Saiba como o renomado produtor Carlos Alberto Sion se credencia renovado na gestão de muitos lançamentos, artistas e projetos atuais da Música Brasileira há tempo sob influência da força digital
Entrevista publicada na edição 210, da NORDESTE. Confira no app clicando aqui ou se preferir leia na íntegra, abaixo:
Por Walter Santos
No adágio popular nacional há uma expressão que diz: cada um dá o que tem. Por essa premissa, a cena artístico-cultural-musical e midiática do Brasil há sempre de fazer jús à História extraordinária do pensador, produtor e inovador Carlos Alberto Sion, cada vez mais renovado em tantas performances. Ele, na prática, é responsável pela produção e lançamentos de muitos artistas também renovados e é sobre sua história e o futuro que ele concedeu esta ENTREVISTA EXCLUSIVA. Leiamos:
Revista NORDESTE – O cenário da música global, que não só no Brasil, vive sob a influência do Streaming. Como, na sua opinião, sobreviver com identidade diferenciada e com estilo diferenciado diante desse novo conceito musical?
CARLOS ALBERTO SION – Falarei sobre o Brasil, pois somos diferentes e únicos. Necessitamos dar prioridade e atenção redobrada na formação das crianças e jovens. Assim como atualizar os profissionais e as “autoridades” que atuam na área de Educação e Cultura em relação a esta nova onda voraz que ainda é a internet sem fronteiras.
NORDESTE – Por que estrategicamente você traz o elemento da formação intelectual das novas gerações num contexto diante do mercado?
CARLOS ALBERTO SION – Há décadas já ressaltamos que somente através da educação de base de qualidade nas escolas e com as universidades oferecendo um ensino plural vamos despertar nos alunos interesses nas áreas diversas. É a maneira de levar essas gerações a refletir e buscar cada vez mais informações nas salas de aula, em jornais, revistas, bibliotecas, além dos diversos meios de comunicação, sites oficias e plataformas autenticadas. Lembrando que, hoje, em grande parte, já temos muitas opções gratuitas, que irão certamente apontar oportunidades para desenvolver potencialidades e aptidões.
NORDESTE – Que projeções poderemos fazer diante de tamanho investimento?
CARLOS ALBERTO SION – Em um futuro próximo, independentemente de idade e nível sócio-cultural, esses jovens poderão trabalhar e atuar nos diversos novos campos na área de educação, cultura e comunicação, com uma formação sólida e uma identidade própria.
NORDESTE – Já há em curso diversos artistas denunciando que no mercado muitos usam a cultura de monetizar para elevar audiência. Qual sua opinião e onde vamos chegar?
CARLOS ALBERTO SION – As empresas produtoras de conteúdo e os trabalhadores da área cultural necessitam agir com mais rapidez, como fazem os europeus, os japoneses e os americanos, buscando um formato de negócio justo e cobrando imediatamente direitos reais para utilização de conteúdos produzidos no Brasil. Dessa forma, as plataformas e os aplicativos autorizados a operar no Brasil devem remunerar todos pelo uso desses conteúdos, como já está sendo legislado e praticado na Europa, no Japão e nos EUA.
A urgência da regulação
NORDESTE – Onde resta ação política – parlamentar nas instâncias legislativas para regularizar de vez essa onda?
CARLOS ALBERTO SION – Também se torna urgente uma ação e maior participação de nossos representantes no Senado e na Câmara bem como nas demais Casas Legislativas. E levar informações qualificadas dos diversos setores da cadeia produtiva aos nossos eméritos juristas do STF/TST para que possam trabalhar com mais vigor a favor desses setores ainda carentes.
Pesquisas comprovam que é enorme o contingente de trabalhadores na área cultural nos seus diversos segmentos, gerando recursos comparáveis aos de outras áreas, como o agronegócio e importantes indústrias atuantes no país. Se a indústria cultural continua criando e produzindo sem amparo mais amplo, imagine então se houver um impulso maior de nossas autoridades.
NORDESTE – A história prova que você sobrevive como referência da indústria musical desde quando dos anos 70 em diante poucos eram os selecionados para brilhar. Qual sua análise contextual sobre o fim do predomínio da indústria discográfica nacional e internacional?
CARLOS ALBERTO SION – A indústria fonográfica, de modo geral, passa por intensa transformação devido ao fator que ocorreu no final dos anos 1990 com ida à bolsa de valores. Grandes empresas antes familiares ou de longa tradição foram seduzidas pelo mercado de ações e a jogatina que se transformou esse negócio levando à quebra de algumas destas, enquanto outras foram obrigadas a demitir ou realizar fusões para que pudessem sobreviver à globalização e à era da Internet e suas plataformas.
Internet e Redes Sociais
NORDESTE – Mas se faz fundamental inserir no contexto os efeitos da Internet e as Redes Sociais, não?
CARLOS ALBERTO SION – O fenômeno das redes sociais e de diversas plataformas acabou gerando um conflito sobre o conteúdo cultural. Com o sucesso rápido devido ao uso de robôs e grandes investimentos na banalidade, com dezenas de milhões de gravações de todos os continentes, não existe mais limites nem fronteiras. Muitas músicas e artistas de diversos países estão atrelados a ações de marketing com produtos diversos.
NORDESTE – Se possível, contextualize o caso do Brasil…
CARLOS ALBERTO SION – O Brasil, com o tamanho de um Continente, sempre teve produção musical com uma pluralidade cultural e artística. Agora, esse fenômeno descontrolado busca homogeneizar e direcionar o marketing de suas empresas para o descartável e subgêneros musicais.
