Os imóveis de médio e alto padrão continuam sendo os mais impactados pela nova alta da Selic, que acaba de ser ajustada para 14,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O reflexo disso é a migração das incorporadoras para os segmentos Minha Casa Minha Vida e Luxo, devido ao impacto dos juros sobre o financiamento imobiliário.
Em razão do alto custo das obras e da consequente necessidade de grande aporte de capital, construtoras e incorporadoras precisam recorrer a financiamentos bancários para viabilizar seus projetos. Já os consumidores, ao adquirir o imóvel pronto, também dependem em grande parte de linhas de crédito, em regra lastreadas na poupança.
“O setor imobiliário, portanto, se sustenta eminentemente na disponibilidade de financiamento, que acaba prejudicada pelas elevadas taxas de juros”, observa o advogado Amadeu Mendonça, especialista em negócios imobiliários e sócio do escritório Tizei Mendonça Advogados Associados.
De acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), a alta dos juros e o esfriamento da demanda devem provocar uma retração no crédito de 15% a 20% em 2025. No ano passado, foram financiados 568,2 mil imóveis no país, com liberação de R$ 186,7 bilhões em recursos oriundos da poupança. Para este ano, o montante deve se limitar a R$ 155 bilhões, estima a Abecip.
Amadeu destaca que os efeitos da Selic no crédito já estão sendo repassados aos tomadores desde o início deste ano. Em janeiro, a Caixa Econômica Federal – maior financiadora do sistema, com cerca de 70% do crédito – anunciou um reajuste em sua taxa de crédito atrelada à poupança, podendo chegar a 13,36% de custo efetivo, movimento que foi seguido pelos bancos privados.
Oportunidades

“Embora o momento seja desafiador, toda crise traz oportunidade. O mercado imobiliário é cíclico, de modo que estamos entrando em um período interessante para os investidores que podem adquirir à vista ou em poucas parcelas, diretamente com o vendedor. Outra saída é utilizar sistemas de crédito alternativos, como os consórcios”, enfatiza o advogado.
Há ainda os incorporadores e investidores, que podem aproveitar para negociar terrenos e planejar novos projetos visando um cenário futuro mais favorável. Quem busca lucro com revenda de imóveis em um momento econômico mais estável, mantendo-os no estoque ou alugando enquanto os juros permanecem elevados, também pode lucrar com este momento.
“Temos também investidores interessados em permutas. Ou seja, em adquirir terrenos para permutá-los com incorporadores, o que pode resultar em uma margem de lucro maior”, reforça.
Na última pesquisa semanal Focus, divulgada na segunda-feira (17), analistas consultados pelo Banco Central reduziram as projeções de inflação para este ano. O levantamento reproduz a percepção do mercado para os principais indicadores econômicos e informou que a expectativa para o IPCA é de 5,66% até o fim deste ano.
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para conter a alta dos preços e o aumento do custo de vida, o que poderia justificar novos aumentos na taxa de juros. Quando os juros sobem, financiamentos, empréstimos e compras no cartão ficam mais onerosos, desestimulando o consumo e contribuindo para a redução da inflação. Por outro lado, quando a inflação está controlada e o BC reduz os juros, o crédito se torna mais acessível, incentivando o consumo.