EXCLUSIVO: A força luz do talento na música e na arquitetura

Fausto Nilo, de valor reconhecido, comemora 80 anos de canções e obras expondo muitos sucessos na MPB

Leia abaixo a entrevista especial publicada na edição 213 da Revista NORDESTE ou se preferir acesse direto do app da NORDESTE CLICANDO AQUI

 

 

Por Walter Santos

 

O mundo cultural do Brasil e também para fora celebra os 80 anos de história e vida do compositor “Top” e arquiteto professoral do Ceará de nome Fausto Nilo, certamente um dos mais festejados compositores da Música Popular Brasileira. Nesta entrevista, ele conta parte dele mesmo.

 

 

Revista NORDESTE – A cena artístico – musical brasileira convive com a repercussão de premiação merecida de Fausto Nilo, o cearense com dimensão além mar pela qualidade de sua produção. Como é chegar aos 80 anos diante de tamanha significação?

Fausto Nilo – É uma grande satisfação ter sido agraciado com essa medalha da União Brasileira dos Compositores (UBC), depois de 52 anos de trabalho no campo das letras de canções. Devo agradecer a esta centena de parceiros que tive na vida criativa e aos intérpretes que gravaram as canções.

 

NORDESTE – Ao longo do tempo, sua trajetória é dividida na construção de belas canções/sucessos, produção de projetos arquitetônicos expressivos  e ensino universitário em Brasilia. Qual a fórmula para dar gradação  temporal visando viver bem com a vida?

FAUSTO NILO – Quando as letras de canções surgiram em minha vida eu já era professor na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília e também da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará. No início isto parecia uma brincadeira, mas terminou virando algo sério. Gravei minha primeira canção, uma parceria com Fagner chamada “Fim do Mundo”, na voz da cantora Marília Medalha. Ao retornar de Brasília para Fortaleza em 1973, reassumi minha função na UFC e intensifiquei meus trabalhos nas canções.

Em 1975 recebi um convite para trabalhar como arquiteto no Metrô de São Paulo onde planejei a Estação Santa Cecília, hoje em funcionamento. Por volta de 1977 me mudei para o Rio de Janeiro onde a canção já me exigia uma presença em proximidade do ambiente de criação. No Rio permaneci por 14 anos, retornei ao Ceará e hoje cuido das duas atividades com igual importância, canções e arquitetura, com destaque para o urbanismo. A fórmula para conviver com estas duas paixões profissionais apareceram com o tempo e até hoje permaneço fiel às duas.

 

NORDESTE – Vamos combinar: boa parte de sua história está vinculada às letras que em vozes diferentes geraram muitos sucessos. Como tudo isso repercutiu na sua condição pessoal?

FAUSTO NILO – Ao passar a ouvir minhas letras de canções com variadíssimas versões e vozes, fui me adaptando aos impactos até me acostumar com isso de uma forma natural. Hoje meu repertório tem umas 400 canções e cerca de 1500 gravações, se consideramos as repetições de registros. Aos poucos essas canções foram embora de mim e se tornaram temas nas diversificadas formas de resultados públicos, rádio, discos, novelas, shows, cinema, enfim, uma diversidade de formas de publicação.

 

Arquitetura e urbanismo

 

“Os projetos de arquitetura em minha vida tiveram também sua evolução apoiada por minha vida e meus novos desafios, seja na canção ou em outros aspectos sensíveis da cultura do meu país”

 

NORDESTE – Para quem não lhe conhece, como você se auto definiria na vida artística e pessoal? De onde você vem, sua formação, inclusive em IBIUNA nos tempos de ditadura e conviver com gente famosa?

FAUSTO NILO – Sou um brasileiro nascidos na velha cidade cearense do sertão do Ceará, Quixeramobim, terra de Antonio Conselheiro. Com 11 anos migrei para Fortaleza para continuar meus estudos, desafio que cumpri por meio do ensino público. Em 1965 ingressei na universidade para ser arquiteto e urbanista.

A partir daí compreendi que eu tinha a vivência da vida popular e ingressaria, a partir daí, num âmbito intelectualmente mais complicado, aderi ao movimento estudantil contra a ditadura de então, sofri muito por meus amigos nos momentos mais duros, cheguei ao final do meu curso, busquei trabalhar por uma arquitetura e um urbanismo que viessem a influir nas melhorias de vida da maioria dos brasileiros, tudo isto com vistas a uma cidade mais justa e acessível a todos.

 

Parcerias

 

“Minha parceria com Moraes Moreira foi um acontecimento importante no momento em que ampliei meu número de parceiros para um espaço além do grupo de conterrâneos”.

 

NORDESTE – Sua existência a partir de Fortaleza lhe fez próximo de ambientes telúricos como Mucuripe e até lembranças fortes com Fagner. Como sempre se deu essa correlação artística e pessoal?

