União dos Palmares, em Alagoas, carrega na sua história o legado de luta e liberdade do Quilombo dos Palmares, um dos maiores símbolos da resistência negra no Brasil. Hoje, a região se reinventa e desponta em um novo protagonismo: a primeira produção comercial de lúpulo no Nordeste. O cultivo, ainda recente no Brasil, ganha espaço estratégico em terras alagoanas, a partir de 2023, e sinaliza um movimento inédito na economia local, impulsionando a cadeia produtiva da cerveja artesanal.
A Fazenda Sete Léguas, situada a 73 quilômetros de Maceió, foi palco, em março deste ano, da quinta colheita de lúpulo no estado. O evento, promovido pela produtora pioneira Hop is All, contou com a presença de produtores, pesquisadores e representantes do setor cervejeiro, consolidando a iniciativa como um marco na agricultura alagoana.
O projeto tem o apoio de instituições como Sebrae Alagoas, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), demonstrando a força da colaboração entre o setor produtivo e acadêmico.
Impulso à produção regional
Apesar de ser o terceiro maior produtor de cerveja do mundo, o Brasil ainda importa cerca de 90% do lúpulo utilizado em suas formulações, especialmente dos Estados Unidos e Europa. A possibilidade de produção local no Nordeste não apenas reduz a dependência externa, mas também garante insumos mais frescos e adequados à identidade das cervejarias artesanais regionais.
Exemplo desse impacto é a Cervejaria Caatinga Rocks, que já utiliza o lúpulo cultivado na Fazenda Sete Léguas. Em 2024, um de seus rótulos foi eleito o melhor do Brasil no prestigiado Brasil Beer Cup, em Florianópolis. No mesmo concurso, tanto a Caatinga Rocks quanto a também alagoana Hop Bros figuraram entre as 50 melhores cervejarias do país.
Esse reconhecimento demonstra como a aposta na produção regional pode elevar o patamar da cerveja artesanal nordestina e fomentar um mercado ainda pouco explorado.
Inovação e pesquisa: os desafios do cultivo no Nordeste
A adaptação do lúpulo ao clima nordestino tem exigido soluções inovadoras. O trabalho conduzido por pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em parceria com a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), busca entender os desafios fitossanitários e desenvolver técnicas que permitam maior produtividade e qualidade do insumo.
“A principal dificuldade está na adaptação da planta ao nosso regime de chuvas e temperatura. Nós temos estudado as variedades que melhor se adaptam e desenvolvemos estratégias para manejo de pragas”, explicou o pesquisador Elio Guzzo, da Embrapa Tabuleiros Costeiros.
Entre os obstáculos estão a necessidade de controle eficiente de pragas, o ajuste das condições de luminosidade e temperatura, bem como a seleção de variedades mais adaptadas ao solo e ao clima local. Esses avanços não apenas consolidam o lúpulo como uma cultura viável para o Nordeste, mas também abrem portas para futuras expansões e aprimoramentos na cadeia produtiva.
*Com informações da Embrapa