Entre as paredes de tijolos aparentes do Ceprama, o Centro de Comercialização de Produtos Artesanais do Maranhão, ecoam histórias que atravessam séculos. O antigo galpão industrial, que no século XIX fervilhava com o barulho de máquinas de algodão operadas por mulheres, hoje ressoa com o tamborilar de mãos que transformam sementes, fibras e memórias em arte.
Ali, onde um dia se teceram fios, agora se entrelaçam identidades: o Ceprama virou palco de uma epopeia feminina, escrita linha a linha por 2.962 artesãs cadastradas no estado – duas delas coroadas com o título de Mestras da Cultura.
Das máquinas de algodão às biojoias: o legado que não se apaga
Lúcia Franco, 58 anos, conhece cada curva do Ceprama como as linhas das palhas de buriti que trança há 35 anos. Enquanto modela uma biojoia, ela diz: “Antes dessa mesa de trabalho, havia máquinas. Mulheres como nós suavam para fiar algodão. Hoje, suamos para fiar cultura“.
Seus colares de sementes, vendidos até na Europa, carregam mais que beleza: são testemunhas de uma linhagem. “Elas [as operárias] plantaram raízes. Nós regamos com arte”, conta, orgulhosa.
Ceprama celebra a história e a força das mulheres maranhenses/Divulgação
Não é só metáfora. Andrelina Neta, 47, bordadeira de histórias do bumba meu boi, exibe uma toalha onde retrata o auto do boi com miçangas.
“Cada ponto é um verso da nossa fé. Levo o Maranhão no avião, nas feiras de São Paulo, e digo: ‘Isso é obra de mulher guerreira’”. Seu sorriso, tão vibrante quanto seus trabalhos, esconde noções de economia: o artesanato responde por 3% do PIB estadual, segundo a Setur-MA.
“Aqui, o turismo tem rosto de mulher”
Para Socorro Araújo, secretária de Turismo do Maranhão, o Ceprama é um santuário de resistência. “Cada peça vendida é um capítulo da nossa cultura que não se perde. E quem compra? O turista que quer levar o Maranhão na mala“, afirma.
Em 2023, o espaço recebeu mais de 50 mil visitantes – muitos atraídos por roteiros que mesclam praias e palhaçaria.
O diretor do Ceprama, Carlos Mendes, ressalta: “Elas são embaixadoras. Na última Feira Nacional de Artesanato, em Minas, nossas artesãs venderam R$ 80 mil em uma semana. Mas o maior lucro é ver o mundo aplaudir o que somos“.
Celebração e café: o reconhecimento que ecoa nos corredores

Nesta segunda-feira (10/03), o aroma de café vai se misturar ao som do Coral da UNIT no evento em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, celebrado em todo o mundo, neste sábado (8), Dia Internacional das Mulheres.
Entre aplausos e risadas, Rosa Maria, 62, mestra ceramista de Alcântara, resume: “Antes, o barulho era de motor. Hoje, é de gente admirando nosso trabalho. Isso vale mais que máquina“.
Ceprama: onde o passado e o presente se entrelaçam
Instalado no casarão da antiga Fábrica de Cânhamo (1886), o centro preserva a arquitetura de era industrial, mas reinventa seu propósito.
Das 9h às 18h, visitantes encontram de panelas de barro a esculturas de juçara – tudo feito por mãos que dominam técnicas passadas por gerações. “Não somos só loja: somos museu vivo“, define Mendes.
Para visitar: O Ceprama fica na Rua da Estrela, 220, Centro de São Luís. Entrada gratuita.