FAUSTO NILO – Nós éramos parte de um grupo de jovens envolvidos no ambiente que descrevi na resposta acima. Aos mais velhos do grupo, onde se destacavam Augusto Pontes, Rodger, Petrúcio Maia e eu, se associaram Fagner, Belchior, Ricardo Bezerra, Ednardo e Amelinha. Entretanto eu demorei muito a fazer letras, e mesmo assim eles me incluíam sempre no movimento, mas eu não escrevia letras. Só me iniciei nas letras de canções atendendo a pedido do Fagner em 1972. Embora fosse meu contemporâneo e amigo desde o Liceu do Ceará, no tempo de meu ginásio, Belchior somente se associou ao grupo no período de chegada da parte mais jovem.

 

NORDESTE – A história prova que você teve grandes parcerias, em especial com o baiano Moraes Moreira construindo belas canções e sucessos. Como definir essa fase?

FAUSTO NILO – Minha parceria com Moraes Moreira foi um acontecimento importante no momento em que ampliei meu número de parceiros para um espaço além do grupo de conterrâneos. Esta abertura me fez bem por conta de firmar meu estilo com diversidade de parceiros como vieram a seguir alguns como Geraldo Azevedo, Robertinho de Recife e inúmeros parceiros que me proporcionaram sucessos marcantes, muitas vezes com uma única música, como Lulu Santos, Roberto de Carvalho, Chico Buarque, entre inúmeros. Moraes foi um caso muito especial e com ele cheguei a aprender a fazer letras de canções de carnaval. A música de Moraes me provocou a dinamizar mais o meu estilo e ajustá-lo ao universo do grande público popular sem que com isso tenhamos feito qualquer tipo de concessão.

 

NORDESTE – Nesse contexto de tantas inovações, como os projetos de arquitetura tiveram espaço para serem reconhecidos pelo valor e talento?

FAUSTO NILO – Os projetos de arquitetura em minha vida tiveram também sua evolução apoiada por minha vida e meus novos desafios, seja na canção ou em outros aspectos sensíveis da cultura do meu país. Isto me levou a aprender como conviver com esta duplicidade de tipos de desafios criativos, e tornou minha vida artística mais intensa, o que foi o melhor que podia ter acontecido.

Trabalho intensamente nas duas áreas de criação e agradeço à paixão que tenho por elas, despertar sempre com um novo desafio criativo. O urbanismo e a arquitetura se manifestam pela antecipações da visão espacial relacionada com tempo, história, tendências, sociedade, economia, finanças, mas que no fundo se relacionam sempre com pessoas, como as canções e por sorte e perseverança eu consegui harmonizá-las na minha vida e o povo compreendeu estas semânticas especiais de cada uma atividade, felizmente.

 

NORDESTE – Registre-se seu belo álbum autoral com você interpretando todas as belas canções. De que forma vc define e encara essa fase?

FAUSTO NILO – O reconhecimento dos valores expressos a partir de meu talento na arquitetura e nas canções foi alcançado com muito trabalho e autonomia com respeito a influências de forças externas de grupos de interesse. Sempre me interessei mais pelo interesse do cidadão anônimo e nunca acreditei que houvesse um caminho das pedras para alcançar o êxito em meus trabalhos.

 

NORDESTE – Como seu Brasilia e sua condição professoral?

FAUSTO NILO – Minha atividade como letrista foi baseada em grande parte pelo interesse que tive por ouvir canções, desde aquelas cantadas por minha mãe e meu pai, pelas gravações do meu tempo de infância, pela canção regional nordestina, pelos sambistas, pela bossa nova, pelo jazz, pela ópera, e enfim, pela música como um todo.

Por tanta música em minha vida, mesmo não sabendo tocar nenhum instrumento, cantei muito em mesas de bares no período da juventude, mas nunca tive desejo de ter uma vida profissional de intérprete e principalmente por ter tantos excelentes a meus dispor. Hoje faço shows ocasionais que têm o caráter de recital de um velho poeta de canções e com eles encontro um público que se interessa por este resultado, felizmente.

 

NORDESTE -Por fim, como você analisa o nível de gestão do Ceará e do Brasil em meio a um mundo de confrontos ideológicos movidos por mentiras?

FAUSTO NILO – Sou um cidadão com sensibilidade para elaborar constantes idealizações em minhas letras e no urbanismo, atividades que têm intensa ligação com a vida social dos humanos.

Com base nisto posso afirmar que completei 80 anos em abril, e cheguei à conclusão que há pelo menos 65 anos sonho como o progresso social, ambiental e político do meu país e do Ceará. Só resta dizer que continuo me sentindo uma pessoa com grande expectativa, ainda, em ver os brasileiros com vida justa e dignidade.

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Walter Santos

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