A norma regulatória nacional de energia; Confira entrevista

Diretor da DTA, Maurício de Souza, explica com detalhes as regras e desafios do setor energético brasileiro.

 

Acesse a entrevista abaixo  publicada na edição 214 ou pelo APP da revista NORDESTE clicando aqui

 

 

O Brasil convive com uma cena de repercussão nacional que implica em saber comandar detalhes da vida energética a exigir domínio de como a norma regulatória nacional envolvendo o líder do ONS – A NORDESTE conversou com o doutor Maurício de Souza, para explicar temática complexa para o domínio público.

 

Acompanhem a Entrevista:

 

 

 

Revista NORDESTE: O ONS tem uma atuação essencial no setor elétrico brasileiro, na coordenação da geração e da transmissão de energia em todo o país. Qual o papel específico da Diretoria de TI, Relacionamento com Agentes e Assuntos Regulatórios?

 

Maurício de Souza é o diretor Nacional da DTA, no sistema ONS

 

Maurício de Souza: O papel da Diretoria de TI, Relacionamento com Agentes e Assuntos Regulatórios é essencial, assim como de todas as demais diretorias. Na DTA, como chamamos, atuamos em três vertentes principais.

A primeira abrange processos relacionados à administração dos serviços de transmissão, passando por temas como o processo de gestão do acesso à rede básica, o processo de gestão da integração de agentes ao sistema interligado, a contratação da prestação e do uso dos serviços de transmissão e de serviços ancilares e a apuração mensal de serviços e encargos.

A segunda vertente abrange a concepção da estratégia de evolução tecnológica, o planejamento, implantação e operação dos serviços de tecnologia de informação (TI) e de tecnologia da operação (TO), passando por iniciativas de inovação tecnológica, pelo desenvolvimento e manutenção de novos sistemas, pela gestão da segurança cibernética e pela operação da infraestrutura de informática e telecomunicações.

Por fim, a terceira vertente abrange responsabilidades relativas ao relacionamento com os agentes, à gestão de processos organizacionais e à gestão de assuntos regulatórios e Procedimentos de Rede, tendo uma interlocução direta com o Poder Concedente e agências reguladoras.

 

A Inteligência Artificial e e o setor elétrico

 

NORDESTE:  A Tecnologia da Informação tem passado por grandes transformações em muitos setores. Como a tecnologia está presente no setor elétrico e no ONS em particular? Existem, por exemplo, estudos para o uso de Inteligência Artificial na operação do Sistema Interligado Nacional (SIN)?

 

Maurício de Souza: Sim, o ONS possui projetos de Inteligência Artificial (IA) já com entregas efetivas há alguns anos. Os mais avançados estão relacionados ao que já podemos hoje chamar de IA tradicional, principalmente relacionados à aplicação de soluções de aprendizado de máquina (Machine Learning) e de processamento de linguagem natural (NLP) para suporte a diversos processos, principalmente aqueles com grandes volumes de dados.

 

Tiago, Tecnologia de Inteligência Artificial Generativa do ONS

 

Mais recentemente, já no contexto do uso de IA Generativa, fizemos o lançamento do Tiago – Tecnologia de Inteligência Artificial Generativa do ONS. O Tiago é parte de um projeto que congrega e define toda a jornada tecnológica do Operador até 2030: {onstec}.

A ferramenta está disponível inicialmente apenas internamente, para todas as áreas e funcionários do ONS. Ela foi desenvolvida com as tecnologias mais avançadas de computação em nuvem e explora o potencial dos Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs), integrando-os aos conhecimentos contidos nos documentos do Operador, com foco em proteção de dados, ética, segurança cibernética e transparência.

O Tiago usa como base de pesquisa os 1.700 procedimentos de rede criados pelo ONS. Apesar de atualmente estar restrito aos funcionários a expectativa é que no futuro o Tiago seja utilizado na interação com os demais públicos de relacionamento do Operador como agentes, estudantes e professores universitários, entre outros.

 

Prioridades para o futuro

 

NORDESTE: O Operador elencou os assuntos regulatórios prioritários de 2024. Quais são eles e quais as contribuições que podem trazer ao Setor Elétrico Brasileiro?

 

O diretor de TI, Relacionamentos com Agentes e Assuntos Regulatórios do ONS, Maurício de Souza, apresentou o planejamento do operador nacional para o setor

 

Maurício de Souza: O Operador costuma promover debates importantes para a evolução do arcabouço regulatório, com o objetivo de antecipar questões que farão diferença no futuro da operação do SIN. A proposta do modelo regulatório do ONS é promover, de forma antecipada, discussões integradas com agentes e instituições com o intuito de contribuir para a modernização e sustentabilidade do setor elétrico.

Dessa forma, os assuntos regulatórios prioritários de 2024, para o ONS, são: Recursos Energéticos Distribuídos, Acesso ao Sistema de Transmissão, Serviços Ancilares, Resposta da Demanda, Operação e Preço e Armazenamento de Energia. Esses temas são fundamentais para o desenvolvimento do sistema elétrico nos próximos anos.

