Fortaleza vai sediar em 2025, a Oil & Gas Summit – Margem Equatorial, de 19 a 21 de março, com objetivo de debater o mercado exponencial da área situada na faixa litorânea que se estende do Rio Grande do Norte ao Amapá
Matéria publicada na edição 212, setembro de 2024, na revista NORDESTE. Leia abaixo ou se preferir acesse o APP da NORDESTE clicando aqui
Por Luciana Leão
A exploração de petróleo e gás da Margem Equatorial – extensa faixa litorânea que se estende do Rio Grande do Norte ao Amapá e engloba as bacias hidrográficas da foz do Rio Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar- é vista como a nova fronteira no país pelo mercado e, em especial, pela Petrobras e demais players, apesar de ser contraditório quando o mundo exige impor uma transição energética com mais investimentos em energias limpas.
A região possui grandes reservas de petróleo no poço exploratório Anhangá, na divisa entre o Ceará e o Rio Grande do Norte. A reserva foi localizada em uma profundidade de 2.196 metros, com cerca de 190 km de Fortaleza e 250 km de Natal. De acordo com estudos da Petrobras, as perspectivas de volume da Margem Equatorial apontam para a presença de cerca de 16 bilhões de barris de petróleo.
Porém, um dos principais desafios é o impacto ambiental, já que a região abriga áreas sensíveis, como a foz do rio Amazonas e recifes de coral de água doce, além de uma biodiversidade elevada e ecossistemas marinhos e costeiros fundamentais para a saúde global. Sua exploração remete debates frente aos compromissos internacionais, como o Acordo de Paris, que busca reduzir a dependência de combustíveis fósseis e proteger ecossistemas críticos. Mesmo assim, sua exploração requer um debate mais profundo, envolvendo a sociedade e potenciais investidores.
Relatório Anual de Exploração 2023, da Agência Nacional de Petróleo,Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) publicado no último dia 2 de setembro prevê R$ 18,31 bilhões de investimentos na exploração de petróleo e gás entre 2024 e 2027 sendo que, no período, o maior volume deve ser aportado ainda este ano pelas petroleiras: R$ 9,97 bilhões, de acordo com estimativas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Em 2025, a previsão é de R$ 7,64 bilhões, enquanto em 2026 e 2027, o montante estimado é de R$ 701 milhões.Nas previsões sobre a distribuição dos investimentos por atividades entre 2024 e 2027, 88% serão concentrados na perfuração de poços (R$ 16,04 bilhões). Os 12% restantes (R$ 2,27 bilhões) serão distribuídos entre teste de poço (8%), levantamento geofísico exclusivo (3%) e levantamento geofísico não exclusivo (1%).
Para a agência, o volume de recursos previstos na Margem Equatorial evidencia o interesse das operadoras na área, apesar das “dificuldades associadas” ao licenciamento ambiental.
“Para que esse investimento seja efetivamente realizado no curto prazo, é necessário que os entraves à exploração da Margem Equatorial sejam ultrapassados antes do término da fase de exploração desses contratos”, afirmou à ANP no relatório. A reguladora projeta, nos próximos quatro anos, a perfuração de oito poços na bacia da foz do rio Amazonas, no Amapá; sete na bacia de Santos; e cinco na bacia de Campos.
A Margem Equatorial tem 34 blocos sob concessão, ainda em fase de exploração,dos quais nove ficam na bacia da Foz do Amazonas. Outros 5 estão na bacia do Pará – Maranhão, 11 na bacia de Barreirinhas e 9 na bacia Potiguar. Nessa última bacia, a Petrobras obteve, em 2023, licença do Ibama para perfurar.
Nesse contexto, com foco no mercado exponencial da Margem Equatorial, a escolha do Nordeste para sediar a Oil & Gas Summit – Margem Equatorial não é por acaso. Estima-se que a região se consolide como um importante polo de desenvolvimento do setor, em virtude do descobrimento de reservas petrolíferas em águas ultraprofundas da Bacia Potiguar.
Além de discussões sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial, a Oil & Gas Summit também abordará assuntos relacionados às energias renováveis, como o Hidrogênio Verde (H2V), um combustível atualmente considerado o pilar da transformação energética mundial.
A NORDESTE antecipa o debate sobre a temática do encontro Internacional e conversou com o diretor geral da Oil & Gas Summit-Margem Equatorial, Carlos Logulo.
Revista NORDESTE – Como o senhor analisa os benefícios para a região com os investimentos na Margem Equatorial, caso se concretizem?
