HubBrasilChina abre portas para empresas brasileiras no comércio exterior

Por Etiene Ramos 

 

O cenário internacional para 2025 prevê mudanças significativas nas relações comerciais entre o Brasil e os países do Brics, após a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. Na disputa com a China por mercados, ele poderá dar um novo rumo à geopolítica e à economia mundial, fortalecendo o gigante asiático e seus parceiros do Brics, como o Brasil.

 

É neste contexto que o presidente do Grupo Teleport e do HubBrasilChina (HBC), Gildo Neves Baptista, estima negócios da ordem de R$ 100 milhões entre empresas brasileiras e chinesas a partir das quatro missões empresariais à China, realizadas em 2023 e 2024, e outras seis programadas para 2025.

 

Nesta quinta-feira (12), Baptista reuniu jornalistas no Recife, sede do HBC, para apresentar os primeiros resultados das missões às feiras de negócios em Macau, Hong Kong e Cantão, nos últimos dois anos.

 

“Levamos 56 empresas à China em nossas missões e esperamos levar o dobro em 2025. Só as viagens deverão gerar um faturamento em torno de 2,4 milhões”, estima o empresário.

 

As viagens contam com a disposição do governo chinês que oferece tradutores, hospedagem e translados aos visitantes. Mas o principal incentivo é a isenção de impostos para exportar e importar produtos e serviços se a empresa brasileira abrir uma filial na China. Isto porque as operações ocorrem como transferências de estoques entre a sede, no Brasil, e a filial chinesa.

 

Com este atrativo o HubBrasilChina abriu uma filial em Macau, oferecendo endereço e estrutura aos seus associados para abrir suas próprias filiais. Região Administrativa Especial da República Popular da China, Macau foi colonizada por Portugal e, além de uma economia capitalista, compartilha o nosso idioma – o que favorece as negociações com brasileiros.

 

Negócios a perder de vista

 

As missões China-Teleport também trouxeram a parceria do Instituto de Promoção ao Investimento de Macau (Ipim), um órgão governamental que vem incentivando os negócios entre a China e outros países, e que fez a ponte entre executivos da montadora Seres e a delegação do Brasil no MIEFC –  Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau, em março deste ano.

 

“A Seres foi em busca de um parceiro para abrir uma subsidiária no Brasil e iniciar a operação com 2000 modelos SUV. Apresentamos um empresário de São Paulo e as tratativas já foram iniciadas e vão evoluir no próximo ano”, adianta Neves Baptista.

 

“Este é um dos negócios globais que surgem quando os chineses conhecem os produtos e serviços brasileiros, seja no estande do HubBrasilChina nas feiras e exposições comerciais, ou nas visitas às grandes fábricas, associações empresariais e órgãos oficiais para firmar parcerias. Esta imersão abre novos horizontes para nossos associados e parceiros”, observa Rosana Bezerra, CEO do Ella Bank, que faz parte do Grupo Teleport.

 

Na última missão, em outubro passado, Gildo Neves Baptista levou inovação do Porto Digital, do Recife, para o Porto de Macau: um sistema de georreferenciamento de navios em tempo real, já instalado no Porto do Recife e no Porto de Suape.

 

“É um outro negócio de inovação que plantamos na China, desenvolvido pela pernambucana Galatea Solutions. O criador do sistema, Antonio Manso, doou o livro que explica o seu funcionamento, sem necessidade do GPS para localizar e dimensionar os navios”, comenta o presidente do HBC. A expectativa é vender o sistema para os portos chineses que podem se tornar vitrines mundiais para a Galea Solutions e ainda atrair outros clientes e parceiros para o Porto Digital.

 

Negócios fechados

 

Algumas empresas que viajaram nas missões China Teleport já começaram a exportar. É o caso da Modal Educa, que produz kits de robótica para escolas. O produto, fabricado em São Paulo, foi descoberto por uma escola chinesa de Macau durante a segunda missão do HBC. Com a primeira remessa efetuada, o empresário Alisson Castro aguarda a finalização das embalagens em chinês para ir além de Macau.

 

A empresária Priscila Prado, que foi a duas das quatro missões para participar de campeonatos mundiais de café com o seu Café Premium Brasil, também está preparando as embalagens para o mercado chinês. Produzido artesanalmente em São Paulo e em Minas Gerais, com blends de frutas da Amazônia e até aroma da flor da Cannabis – mas zero de TCH, um dos princípios ativos da planta – o café virou ‘produto sensação’ entre os visitantes das feiras.

 

A partir dos contatos, o primeiro contêiner do Café Premium Brasil chegará à China no início de 2025, num microlote de 800 quilos para uma rede de supermercados de Macau. Na volta das missões, Priscila trouxe cafés da Etiópia, da China e da Índia e está para finalizar o primeiro pedido de importação até meados de 2025.

 

“Sabemos que o resultado não é imediato, mas em cada viagem aprimorei mais os contatos e surgiram várias oportunidades para cada negócio. Foi um ótimo investimento, também pelos lugares que conhecemos e tenho recomendado as missões da Teleport para quem quer desenvolver seu negócio”, diz a empresária paulista.

 

Trump pode abrir novos caminhos

 

Se Donald Trump cumprir a ameaça de sobretaxar em 100% os produtos do Brics, caso o grupo crie sua própria moeda e abale a hegemonia do dólar no comércio exterior, a China tem potencial para apostar em outros mercados e favorecer os empreendedores brasileiros. 

 

“A China, maior parceira comercial do Brasil, poderá escoar negócios e investimentos para o seu próprio grupo, fortalecendo as relações Brasil-China, Brasil-Índia e Brasil-Arábia Saudita”, avalia Othon Bastos, CEO do HubBrasilChina (HBC) e especialista em comércio internacional.

 

Para ele, podem surgir novos acordos de cooperação e investimentos em agronegócios, especialmente alimentos; na indústria de transformação, em segmentos como metalurgia, eletrônica, máquinas e implementos; e em energias sustentáveis, setor onde a China já investe no Brasil e em outros países. “Daqui a pouco teremos a moeda dos Brics, estamos num momento excelente para o HBC, uma oportunidade de prospectar e realizar grandes negócios”, observa Bastos.

 

Cidades-irmãs from Pernambuco

 

Na última missão do HBC à China, o deputado estadual João Paulo Costa representou a Assembleia Legislativa de Pernambuco com o propósito de unir cidades pernambucanas e chinesas em acordos de cidades-irmãs. A ideia foi recebida com entusiasmo pelo prefeito de Zhuhai, cidade vizinha a Macau, e a 5ª missão do HBC, e primeira de 2025, em março, será estendida por um encontro entre prefeitos pernambucanos e seus respectivos chineses em Zhuhai.

 

“Será um fórum bilateral para criar sinergias, uma estratégia de governo para governo e negócios que vamos chamar de G2G2B”, explica Gildo Neves Baptista.

 

Não satisfeita em ficar fora da iniciativa, Macau também reivindicou um encontro entre prefeitos, que vai acontecer na 6ª missão HBC, em junho do ano que vem. “O acordo de cidades-irmãs vai trazer mais possibilidades de investimentos para o Brasil e favorecer cooperações não só em negócios, mas também em ações culturais e intercâmbios de saúde e educação”, prevê o presidente do HubBrasilChina.

 

Em junho, será a vez de levar empresários para a feira de infraestrutura e construção de Macau, que reúne grandes empresas, bancos e fundos de investimentos que podem financiar o setor. Obras como a Transnordestina e a expansão do metrô do Recife são exemplos que podem interessar o capital chinês.

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Redacao RNE

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