Recentemente o Operador realizou um processo competitivo para contratação de Resposta da Demanda na modalidade disponibilidade. O mecanismo foi executado no contexto de sandbox regulatório autorizado pela resolução autorizativa – REA ANEEL nº 12.600/2022, com o objetivo de testar inovações regulatórias em um espaço controlado.

 

Interlocução

 

NORDESTE – Qual a avaliação sobre o certame e quais as vantagens da Resposta da Demanda para o setor?

Maurício de Souza: A Resposta da Demanda é um recurso importante na gestão do SIN. Ela aumenta a flexibilidade e a confiabilidade da operação, que são atributos essenciais em um sistema elétrico como o brasileiro, com grande participação de fontes intermitentes como a geração eólica e solar, além de contribuir para a modicidade tarifária e para a sustentabilidade do setor.

Ter um programa bem estruturado de Resposta da Demanda traz benefícios aos consumidores, ao permitir que grandes consumidores negociem, de forma voluntária, uma redução na sua demanda de carga em determinados horários de maior necessidade do sistema. Essa carga negociada é direcionada para o atendimento do consumo residencial, por exemplo.

O resultado do processo competitivo para contratação de Resposta da Demanda na modalidade disponibilidade, realizado no dia 15 de outubro de 2024, foi muito positivo. O ONScontratou disponibilidade de 93 MW pelo período de 4 horas (18h às 22h) para dias úteis de 1º de novembro de 2024 até 31 de janeiro de 2025. O certame resultou ainda em um deságio máximo de até 14,4% do preço-teto do mecanismo. Já estamos prevendo novas edições do mecanismo em 2025 e 2026.

 

Inovação

 

NORDESTE: Inovação é um tema muito explorado nas organizações e o ONS tem atuação forte neste tema. Como o senhor avalia os esforços de estímulo à inovação que o ONS promove? Quais os resultados já conquistados?

Maurício de Souza: Inovação está em nosso DNA. Estimulamos uma cultura de inovação e apoiamos iniciativas com esse perfil. Nos últimos anos, no contexto do Programa ONS_Inova, alguns projetos relevantes foram desenvolvidos, como o InovAberta, que tem como objetivo fomentar o desenvolvimento de um ecossistema de startups que possam desenvolver soluções para desafios atuais e futuros da operação do sistema interligado nacional como, por exemplo, a expansão da frota de veículos elétricos; e o GamethONS, projeto voltado a estudantes do ensino médio, que foram estimulados a desenvolver um game que simulasse a operação de um sistema elétrico de alta complexidade.

Os resultados são uma grande participação e a entrega de produtos de alta qualidade, muitos deles são, inclusive, incorporados ao dia a dia do ONS.

 

Sinergia

 

NORDESTE: Qual a importância da sinergia do ONS com agentes públicos como a ANEEL e o Ministério de Minas e Energia?

Maurício de Souza: A governança do setor elétrico brasileiro é robusta e muito bem definida. Cada ente tem um papel essencial a cumprir e a coordenação desses trabalhos garante que as demandas da sociedade sejam atendidas de forma segura.

O ONS, dessa forma, trabalha em sintonia com o Ministério de Minas e Energia (MME), que é o formulador das políticas públicas no setor elétrico, e com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Na gestão do SIN, o ONS tem acesso a informações importantes para a expansão do setor elétrico brasileiro, sobre os desafios operacionais mais relevantes e sobre questões complexas como a integração de fontes intermitentes. Esses dados viram subsídios para a definição de políticas públicas e para melhorias na regulação, por exemplo.

 

Nordeste: exportador de energia

 

NORDESTE– Com relação ao Nordeste, qual o papel que a região exerce no setor elétrico brasileiro, considerando que muitos estados nordestinos se destacam na geração eólica e solar?

Maurício de Souza: O Nordeste brasileiro é hoje a região onde se concentra a maior expansão do parque gerador de energia renovável no Brasil. O crescimento da geração, tanto no Brasil, como em diferentes países, se sustentou com o avanço da geração eólica e solar. As melhores condições de vento e irradiação estão no Nordeste, onde estão os principais parques dessas fontes.

Um resultado prático desse crescimento é que o subsistema Nordeste é, hoje, exportador de energia, uma realidade muito diferente dos anos 2000, por exemplo. O Nordeste gera toda a carga que seus estados demandam e ainda há excedente para ser direcionado ao Sudeste/Centro-Oeste.

Esse crescimento da geração no Nordeste leva, por exemplo, a mais investimentos do setor elétrico na região, sendo que nosso maior desafio hoje, como país, é conseguir acelerar o crescimento da economia e, em consequência, da demanda por energia, de modo a absorver essa nova oferta potencial de geração.

Já é importante registrar, nesse contexto, as importantes ampliações no sistema de transmissão que vêm ocorrendo ou sendo planejadas. Em 2023 e 2024, por exemplo, foram realizados quatros leilões de novas linhas de transmissão, com muitos projetos no Nordeste.

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Redacao RNE

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