Podemos observar tanto no Brasil quanto no exterior que já existe um contingente enorme de consumidores carentes em ouvir e ver seus artistas em destaque. No Brasil, a indústria musical esquece que existem em torno de 50 milhões de potenciais consumidores, gente que não consome com a mesma intensidade ou não é atendida pois nem sempre está conectada ou utiliza os atuais meios de comunicação e difusão.
NORDESTE – Exemplo efetivo?
CARLOS ALBERTO SION – Aproveito para lembrar que as editoras tinham mais autonomia e produziam investindo em novos compositores. Hoje, porém, ficaram numa posição mais confortável, mantendo seus feudos protegidos pelas leis.
Também dependem das gravadoras multinacionais, estas, comandadas por seus acionistas. Mesmo assim sofrem com a pirataria, pois a legislação no Brasil é diferente para lançamentos e exploração de seus acervos em diversos formatos, seja LP, CD ou Digital. As editoras deveriam investir mais no mercado musical e audiovisual brasileiro, como fazem suas matrizes no exterior.
NORDESTE – Qual a realidade internacional enquanto produção e mercado?
CARLOS ALBERTO SION – Os mercados do Japão, Coreia, EUA e Europa continuam fabricando CDs, LPs de vinil e até cassetes! Por aqui, não percebem que milhões de pessoas ainda têm aparelhos de CDs, enquanto a nova geração tem comprado toca-discos, dando novo fôlego ao vinil.
NORDESTE – Como é conviver com um artista brotado de uma estrutura musical medíocre mas fazendo sucesso sem um grande produtor por trás. Como se chama isso?
CARLOS ALBERTO SION – É o fenômeno do compositor ou cantor de uma música só, que é o que mais acontece. Muitas vezes com a ajuda de um robô pago por algum patrocínio ou via tik tok. O deboche e a banalidade existem desde sempre, porém, agora, estão super presentes na cena musical em todo o mundo. Triste constatar que, nesse século, regredimos para dezenas de artistas de uma música só!
Mercado brasileiro
NORDESTE – Mercadologicamente qual o tamanho do mercado brasileiro levando em conta as estruturas convencionais e as demais dentro da informalidade?
CARLOS ALBERTO SION – Até os anos 1980 e 90, o mercado no Brasil foi plural em sua produção musical, com diversas empresas nacionais fortes e atuantes em vários segmentos. Incluindo, entre outras, gravadoras como Continental, Copacabana, Todamerica, Rozemblit, Imperial , Odeon, Sinter e Som Livre, que, aos poucos, foram sendo vendidas para as multinacionais.
NORDESTE – Na prática, quais os efeitos?
CARLOS ALBERTO SION – Uma tristeza para muitos. Enquanto isso, o governo parece não entender que esse é um verdadeiro e “real business”. Setor que, ao longo dos anos, gerou milhares de empregos, faturamento em venda de discos em todos os formatos, além de editoras que ganhavam muito bem. Fomos perdendo essa luta nas ultimas décadas, em parte, devido à pirataria e também à falta de pagamento por parte de muitos veículos de comunicação dos direitos de execução pública. Todos perdem, autores, artistas, produtores, gravadoras e editoras.
NORDESTE – Como tratar a realidade da exposição continuada dos artistas em contexto onde o “jabá eletrônico” impera?
CARLOS ALBERTO SION – Para piorar, faltam redes de TVs e rádios públicas, como existem nos EUA e em muitos países europeus. Redes que são alternativas para formação de plateia, difusão cultural e informação, permitindo a promoção de toda uma produção regional que está isolada nos diversos cantos do país.
NORDESTE – Para quem, desavisado ou desavisada, não conhecem da história fantástica no mercado discográfica, quem é Carlos Alberto Sion?
CARLOS ALBERTO SION – Um apaixonado por nossa música em seus diversos gêneros ou estilos. Sempre atento às intensas manifestações culturais que ocorrem no Brasil, mas que muitos não conseguem valorizar. Lutando também contra o preconceito e o etarismo que existem ainda no pais para continuar trabalhando após 50 anos de atividade.
NORDESTE – Como fica a memória temporal desse acervo tão rico e aparentemente não tratado à altura?
CARLOS ALBERTO SION – Aproveito para lembrar a todos que, com a chegada do CD ao Brasil, no final dos anos 1980 e continuando através dos anos 90, havia uma necessidade de preservação visando o futuro dos acervos.
Propusemos às grandes empresas da indústria fonográfica digitalizar seus acervos. Algo que, aliás, conseguimos em grande parte. No entanto, esse enorme conteúdo já digitalizado, uma potencial fonte de recursos, não é utilizado efetivamente pelas empresas. Muitos artistas que marcaram décadas e continuam em atividade não recebem a atenção e a promoção que merecem. Dessa forma, nosso legado ficará nos museus.
NORDESTE – Qual sua opinião final sobre o nível da música brasileira em duas diversas vertentes?
CARLOS ALBERTO SION – Minha modesta contribuição sem um sistema público de rádio e televisão, como exemplo PBS americana, RTV francesa ou mesmo a BBC, fica difícil a difusão cultural, intensa que e produzida nos quatro cantos do Brasil.
NORDESTE – qual o papel dos artistas e influências nordestinas?
CARLOS ALBERTO SION – Os artistas do Brasil, nascidos no Nordeste, trazem influências das mais diversas na música e na poesia. Seja dos povos originários, dos negros trazido à força da África ou dos ibéricos, da Provence (França), das Cirandas dos marranos e cristãos novos. Enfim, um caldeirão de ritmos e sons que se espalhou aos mais diversos cantos do Brasil, uma Música Popular Plural.