Analise da conjuntura: Atendimento do SUS à classe C é caótico, por José Natal

Por José Natal*

 

Mais de 9 milhões de famílias, integrantes da classe C da população brasileira, fazem severas críticas ao atendimento médico-hospitalar que recebem do Sistema Unificado de Saúde (SUS). As queixas citam a demora nas filas para a marcação de consultas e a longa espera pelos resultados de exames de laboratórios.

 

Conforme pesquisa do Instituto Locomotiva, que ouviu 1.500 famílias em 127 cidades do país, a lentidão desses procedimentos em muitos casos colocam as pessoas em sérios riscos de morte. A classe C reúne uma comunidade aproximada de 31% de famílias brasileiras, que têm um rendimento mensal entre 4 e 10 salários mínimos – R$ 4.180,00 a 10.450,00 – e 94% das pessoas ouvidas se julgam discriminadas e prejudicadas.

 

Rica em detalhes, a pesquisa relata também que devido às dificuldades e a demora nos atendimentos a população, sabidamente com dificuldades financeiras, muitos são obrigados a recorrer à rede particular de medicina, com receio de agravamento no quadro de saúde.

 

Os dados apontam que esse universo de preocupação alcança 72% das famílias ouvidas, e todas elas relatam casos específicos. Outro dado, que também chama a atenção, diz respeito às consequências geradas pela demora na marcação de consultas e a dificuldade em saber os resultados dos exames solicitados.

 

Das pessoas ouvidas, 24% confirmaram que tiveram seus problemas de saúde agravados, e em muitos deles levaram as famílias ao desespero. A eficiência e o bom atendimento do SUS a grande parte da população tem o reconhecimento da opinião pública.

 

Fato que ficou claro, notadamente, durante o trágico período da Covid 19, epidemia que matou milhares de pessoas em todo o país. As queixas acontecem através de pessoas que buscam o atendimento durante a rotina do dia a dia, ou aquelas que procuram as unidades do SUS como único recurso que podem alcançar para cuidar da saúde. Outro dado importante, e que merece ser apreciado pelas autoridades de saúde, diz respeito à procura de médicos especialistas em doenças que exigem maior cuidado.

 

Para esses casos, 60% das pessoas ouvidas afirmam que para que consigam ser atendidas por esses profissionais exige muita paciência, e muitos, por mais que tentem, desistem e não conseguem. As dificuldades apontadas pela pesquisa registram um volume assustador, que mesmo sem recursos financeiros são obrigados a buscar socorro na rede particular.

 

Esse universo atinge 72% das pessoas ouvidas, e todas elas afirmam que para que essa solução seja possível, faltam a eles os recursos necessários. Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva acredita que a única solução possível para que esse drama da população seja amenizado é viabilizar que o sistema público de atendimento seja integrado ao sistema privado. Renato disse saber que essa medida não deve ser de fácil implementação, mas com um estudo responsável e com dedicação – talvez se ache uma melhor solução.

 

 

O presidente do Instituto, com vários anos de acompanhamento desse problema, acredita que a classe C do povo brasileiro, merece, de imediato, uma atenção redobrada quando o assunto é saúde. Para ele, as classes A e B, em diferentes regiões do Brasil, recebem um atendimento melhor e com recursos aplicados de forma que contemple as pessoas com mais conforto.

 

 

A pesquisa, com cuidado, também ouviu pessoas que mesmo sem a necessidade de depender desse atendimento público, manifestaram que famílias ligadas a elas fazem as mesmas queixas, com frequência e se mostram preocupadas com a carência e a falta de recursos para que possam cuidar melhor da saúde.

 

 

Os problemas estão em todas regiões do Brasil, as cobranças se avolumam e as comunidades menos favorecidas merecem uma atenção especial. Entidades ligadas ao setor, e também o Ministério da Saúde, com frequência são cobrados a adotar medidas que amenizem o drama dessas famílias. Há em curso a criação de um produto de consultas e exames, com o foco voltado para a saúde primária e secundária, o que fortaleceria a prevenção de inúmeras doenças.

 

O modelo, se aprovado, poderá atender a camada da população que hoje depende quase que unicamente do SUS. A ideia, aprovada inclusive pela a Associação Brasileira de Planos de Saúde – ABRAMGE, deverá ser regulamentada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS – que terá como função maior a fiscalização desses serviços, com objetivo de garantir mais segurança à população.

 

Segundo especialistas, cerca de 80% das demandas podem ser atendidas, com grandes chances de bons resultados. Um desses benefícios é a possibilidade do atendimento precoce, muitas vezes de vital importância para a saúde do cidadão. As dificuldades enfrentadas pelo SUS todos conhecem. O que se pretende agora é que haja uma ação prática e eficiente para amenizá-las.

 

 

*José Natal é jornalista
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Redacao RNE

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