Menos da metade da população percebe que os mais ricos poluem mais o meio ambiente, aponta estudo

 

Um estudo da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE) revelou que a maioria da população brasileira acredita que os mais pobres poluem tanto quanto, ou mais do que, os mais ricos.

 

A pesquisa investigou percepções sobre os principais responsáveis pela degradação ambiental, evidenciando um distanciamento entre a realidade e a opinião pública.

 

Desigualdade ambiental e a percepção popular

 

Enquanto os mais pobres sofrem desproporcionalmente com os efeitos das mudanças climáticas, são os mais ricos que apresentam uma pegada ecológica muito maior. Este conceito, que mede o impacto humano no meio ambiente com base em fatores como emissões de carbono, uso da terra e consumo de recursos, foi central na análise conduzida pelo pesquisador Yan Vieites.

 

“Estudos mostram que os mais ricos têm um impacto ambiental significativamente maior devido a hábitos como maior consumo de carne, maior uso de energia e viagens frequentes”, destacou Vieites. No entanto, a pesquisa revelou que menos da metade dos brasileiros reconhece essa disparidade.

 

Experimentos e resultados

 

Foram realizados quatro estudos, envolvendo surveys e experimentos, para avaliar como a população compreende a relação entre estilos de vida e poluição. No primeiro experimento, com 339 participantes, mais da metade respondeu que os mais pobres poluem tanto quanto ou mais do que os mais ricos.

 

Quando questionados sobre as razões para essa percepção, 28,3% identificaram corretamente que o maior consumo dos mais ricos contribui mais para a degradação ambiental. No entanto, 5% associaram a poluição à falta de serviços básicos, como coleta de lixo e tratamento de esgoto, sugerindo um viés que revitimiza comunidades em condições precárias.

 

Outros grupos de participantes atribuíram maior sustentabilidade aos ricos, argumentando que o acesso a recursos financeiros permite comportamentos como o uso de carros elétricos ou painéis solares (7,7%) e que níveis mais altos de educação formal implicariam maior consciência ambiental (10,3%).

 

Subestimação da disparidade ambiental

 

Vieites destacou que, independentemente da abordagem ou do perfil dos respondentes, a subestimação da desigualdade na pegada ecológica persiste. “Na média, há uma falha generalizada em reconhecer a grande disparidade na contribuição ambiental entre ricos e pobres, independentemente de gênero, classe social ou orientação política”, afirmou o pesquisador.

 

Implicações para políticas públicas

 

O estudo reforça a importância de conscientizar a população sobre os verdadeiros agentes da degradação ambiental. Para Vieites, esse entendimento é essencial para que indivíduos mais ricos reconheçam seu impacto e adotem medidas para reduzi-lo.

 

“A pesquisa contribui para pressionar grupos com maior poder econômico a reduzir seus impactos e oferece um contexto relevante para políticas públicas que cobrem encargos ambientais mais onerosos aos maiores poluidores. Em um momento de mobilização social por práticas sustentáveis, compreender essas dinâmicas é crucial”, concluiu.

 

*Lixo deixado por turistas. Foto: MaciejBledowski/Depositphotos

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Luciana Leão

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