Por Luiz Augusto Kern (Lak)
O ex-deputado constituinte Vivaldo Barbosa está atravessando o país com uma dupla missão, abraçada por ele com energia incomum para quem tem 83 anos. Amparado por décadas de convívio com o líder trabalhista Leonel Brizola, de quem foi amigo, advogado e mais tarde correligionário no PDT, Vivaldo partiu do Rio de Janeiro, seu estado natal, para coletar assinaturas, em todo o país, necessárias ao registro definitivo do novo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao mesmo tempo, quer resgatar a história de luta e defesa do trabalhador brasileiro feita pela sigla histórica fundada pelo ex-presidente Getúlio Vargas, em 1945.
Vivaldo esteve em Porto Alegre em fevereiro, dialogando com amigos trabalhistas sobre como manter viva a chama que significou direitos trabalhistas, igualdade de renda entre homens e mulheres, e tantos outros benefícios deixados pelo velho PTB na memória e na vida da população brasileira.
A trajetória do trabalhismo brasileiro, citada por Vivaldo Barbosa, remonta a raízes profundas que moldaram direitos sociais e a identidade nacional.
De acordo com ele, o PTB tem sua luta entrelaçada com as batalhas por justiça e soberania, que começa no início do século XX, com figuras como João Mangabeira, advogado da Campanha Civilista de Rui Barbosa (1910), que inspirou personagens literários engajados, como o retratado por Jorge Amado em Gabriela, Cravo e Canela. Mangabeira simbolizou a semente do pensamento trabalhista, articulando demandas populares em meio às greves de 1917 e 1919, que sacudiram São Paulo e Rio de Janeiro com reivindicações por melhores condições de trabalho.
*Lembrando as conquistas*
A Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, consolidou esse legado. Vargas reuniu tenentes, liberais e conservadores sob um projeto nacionalista, criando o Ministério do Trabalho e estruturando a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) em 1943.
A CLT garantiu direitos inéditos: jornada de 8 horas, férias remuneradas, salário mínimo e proteção ao trabalho feminino e infantil. O código foi influenciado por pensadores como Teixeira Mendes, positivista que já em 1889 propunha leis trabalhistas, e por juristas como Joaquim Pimenta e Maurício de Lacerda, que combateram a exploração desumana.
O PTB, então, emergiu como força política para institucionalizar essas conquistas. Sob Vargas e, posteriormente, João Goulart e Leonel Brizola, o partido defendeu projetos estratégicos como a Petrobras (1953), a Eletrobras (1962) e a Vale do Rio Doce, nacionalizando recursos e reduzindo a dependência externa. O salário mínimo, estabelecido em 1940 após anos de estudos técnicos, foi calculado para cobrir necessidades básicas de alimentação, moradia e vestuário – um marco que hoje, segundo dados citados, equivaleria a R$ 7.000.
A história do PTB, no entanto, é também de resistência. Após o golpe de 1964, o partido foi extinto pela ditadura, e sua refundação em 1981 sob lideranças como Ivete Vargas desvirtuou seu caráter original.
A privatização da Eletrobras em 2022 e o desmonte da Petrobras simbolizam o abandono desse legado, com o Brasil perdendo controle sobre energia e minérios estratégicos, como o nióbio – essencial para indústrias de ponta.
Legado do trabalhismo
Vivaldo Barbosa diz que, ao resgatar o PTB, não busca nostalgia, mas reconectar o Brasil a um projeto de soberania. *_“O trabalhismo não é saudosismo. É a luta por um país que não negocia sua dignidade.”*-
De acordo com Vivaldo, o novo PTB quer retomar o trabalhismo. *-“Nós queremos mobilizar o povo brasileiro, mobilizar a nação brasileira, para que a nação, o povo, assuma destinos definidos, empurre as coisas para frente. Que possa encostar nesses grupos econômicos (os grandes grupos) aí no canto, no seu devido lugar. Mas não para esmagar, para que ajudem o país”*_,afirmou.
Ele lembra uma história que Brizola dizia muito. _*“O Brizola dizia, olha, eu estive em Miami, vi lá os cubanos, mas o Brasil é tão grande, a burguesia brasileira é tão grande, que não cabe em Miami. A burguesia brasileira tem que ficar aqui, tem que trabalhar conosco aqui. O trabalhismo é isso aí, é a busca da cara do Brasil, é a busca da cara do povo brasileiro”*_ assinala Vivaldo.
O líder trabalhista reconhece, entretanto, que a tarefa não é fácil. _*“Em um cenário de desindustrialização, dependência tecnológica e crise climática, o trabalhismo se reafirma como farol para reconstruir o Brasil – não como peça do tabuleiro global, mas como nação dona de seu destino”*_, diz Vivaldo.
Por fim, sonhador e animado com o apoio que tem ganho nos estados, Vivaldo declara que os trabalhistas querem fugir de uma polarização rasteira, uma polarização pequena.
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