A degradação dos açaizais nativos em terras altas do Maranhão, especialmente na região do Alto Turí/Gurupi, começa a dar lugar à recuperação produtiva e ambiental graças à implementação de uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) de manejo sustentável. A iniciativa, liderada pela Embrapa Cocais, busca transformar a exploração do açaí em alternativa de renda para agricultores familiares, ao mesmo tempo em que recupera ecossistemas prejudicados pela exploração predatória.
Com a alta demanda por açaí na entressafra do Pará, os açaizais degradados do Maranhão passaram a ser vistos como uma oportunidade estratégica. Em Amapá do Maranhão, município escolhido para a instalação da URT, agricultores foram capacitados em práticas de manejo, como limpeza de terreno, inventário de espécies e corte seletivo de touceiras.
Recuperação ambiental
Além de recuperar a produtividade dos açaizais, o projeto promoveu ações de restauração ambiental. Com sementes coletadas na área manejada, um viveiro foi construído para produzir cerca de 4 mil mudas de espécies florestais nativas que serão usadas para proteger a borda da área manejada e atender outros produtores interessados em fazer a restauração florestal.
Uma estratégia usada pela equipe foi buscar parcerias institucionais nas esferas municipal e estadual com as equipes técnicas das secretarias municipais de agricultura e o órgão estadual de extensão rural, visando integrar as atividades dessas instituições ao trabalho da implantação da URT, assim como da capacitação e formação de multiplicadores na tecnologia de manejo de açaí nativo.
A escolha da propriedade onde está instalada a URT foi feita de forma participativa, com critérios claros e a participação dos representantes dos municípios. Após a visita técnica aos produtores previamente selecionados pelos municípios, a equipe elaborou uma matriz lógica com critérios e pesos diferentes para ajudar na decisão da escolha do agricultor onde seriam desenvolvidas as atividades de instalação da URT, assim como das capacitações.
“Nosso parceiro, o senhor Lauro Paiva, tem sido referência na divulgação dos trabalhos que estão sendo realizados pela Embrapa na região. Outra estratégia adotada foi a integração e parceria dos pesquisadores das Unidades da Embrapa envolvidas com a tecnologia de manejo de açaí nativo”, conta o pesquisador José Mário Frazão, da Embrapa Cocais.
Agricultores relataram que, se tivessem conhecimento da tecnologia, não teriam transformado áreas de açaizais degradados em pastagem, hábito comum de alguns agricultores. “Essa realidade está mudando e seu Lauro se tornou referência na tecnologia de manejo de açaí de terra firme na região e tem atendido às demandas de outros municípios para orientar a recuperação dessas áreas de açaízais”, acrescenta Frazão.
Com vigência até 2025, a expectativa é que os aprendizados dessa URT sirvam como base para publicações científicas e a replicação da tecnologia em outras regiões. Enquanto isso, o manejo sustentável do açaí se consolida como uma alternativa viável para a geração de renda e conservação ambiental na Amazônia Maranhense.
Em janeiro de 2025, a comunidade do Maracanã receberá uma capacitação voltada para o manejo e boas práticas de processamento de açaí. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Embrapa e o Instituto de Formação, que está auxiliando na seleção dos produtores participantes. O projeto, que envolve um acompanhamento técnico contínuo, já tem uma área definida e busca o engajamento dos agricultores locais. Como parte do processo, será formalizado um acordo com os produtores, destacando a importância do compromisso de longo prazo.