A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) iniciou tratativas com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) para viabilizar um aporte de 100 milhões de euros — cerca de R$ 630 milhões — no Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE). A operação, ainda em fase de negociação, deve ser concluída até outubro de 2025, com liberação dos recursos prevista para o início de 2026.
A rodada de conversas ocorreu nesta quarta-feira (9), na sede da autarquia, em Recife, e marcou um novo momento de aproximação com a agência internacional. O encontro também reforça o interesse francês em ampliar sua atuação na América Latina e, especialmente, no Brasil, com foco no Nordeste.
“Estamos falando de uma parceria bilateral de quem acredita no potencial do Nordeste. Aqui há um conjunto expressivo de oportunidades. O Nordeste vive um momento de reposicionamento promovido pelo Governo Federal, que entende a Região como um território estratégico. Isso nos leva a identificar o que há de interesse comum entre Sudene e AFD para contribuições o desenvolvimento regional”, afirmou o superintendente Danilo Cabral, que lidera a articulação junto à AFD.
A AFD, que investiu 13 bilhões de euros em 2023 — 2,2 bilhões voltados à América Latina — mantém no Brasil parcerias em áreas como mobilidade, saneamento, saúde e urbanismo de baixo carbono. No Nordeste, a agência já financia projetos no Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Bahia, além de manter cooperação com o Banco do Nordeste para reforço do FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste).
Durante a reunião, representantes da autarquia brasileira defenderam a importância da integração entre os fundos internacionais e os instrumentos regionais de desenvolvimento. O diretor de Fundos e Atração de Investimentos da Sudene, Heitor Freire, ressaltou: “Somos um órgão que escuta, dialoga e oferece instrumentos para transformar potencial em realidade”.
A abordagem técnica e baseada em evidências também foi destacada por Wandemberg Almeida, coordenador de fundos de desenvolvimento da Sudene. Segundo ele, “a Sudene é plural e atuamos fortemente com base em dados e estudos. Atuar desta maneira reforça o fato de que a economia mudou e que precisamos acompanhar esse movimento, direcionando recursos para projetos que dialogam com essa nova agenda de sustentabilidade”.
Já pela AFD, o especialista financeiro Alexandro Barreneche Garcia celebrou a convergência de propósitos entre as instituições: “Estamos testemunhando a consolidação de um novo momento do desenvolvimento regional no Brasil, alinhados às estratégias que priorizam investimentos focados no Nordeste”.
Além da possível parceria com os franceses, a Sudene também negocia outros aportes para o FDNE. Segundo Danilo Cabral, as tratativas com o New Development Bank (NDB), conhecido como Banco dos Brics, estão em fase final, com expectativa de assinatura de contrato nos próximos dias. O aporte, nesse caso, seria de 300 milhões de dólares, aproximadamente R$ 1,7 bilhão, a serem destinados a projetos nos nove estados do Nordeste e também nas regiões do norte de Minas Gerais e do Espírito Santo.
A reunião desta quarta também contou com a presença dos diretores da Sudene Álvaro Ribeiro (Planejamento), José Lindoso (Administração), além de técnicos da equipe de fundos e do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, representado por Gessé Santana Borges.
Se concretizada, a parceria com a AFD será a primeira capitalização internacional do FDNE em quase uma década. Desde 2016, os fundos regionais não recebem aportes externos para expansão da sua capacidade de financiamento. A iniciativa abre caminho para uma nova estratégia de articulação internacional da política regional brasileira, mirando o desenvolvimento sustentável e a transformação produtiva do Nordeste.