Por Luciana Leão
Enquanto o governo federal projeta uma supersafra de grãos em 2025, a realidade no Piauí é bem diferente. A estiagem severa que atingiu o estado, especialmente a região sul, comprometeu significativamente a produção de soja e milho, principais culturas da agricultura local. Segundo a Associação dos Produtores de Soja do Estado do Piauí (Aprosoja Piauí), as perdas já afetam o resultado do setor para a safra 2024/2025.
A projeção nacional, divulgada pelo IBGE no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), estima que a safra brasileira de cereais, leguminosas e oleaginosas deve atingir um recorde de 323,8 milhões de toneladas em 2025, um crescimento de 10,6% em relação a 2024, quando a produção foi de 292,7 milhões de toneladas. A soja deve alcançar 164,4 milhões de toneladas, um aumento de 13,4%, enquanto o milho deve crescer 8,8%, totalizando 124,8 milhões de toneladas. Já o algodão e o arroz também registram avanços, com 9 milhões e 7% de aumento, respectivamente.
No entanto, a estimativa otimista para a safra nacional contrasta com os impactos da seca no Piauí. Atualmente, a estimativa de prejuízo na soja no estado é de pelo menos 25%, podendo ultrapassar 50% em algumas regiões. No caso do milho, as perdas são ainda mais expressivas: cerca de 50% na média estadual, mas podendo chegar a 70% em determinadas áreas. A ausência de chuvas durante fevereiro e a irregularidade das precipitações na primeira quinzena de março agravaram o cenário, com fazendas registrando mais de 45 dias sem volumes significativos de água.
Impacto no milho e preocupação para a próxima safra
O milho foi a cultura mais afetada, pois seu período reprodutivo, concentrado entre fevereiro e março, coincidiu com o auge da seca. Isso comprometeu o florescimento, a frutificação e o enchimento dos grãos, tornando a colheita muito inferior ao esperado. Além disso, a implantação da segunda safra de milho (safrinha) também enfrenta grandes dificuldades.
De acordo com o presidente da Aprosoja Piauí, Janailton Fritzen, as perdas já estão consolidadas, variando conforme a localização e o momento do plantio. “No milho safra, as quebras devem ser ainda maiores, pois o período crítico da cultura coincidiu com a seca extrema. O milho safrinha também está bastante comprometido”, explica.
O diretor executivo da Aprosoja, Rafael Maschio, ressalta que o impacto foi desigual entre os produtores. “Aqueles que plantaram mais cedo e já colhem suas lavouras enfrentam perdas em torno de 25%, enquanto os que semearam mais tardiamente podem sofrer prejuízos de até 50%”, detalha.
Efeitos financeiros e produtivos
A queda na produção também gera impactos financeiros para os agricultores, que terão mais dificuldades para custear o próximo ciclo agrícola. O milho, além de ser comercializado como commodity, é essencial para a alimentação animal, o que pode afetar outras cadeias produtivas.
“A redução da colheita no Piauí preocupa os produtores, que já contabilizam prejuízos e custos operacionais mais altos, tornando o cenário ainda mais desafiador”, afirma Fritzen.
Diante desse contexto, a expectativa de uma supersafra nacional não reflete a realidade do Piauí, onde a estiagem redefiniu as projeções e trouxe novos desafios para os agricultores.