CARLOS LOGULO – Os benefícios e os volumes e recursos a serem investidos serão intensos, dado que a área a ser explorada ainda não dispõe de infraestrutura, criando assim inúmeras oportunidades em toda a economia da região. Devemos começar considerando que a Petrobras já tem no seu orçamento o valor de US$ 3,8 bilhões somente para exploração da Margem Equatorial. Segundo detalhe, não menos importante, é que na área de exploração – costa litorânea do Rio Grande do Norte até o Amapá – os volumes de recursos são mais intensos.
Contudo, devemos lembrar que por conta da não licença do IBAMA para algumas áreas, essa estimativa sofrerá incrementos significativos no decorrer, e após, a liberação das licenças de operação. Dessa forma, conforme ocorrerem as liberações ambientais para os projetos, esse montante será muito maior, impulsionando também o aporte de recursos por diversas empresas relacionadas ao segmento de petróleo e gás.
Notadamente numa área ainda virgem de suporte, onde terão que ser criados e aproveitados toda a cadeia econômica. Outro ponto a se considerar que o Petróleo e Gás é uma atividade da economia que tem um efeito gerador intensivo de absorção de mão de obra extraordinário, impactando toda a cadeia, não só de Petróleo e Gás, como a economia local (hotéis, restaurantes, logística, material de EPI, empresas de treinamento etc) e até investidores de outros segmentos.
NORDESTE – Existem estudos e projetos em andamento, que comprovam o potencial econômico da Margem Equatorial?
CARLOS LOGULO – Na Margem Equatorial a reserva estimada de petróleo e gás, feita através de estudos sérios e fidedignos, nos apresenta uma estimativa de reservas em, aproximadamente, de 15 a 17 bilhões de barris de petróleo.
Esse montante não é importante apenas pelos números em si, mas porque demonstram que o futuro energético do Brasil tem uma excelente oportunidade de dar um salto de produção na exploração petrolífera e de gás. Isso pode ajudar a diminuir a dependência de importações e impulsionar a economia do país.
NORDESTE– Quais oportunidades o país poderá perder, caso não invista na exploração de petróleo na região?
CARLOS LOGULO – Inúmeras oportunidades. A mais óbvia é a não autossuficiência nesta matriz energética. Somente com os projetos petrolíferos em implantação, estima-se que a produção nacional vai entrar em declínio a partir de 2032 e o país poderá voltar a ser importador líquido de petróleo na década de 2040.
Em segundo lugar, deixará de arrecadar bilhões na distribuição de royalties, aos estados e municípios, numa região bastante carente de recursos. Além disso, deixará de impulsionar toda a cadeia da economia, indústria, comércio e serviços, perdendo a chance de gerar mais emprego e renda. Por fim, não iremos aproveitar a chance de ter um resultado bastante favorável na Balança Comercial, com a exportação do excedente de petróleo.
NORDESTE- Em sua análise, é possível conciliar a utilização de combustíveis fósseis com a crescente adesão às energias renováveis? Como se daria essa combinação em meio às metas de descarbonização?
CARLOS LOGULO – Não só é possível como haverá essa conciliação. O mote do Oil & Gas Summit – Margem Equatorial é exatamente mostrar a necessidade de se harmonizar as duas matrizes energéticas até uma descarbonização completa.
Óbvio, que isso não se dará num curto espaço de tempo, tendo em vista que hoje não temos energias renováveis suficientes que possam suprir a demanda nacional e mundial, importando dizer que a dependência do petróleo ainda deve perdurar por alguns anos.
NORDESTE-Existe alguma estimativa em termos de crescimento e geração de empregos para os Estados beneficiados?
CARLOS LOGULO – Uma perspectiva de um incremento de cerca de 300 mil empregos diretos e indiretos, nos Estados diretamente relacionados à Margem Equatorial.
NORDESTE– Quais principais objetivos e temas do Oil&Gas Summit – Margem Equatorial, que será realizado em Fortaleza, em 2025? Qual será o formato do evento?
CARLOS LOGULO – O evento tem o desafio de mostrar a todos os atores e ao público em geral a necessidade de se conciliar as diversas matrizes energéticas, mostrando que a transição é um processo, não uma ruptura ou a opção entre um ou outro segmento de fontes de energia.
O formato, no entanto, reservará dois espaços no Centro de Eventos de Fortaleza: um será destinado à exposição de empresas de petróleo e gás, e o outro, para as chamadas energias limpas e renováveis.
A ligação de um espaço – Instagramável – ao outro se dará através de um túnel em LED, que terá imagens dos princípios da criação da energia, especialmente do petróleo e gás, com painéis retratando a evolução dessas fontes até o surgimento das outras fontes – éolica, solar, hidrogênio verde e outras tantas.
Paralelo à área de exposição, teremos palestras e trabalhos técnicos, organizados pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com renomados especialistas e experts nas respectivas áreas.