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O brasileiro e o gosto pelo mais ou menos I Por Gaudêncio Torquato

 

 

 

Um corte diagonal sobre o caráter nacional pode ser uma pista para se desvendar os traços psicológicos do brasileiro que escolhe seus mandatários. Antes, há de se fazer a ressalva de que milhões de pessoas irão participar fora do traçado sócio-psicológico aqui descrito, porque incorporam heranças culturais de outros povos.

 

 

A racionalidade dominante na cultura anglo-saxã, por exemplo, contrapõe-se à emotividade e ao arcabouço criativo-festivo que influencia comportamentos, ações e decisões do homem dos Trópicos. Para o anglo-saxão, não existe mais ou menos. É: sim, sim, não, não.

 

 

A tipologia humana essencialmente brasileira se rege por um alfabeto nítido que começa com a parte mais visível, que é o cor da pele. Os morenos e os pardos, que carregam a mistura do sangue do branco colonizador, do negro e do indígena, são a própria expressão do índole do nosso povo. Que aprecio responder às questões que lhe são expostas com o jogo do “depende, do mais ou menos”. “Quantas horas trabalha por semana? Mais ou menos 40 horas. É religioso? Sou católico, mas não pratico. Ou, ainda: sou ateu, graças a Deus”.

 

 

A tendência de querer ficar no meio termo ainda é reforçada pela condição de contemporâneo, que transparece nas frequentes locuções “deixar estar para ver como fica”, “deixa pra lá”, “fulano está empurrando com a barriga”. Não por acaso, é assim que os governantes conseguem adiar coisas importantes, como a reforma tributária (só agora em vias de aprovação), a reforma política, a reforma do Estado, entre outros projetos prioritários.

 

 

 

Vejam a questão do voto. Milhões decidem escolher seus candidatos apenas nas últimas semanas de campanha. Traços de incerteza e dúvida caracterizam o perfil do eleitor, fruto, aliás, da improvisação que permite comportamentos. Há alguma indicação de displicência? Sem dúvida e este é outro matiz do nosso perfil.

 

 

As decisões, que identificam uma forte cultura de protelação, são deixadas para a última hora, na sequência de um comportamento que se identifica com um misto de lerdeza e negligência, despreocupação e negação de critérios de prioridade. Cultivamos a cultura do desleixo. Quem não tem na ponta da língua exemplos de obras mal construídas, trabalhos malfeitos, acabamentos defeituosos, sujeiras em lugares públicos?

 

 

O brasileiro é imediatista. Tem prazer pelas coisas que lhe trazem conforto ou benefício imediato. Daí não se interessar pela macropolítica, a política dos grandes projetos, das grandes obras que geram efeitos benéficos no longo prazo. Mas é exigente em relação às coisas do seu cotidiano: a escola perto da casa, o transporte fácil, a segurança na rua, a comida barata, o trabalho perto de casa.

 

 

A incerteza, traço cultural do caráter nacional, é visível nas mudanças de posição das pessoas. Argumentos fortes acabam derrubando condenações não estruturadas. Percebe-se que o interlocutor se motiva pela simpatia e empatia que os políticos refletem. “Ah, todos os políticos são ladrões ”, ouve-se aqui e acolá. Mas os tais ladrões acabam conquistando concorrentes.

 

 

Deus carimbou alguns povos com tintas muito marcantes. Diz-se que aos gregos concedeu o amor à ciência; aos povos asiáticos, o espírito combativo; nos antigos e fenícios (sendo os últimos últimos dos atuais libaneses), imprimiu a marca do amor ao dinheiro. Aos brasileiros, Deus deu a capacidade de improvisar mais que outras gentes.

 

 

Não é de todo arriscado a inferência de que uma pessoa que defende uma direção uma posição acaba mudando de ponto de vista, se essa mudança fizer bem ao bolso. O brasileiro não garante aquilo que promete. Um infiel de ideias.

 

*Gaudêncio Torquato é jornalista, cientista político e Professor Emérito da ECA-USP

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Redacao RNE

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