Uma Revista de Walter Santos I Por José Octávio de Arruda Mello

 

 

Por José Octávio de Arruda Melo

 

 

Na linha de Era Nova, que extraiu cem números entre 1921 e 1926, e de Letras do Sertão que, a partir de Souza, totalizou trinta e uma edições, nas décadas de 50 e 60, a Paraíba tem contado com revistas consistentes e longevas.

Mediante inovadora comissão editorial, Revista do UNIPE completou, entre os anos 1997 e 2013, quarenta e cinco edições, enquanto, sob o comando de Manoel Raposo, assessorado por Sandro Galvão, Tribuna dos Municípios vai chegando aos vinte e cinco anos.

Nem o passamento do fundador Flavio Sátiro impede a progressão dos cinquenta e cinco números de Genius, ora liderada por Flavio Sátiro Filho. Entrementes, seus presidentes Ramalho Leite e Jean Patrício retomam a periodicidade das Revistas da Academia Paraibana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano ora registrando a marca de, respectivamente, vinte e oito e quarenta e sete edições.

Nenhuma, porém, impregnada da profundidade editorial e versatilidade de Revista Nordeste com seus duzentos e cinco números em dezoito anos!

Para José Octávio, revista NORDESTE  tem diversidade temática e acuidade no conteúdo sob a batuta de Walter Santos.

 

Duas vertentes – a editoria de Walter Santos e a diversidade temática – responsabilizam-se pelo êxito do magazine.

Walter Santos, todos o conhecem. Antigo editor de O Momento, mantido nas últimas décadas do século passado pelo tripé Gorette Zenaide (Leta), Lurdinha Moura e o próprio Walter, consagrou-se pela manchete de uma das edições especiais dos 31 de março: “Hoje é dia de esquecer 64!”.

A penetração do seminário/diário em que colaboravam Dom José Maria Pires, Celso Furtado, Ronald Queiroz, Despertamento de Geografia da UFPB e Grupo José Honório Rodrigues chegou a ponto de O Norte e Correio da Paraíba se coligarem para impedir a progressão do jornal de João Furtado.

Dir-se-á que esse mesmo sentido vem sendo emprestado à Revista Nordeste. Primando por ecletismo debruçado sobre toda região – do Maranhão à Bahia – valoriza-se pelo que alcança, em entrevistas e análises, sobre o fácies político, administrativo, cultural, empresarial e social desses Estados brasileiros.

Nada de matérias pagas para contemplação da vaidade dos poderosos do dia! Com Walter, o que prevalece é a visão crítica, aliada à pesquisa e à prospecção quase científica. Por essa razão, ao tempo em que os cem anos de A Paraíba e seus Problemas (1923), de Jose Américo, evocam os estudos nordestinos iniciados por Agamenon Magalhães com o Nordeste Brasileiro (1922) e Gilberto Freyre com O Livro do Nordeste (1924), Revista Nordeste impõe-se como continuação daquelas abordagens.

Isso significa que, presentemente, qualquer estudo sério sobre o Nordeste não pode prescindir de Revista Nordeste como autêntica publicação fonte.

Veja-se, a proposito,  a edição 206, também impressa em João Pessoa. Furtadeana, por ensejar nova leitura para o Nordeste, a publicação considera, pela pena de Marcos Formiga, que A Paraíba e seus Problemas, de José Américo, antecipa o Celso Furtado de Formação Econômica do Brasil (1939), pelo desenvolvimentismo que os inspiram.

Celso Furtado também se acha presente a duas outras colocações da revista. A de Paulo Galvão Junior, focalizando o baixo rendimento dos nordestinos em 2023, e a de Luciana Leão indicando, através de documento dos governadores da região, o ameaçador processo de desertificação da caatinga.

No tocante à Paraíba, é sabido que Linaldo Cavalcante fez-se Reitor que sacudiu a UFPB, pelo projeto renovador que o animava. Sem se esquecer dele, Revista Nordeste evoca  a trajetória de quem  se situa  nas  origens de Campina Grande como “destacado Centro de Ensino Superior, de inovação e pesquisa”.

Outras matérias de manifesta atualidade ocupam as páginas da publicação cuja capa se volta para Ciência  e Tecnologia mediante o domínio real das potencialidades da inteligência artificial na ciência brasileira. É oportuna a entrevista da ministra Luciana Santos acerca de “como a Ciência  e Tecnologia do Brasil regatam Protagonismo dentro e fora do país”. Da  mesma forma,  a  4a Conferência Nacional de Cultura ficou bem situada ao sugerir “o olhar para cultura indígena como grande influenciadora da formação da identidade cultural brasileira”.

Infletindo pelo plano  internacional, o número 206 de Revista Nordeste revela  acuidade ao  voltar-se  para  as eleições portuguesas marcadas pelo esvaziamento dos partidos de centro e ascensão da extrema direita do CHEGA. O que restou-se dizer é que a crise política lusitana procede do final do governo Mario Soares, equivalente ao do colega brasileiro Fernando Henrique Cardoso com quem, aliás, no setor intelectual formou dobradinha.

Pontuada por  expoentes como  Wills Leal e Otinaldo Lourenço (in memoriam) além de Abelardo Jurema  Filho e Hildeberto Barbosa, a imprensa paraibana tem revelado crescente força. Nela, poucos se projetam com a competência de Walter Santos cuja  Revista Nordeste simboliza  a capacidade de um de nossos mais atuantes profissionais.

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Redacao RNE

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