de Pernambuco, distribuídos em dois turnos, destacam o impacto socioeconômico da expansão logística na região.Maia acrescenta que a logística tem um papel fundamental no desenvolvimento local, conectando consumidores e empresas de forma eficiente e sustentável.
Tecnologia e frota aérea: a nova fronteira da logística
Outro diferencial do Mercado Livre, que sustenta essa expansão, é a aposta na tecnologia e na ampliação de sua frota aérea.
Para 2025, a empresa pretende aumentar sua frota própria de aviões. “Este ano, temos sete aviões em parceria com a Golog, e em 2025, planejamos chegar a nove, reforçando a regionalização e permitindo entregas ainda mais rápidas em todo o país.”
O Mercado Livre oferece uma plataforma para compra e venda de produtos novos e usados, conectando milhões de vendedores e compradores.
Criou um sistema de pagamentos online, o Mercado Pago, que facilita transações, tanto dentro quanto fora do e-commerce. Além disso, foi pioneiro ao investir em sua própria rede logística, a quem intitula Mercado Envios, com centros de distribuição, hubs e entrega própria para acelerar os prazos e reduzir custos.
No Brasil, a empresa investe fortemente na construção de galpões logísticos e em transporte, especialmente no Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.
Corrida pela logística: o consumidor como protagonista
Em meio a essas movimentações no mercado de comércio eletrônico brasileiro, o consumidor brasileiro sai ganhando com o aumento de opções e melhores condições de entrega.
De acordo com uma pesquisa da Nielsen, 56% dos consumidores brasileiros consideram a entrega rápida como um dos principais fatores de decisão de compra online. E não são poucos os brasileiros que já aderiram às compras on-line.
Levantamento recente da ABComm- Associação Brasileira de Comércio Eletrônico- aponta que em 2024 , 91,31 milhões de pessoas devem optar pelo comércio eletrônico, com um ticket médio em torno de R$492,38.
O impacto da competição no preço do frete também é visível, com as empresas oferecendo cada vez mais opções de frete grátis, o que impulsiona ainda mais as vendas.
O uso de tecnologias avançadas como a automação de centros de distribuição e a entrega por drones (iniciativas ainda em fase de teste) também deve impactar o mercado nos próximos anos, tornando as entregas mais rápidas e baratas.
Nesse “campo” de batalha o Brasil tornou-se um mercado atrativo para gigantes do setor logístico, como Amazon, além de empresas asiáticas como Shein, Shopee e AliExpress.
Para manter a competitividade e garantir a preferência do consumidor, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, a disputa pela atenção do consumidor também envolve grandes mudanças nos números do setor.
Segundo análise da ABComm, em 2024, o setor deve fechar o ano com uma movimentação de 204.24 bilhões, com expectativas para os próximos cinco anos anos de R$ 224,7 bi em 2025; R$247,17 bilhões em 2026; R$ 271,88 bilhões em 2027 e R$ 299,07 bilhões em 2028.
O presidente da ABComm, Maurício Salvador, explica à NORDESTE que o impacto com os novos CDs na região Nordeste foi expressivo. “Estimamos que foram gerados mais de 100 mil empregos, entre empacotados, assistentes de armazém e entregadores”
Como consequência imediata, segundo o executivo, os prazos de entregas para os consumidores foram reduzidos. “Os prazos de entrega foram reduzidos em média de 9 dias para 5 dias nas regiões onde foram abertos CDs”, revela Maurício Salvador.
Os centros de distribuição da Shopee, por exemplo, estão localizados em vários estados do Brasil, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Goiás. Mas, a empresa asiática opera no modelo de cross-docking, no qual as mercadorias coletadas via parceiros logísticos são reorganizadas e direcionadas aos hubs de última milha, para serem entregues ao consumidor final.
Já os centros de distribuição da Amazon estão localizados em Cajamar (SP), Betim (MG), Santa Maria (DF), Nova Santa Rita (RS), São João do Meriti (RJ) e Cabo de Santo Agostinho (PE).
A Shein, gigante chinesa de moda, inaugurou recentemente mais um centro de distribuição no Brasil. Ao todo são três, todos centralizados em São Paulo, nos municípios de Embu das Artes, Perus e Guarulhos.
Com a estratégia de localizações mais próximas ao consumidor, a empresa visa reduzir significativamente os tempos de entrega e facilitar o crescimento de sua base de clientes.
O AliExpress, parte do Alibaba Group, também está ampliando sua infraestrutura no Brasil, com um aumento de centros logísticos. A empresa passou a oferecer prazos de entrega menores, especialmente com a ampliação da operação de “AliExpress Brasil” e da parceria com transportadoras locais.
Em comparação com essas gigantes, o Mercado Livre ainda é o líder indiscutível no Brasil, especialmente no que diz respeito a número de centros de distribuição e volume de vendas. A empresa fechou 2023 com 16 centros de distribuição e pretende alcançar 21 até 2025.
A operação no Brasil gerou mais de 150 mil empregos indiretos e diretos no ano passado e mais R$23 bilhões de investimentos em 2024.
Números do setor de logística e e-commerce
Mercado de E-commerce (Crescimento):
>R$ 204,24 bilhões em 2024
>Crescimento de +10% em relação a 2023 (R$ 185,7 bilhões).
>414,86 milhões de pedidos
Logística e PIB Brasileiro:
>12% do PIB nacional
>Movimentação de cerca de R$ 320 bilhões por ano.
Tendências Futuras (Projeções):
>Crescimento de +8% ao ano até 2027
>Expansão de hubs logísticos e plataformas de automação.
Regiões em Destaque:
>A Região Nordeste responde por 16.03% do e-commerce no Brasil (3º no País), seguido do Centro-Oeste em 4º (com 7,98%).
>Primeiro lugar: Região Sudeste, com 55,86% e o Sul com 16,93%
>Aumento de centros de distribuição regionalizados.