Le Labo, Nunca vi, nem comi
Eu só ouço falar…
A internet democratizou o luxo e logo as marcas assumiram suas cópias com o termo “inspired”. Durante anos, a maioria de nós usou bolsas “copiadas” sem conhecer a real inspiração, pouca gente viajava ou tinha acesso a publicações mais sofisticadas sobre moda, hoje compramos os produtos habilidosamente chamados de “inspired”, impulsionados pelo desejo de pertencer ao mundo do luxo.
A “tal da internet” mudou tudo… Os influenciadores mostraram o mundo para os seus zilhões de seguidorescriando desejos. Quantos desses seguidores são reais consumidores do estilo de vida “vendido”? A necessidade de pertencimento é uma característica humana, mentimos sobre os nossos hábitos nas redes sociais? Os seguidores realmente consomem?
Até pouco tempo, o sonho de consumo da maior parte das pessoas era um bom perfume comercializado no dutty free, de repente uma quantidade razoável de pessoas declarando seu amor pela Le Labo, mas espera… Como assim? A Le Labo chegou ao Brasil somente em outubro/24, tem um ticket médio alto.
Outro fenômeno, a chegada da Drunk Elephant foi comemorada, convido o leitor a consultar o preço dos queridinhos da marca. Se alguém pensou na concentração de renda, está certíssimo, mas digamos que não são essas vozes que reverberam nas redes falando de tais marcas.
O Quiet Luxury, nome bacana para um “marcador” socialque sempre existiu, chegou como tendência que já está passando. Sua morte começou quando novamente o “senso de pertencimento” nos presenteou com matérias sobre moda dizendo “seguindo a tendência quiet luxury, aXPTO (fast fashion) lança sua coleção”, fast fashion e qualquer coisa com a palavra luxo não cabem na mesma frase…
A vida do pesquisador de tendência e comportamento não anda fácil! Cortando para a Gen Z, pesquisas mostram que eles prezam o consumo consciente (materiais sustentáveis, não poluentes, cadeia de produção rastreada, toda a pauta ESG), mas o que explica o sucesso da Shein? Novamente o senso de pertencimento fala mais alto, a Shein “vende” o “quase igual, o parecido” e ele que cabe no meu bolso. E a pauta ESG? Está cumprida, afinal “valorizamos o nosso dinheiro”.
Essa mesma geração é descrita como complicada no mercado de trabalho porque busca mais do que remuneração, busca propósito. Opa! Mas não seria incoerente buscar propósito e consumir o mais barato ainda que seja fruto de práticas pouco ortodoxas?
Estão mentindo? Não! É a realidade se impondo: em um país com a complexidade do Brasil é impossível massificar pesquisa, pior ainda “traduzir” estudos, é necessário estratificar, caso contrário cairemos sempre em uma zona cinza onde sempre nos perguntamos por que o cenário realizado foi diferente do previsto.
Graziele Barros é especialista em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral. Com vasta experiência em investimentos em Shopping Centers e Family Office, é uma estudiosa sobre comportamento.