*Paulo Roberto Cannizzaro
O capítulo da primeira guerra mundial literalmente matou a elite europeia, muitos de seus membros tiveram que ir para a guerra. No segundo conflito mundial, mais profundo, destruíram a Europa, o Norte da África, o Japão, a Coréia, a Malásia, parte da China e da Índia.
Os efeitos foram avassaladores, tingiu-se o mundo de tristeza, as nações e as pessoas demoraram a se recuperar dessa violência terrível. E tudo precisou ser reordenado.
Foi preciso pensar em uma nova ordem mundial, sem a participação da ONU, FMI, sem câmbio, basicamente para separar o conceito da Banca e dos investimentos.
Depois, na década de 70, seguem todas as noções do “Estado mínimo”, da cultura de valorização e do império do dólar, da intoxicante e perversa cultura americana, dos fundamentos do protagonismo da classe operária, aparecem os extremos confrontos políticos, o fascismo, a extrema direita, um monte de outros conflitos, embates e outras guerras que se espalham.
O Capitalismo, a partir de suas disfunções, já não consegue mais cumprir suas promessas, é um embuste de ser cada vez mais desigual e excludente, favorece a classe dominante, mas esquece os menos favorecidos. Não deveria ser assim, mas é.
E o protagonismo da esquerda? Pobre esquerda! Seus militantes estão voltando a pé da história, sem força concreta e propositiva de promover uma autêntica revolução social. Gente teórica, cheiro de naftalina, falha e pervertida, tão corrupta quanto todos que criticou no quartel general da direita atrasada e depravada que tomou conta da história por tantos anos. Mas que ciclo histórico é esse que domina agora o mundo?
Coube-nos então esse momento histórico contrarrevolucionário, de uma enorme desesperança, é o Estado anárquico, e surpreendentemente, com a participação de uma pífia Justiça. Ou a “Injustiça”?
Até os anos de 1980 era possível nos reconhecer mais europeus, no entanto, de repente, para a infelicidade, o Estado brasileiro seduziu-se pela onda americanizada, o pior dos destinos, aproximar-se em demasia dos padrões vazios do comércio doentio dos consumos, modelados pelo poder dos EUA.
A formação do ar anterior, um dia bem mais francês, se perdeu no tempo. Para tantos historiadores nos deixou pior, mais distantes da cultura. Não que fosse o nosso verdadeiro destino, sermos europeus.
Inegável, no entanto, que o Brasil se alinhou aos EUA, a partir da Guerra Fria. Seria até tolerável essa afinidade, desde que não tivesse pervertido e desfigurado tanto as nossas preferências culturais.
Nessa quadra histórica é visível que a Europa esteja doentia e estagnada, infestada de imigrantes, principalmente por uma imigração negra islâmica, além disso, com pouca população própria.
Em muitas nações essa carência é grave, há necessidade maciça da classe operária. A Alemanha, pasmem, precisa de sete milhões de trabalhadores. Os países da América Central, a maioria, se desmancham, literalmente. Vários países pelo mundo afora prometem bonificações em dinheiro em soma relevante para seduzir trabalhadores.
Nos Estados Unidos, a nação da política mais hipócrita contra os imigrantes, entram dois milhões por ano, um absurdo de gente. E o capitalismo, o outro doente, clama por uma ressignificação, principalmente como enfrentar a dívida pública pós-pandemia, que assumiu volumes assustadores, em um mundo tragado por endividamento.
Enfim, um período de tensões geopolíticas, confrontos com as superpotências, desafios de governança internacional, questões migratórias, repleto de incertezas e polarizações.
Domesticamente, com os nossos quadros de políticos atuais, é impensável esperar mudanças estruturais confiáveis e justas, sem um compromisso de pacificação nacional apartidária. Não temos essa maturidade, e com essa gente é utopia.
A complexificação das divisões e das ideologias políticas no contexto contemporâneo brasileiro, desde a redemocratização do país, perdeu inteiramente o significado, é basicamente a mesma coisa, um filme de horrores, são personagens sujos falando do mal lavado. Não são muito diferentes como propagam ser. E tudo ficou bem complicado.
*Paulo Roberto Cannizzaro é escritor e consultor empresarial
[…] Artigo originalmente publicado no site da Revista Nordeste […]