Por: Sara Barreto
Fotos: Divulgação
Reunir recortes, sobras e rastros para criar novas imagens — e, com elas, novas formas de olhar o mundo. É nesse movimento que atuam os coletivos brasilienses Iló (Colagens Antropo(i)lógicas) e deColagem, que vêm se consolidando como espaços de experimentação, afeto e pensamento crítico a partir da linguagem da colagem.
A colagem, tradicionalmente associada aos cubistas Picasso e Braque, ganha nessas mãos um novo contorno: é democrática, acessível, feita com materiais simples e cotidianos. Mais do que estética, trata-se de gesto político, como explica a antropóloga Leila Lofego, que integra ambos os grupos:
“A colagem não exige habilidade técnica ou materiais caros. Ela nasce de sobras e subjetividades, transformando o que foi descartado em narrativa.”

Do encontro à criação
O ponto de encontro dos coletivos foi o Vilarejo 21, espaço de arte e cultura no Altiplano Leste. Ali nasceu o deColagem, em 2022, com uma proposta aberta: integrar artistas de diversas origens, formações e vivências. A cada projeto, novas inscrições são abertas — fortalecendo o caráter inclusivo e rotativo da iniciativa.
No mesmo espaço, também em 2022, nasceu o coletivo Iló, formado por oito antropólogas egressas da Universidade de Brasília que, 30 anos depois, se reencontraram com a vontade de criar juntas. Da união da antropologia com a linguagem visual, surgiram colagens densas em crítica, afeto e reflexão sobre os tempos que vivemos. Diferentemente do deColagem, o Iló é um grupo fechado — mas em constante produção e diálogo.
Publicação coletiva
Como parte desse processo, surge agora o livro Coletânea de Colagens, reunindo 104 obras de 26 artistas dos dois coletivos. O lançamento aconteceu no dia 5 de abril, no Vilarejo 21, e marcou mais um passo na valorização da colagem como linguagem artística no Brasil.
A coletânea apresenta imagens que atravessam temas como infância, natureza e teatro. “É uma pequena amostra da potência dessa arte. E uma forma de dar visibilidade a uma produção que muitas vezes é marginalizada no circuito das artes visuais”, afirma Leila.

Mais do que um livro, um processo coletivo
Os nomes que assinam a coletânea refletem a diversidade e força dos coletivos: Adriana Mariz, Alice Godoy Lopes, Andréia de Castro, anna monteiro, Aristóteles Rodrigues, Christine de Alencar Chaves, Daniel Ardisson-Araújo, Eduardo Moraes, Fabiana Barbosa, Flavia de Oliveira, Flaviana Medeiros, Iuiara Pâmela, John Rocha, Lara Santos de Amorim, Leila Lofego, Lilian Castro, Luciana Cândida, Luiza Paiva, Maisa Brandão Ferreira, Márcia Maria Gramkow, Nei Clara de Lima, Patrícia de Mendonça Rodrigues, Rita de Almeida Castro, Tamara Dias, Viviane Gama e Luísa Teixeira (Zero).