Por Paulo Galvão Júnior *
Coluna Papo de Economia
Prezado(a) leitor(a) da Revista NORDESTE, nos últimos dias, a guerra comercial dos EUA contra o resto do mundo tem dominado os debates nacionais e internacionais nas esferas políticas, diplomáticas, comerciais e econômicas.
Sob a liderança do presidente Donald Trump, os EUA iniciaram uma série de medidas protecionistas, impondo tarifas recíprocas sobre produtos importados de 185 países. Embora o objetivo declarado fosse fortalecer a economia americana, a realidade é que o protecionismo tem gerado impactos negativos não apenas para os países diretamente afetados, mas também para a própria economia dos EUA, a maior do mundo.
O Liberation Day começou em 2 de abril de 2025, nos jardins da Casa Branca, em Washington. Nesse dia, o presidente dos EUA, o republicano Donald Trump, lançou uma forte ofensiva comercial, impondo tarifas sobre seus principais parceiros comerciais. A China, por exemplo, foi alvo de uma tarifa recíproca de 34%, o Japão de 24%, a Alemanha de 20%, e a Coreia do Sul de 25%. O México e o Canadá, os maiores parceiros comerciais e vizinhos dos EUA, também foram impactados por tarifas de 25% sobre a importação de automóveis.
De forma semelhante, Reino Unido, Brasil, Singapura, Chile, Austrália, Turquia e Colômbia, entre outras nações desenvolvidas e emergentes foram submetidas a uma tarifa mínima de 10% sobre os produtos importados. Logo, os produtos do agronegócio brasileiro (etanol, suco de laranja concentrado e congelado, café, açúcar, celulose, carne bovina, cachaça, entre outros produtos) ficaram mais caros para os consumidores nos 50 estados americanos.
Presidente Trump, ao adotar uma postura de America First, justificou essas tarifas como necessárias para corrigir déficits comerciais sucessivos, alegando que vários países estavam se beneficiando de acordos desfavoráveis aos EUA. No entanto, essa estratégia nacionalista acabou abalando os mercados internacionais e criando um cenário de incertezas globais.
A China, a segunda maior economia do mundo e a segunda nação mais populosa do planeta, foi um dos alvos mais visíveis do Liberation Day, com uma tarifa recíproca de 34%. Contudo, a resposta chinesa não demorou a chegar. A partir de 10 de abril, o governo chinês já retaliou com tarifas recíprocas de 34% sobre produtos Made in USA. Esse jogo de retaliações tornou-se um dos elementos centrais da guerra comercial mais ampla em plena Quarta Revolução Industrial.
Em 1 de fevereiro de 2025, o governo Trump impôs tarifas de 25% sobre diversos produtos canadenses, como aço e alumínio, e, posteriormente, as mesmas tarifas de 25% também passaram a incidir sobre os automóveis. A economia canadense tem sofrido as consequências dessas tarifas protecionistas, impactando negativamente as empresas e os trabalhadores que dependem da exportação para o mercado de 340,1 milhões de consumidores.
Em 04 de março de 2025, o governo canadense retaliou os EUA, anunciando tarifas retaliatórias de 25% sobre diversos produtos americanos e esse ciclo de retaliações tem levado a uma instabilidade econômica global, com distúrbios nas cadeias de suprimentos. A guerra comercial não afeta apenas os países envolvidos, mas gera efeitos em cadeia que reverberam por todo o comércio global, distorcendo mercados de insumos e bens e exigindo das empresas e dos trabalhadores a adaptação a um cenário internacional completamente imprevisível.
O Canadá, uma nação desenvolvida e membro do G7, G20, OCDE, USMCA e Commonwealth, possui uma economia moderna, diversificada e altamente integrada ao sistema de comércio global, liderado pela OMC. Sua dependência do comércio com os EUA torna o país mais vulnerável às consequências dessa guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump.
Produtos como petróleo e gás natural já estão sujeitos a tarifas de 10%, enquanto aviões e outros bens industrializados enfrentam tarifas de 25%. Além disso, o setor agropecuário também sofre dificuldades para acessar o mercado americano, com tarifas de 25%, agravando ainda mais os desafios econômicos do segundo maior país do mundo e a nona maior economia do planeta.
Produtos importados para a terceira nação mais populosa da Terra, como trigo e milho canadenses, abacates e tomates mexicanos, smartphones e notebooks chineses, café e açúcar brasileiros, eletrônicos e carros japoneses, além de sapatos e vinhos italianos, ao se tornarem mais caros, afetam diretamente a demanda dos consumidores americanos e alteram as dinâmicas de consumo diariamente. Esse impacto econômico é ampliado por outros fatores, como as flutuações cambiais e o aumento nos custos de transporte e armazenagem.
A guerra comercial dos EUA contra o resto do mundo reflete o movimento Make America Great Again (MAGA), cujos objetivos são proteger as empresas estadunidenses, tornar os produtos americanos mais competitivos e fortalecer o dólar norte-americano.
No entanto, paradoxalmente, as tarifas protecionistas do MAGA acabaram gerando distúrbios comerciais que prejudicaram não apenas a economia dos EUA, mas também afetaram economias desenvolvidas, como a da Suíça (31%), das 27 nações da União Europeia (20%) e de Israel (17%). Além disso, diversas economias emergentes, como a da Indonésia (32%), Paquistão (29%), Índia (26%), Malásia (24%) e Filipinas (17%), bem como várias economias de baixo desenvolvimento, como o do Lesoto (50%), Camboja (49%), Madagascar (47%) e Mianmar (44%), também enfrentaram graves consequências econômicas por sérios impactos das tarifas de importação elevadas.
Para o Canadá, as consequências incluem o aumento dos custos de produção, a redução das oportunidades de exportação, o crescimento do desemprego e uma crescente incerteza quanto ao futuro das relações comerciais com os EUA. No entanto, essa guerra comercial, ao mesmo tempo, cria uma oportunidade estratégica para o Canadá diversificar suas relações comerciais, explorando novos mercados, como o MERCOSUL, a fim de reduzir a dependência do comércio com os EUA e fortalecer sua economia avançada diante dos enormes desafios impostos pelo protecionismo arbitrário.
Os impactos dessa destrutiva guerra comercial não se restringem às grandes corporações canadenses. Pequenas e médias empresas em todas as dez províncias do Canadá também estão sendo duramente afetadas. Muitas dessas empresas possuem menos recursos humanos e financeiros para se adaptar rapidamente às novas condições de um mercado protecionista, o que as torna ainda mais vulneráveis em um cenário econômico instável e complexo.
Concluindo, as tarifas protecionistas e elevadas poderão gerar efeitos colaterais no comércio internacional, prejudicando economias desenvolvidas, emergentes e pobres e desencadeando uma recessão global. Nesse contexto desafiador, o futuro das relações comerciais internacionais exige um equilíbrio entre os interesses nacionais e a cooperação global.
Para o Canadá, México, China, Vietnã, África do Sul, Argentina, Chile ou Brasil, a prioridade deve ser a construção de novas alianças comerciais, a negociação de novos acordos de livre comércio e a busca por mercados alternativos, enquanto se adapta a guerra comercial iniciada pelos EUA contra o resto do mundo, sem prazo definido para término.
(*) Paulo Galvão Júnior é economista paraibano, escritor de 16 e-books de Economia com ISBN, conselheiro efetivo do CORECON-PB, diretor secretário do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba, apresentador do Programa Economia em Alta na Rádio Alta Potência e colunista do site da Revista NORDESTE e do Portal North News em Toronto. WhatsApp para entrevistas e palestras: +55 (83) 98122-7221.