Bahia e Ceará lideram em chacinas no Nordeste, aponta estudo

Um levantamento inédito trouxe à tona o cenário de violência no Nordeste, destacando a Bahia e o Ceará como os estados com maior número de chacinas na região. O estudo, realizado pela Rede Liberdade e pela Clínica de Direitos Humanos do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), apontou 489 episódios de homicídios em massa no Norte e Nordeste entre 1988 e 2023, totalizando 2.117 vítimas fatais.

 

Com 104 chacinas registradas, sendo 46 em Salvador, a Bahia lidera o ranking, seguida pelo Ceará, com 75 casos, 24 deles na capital Fortaleza. Os dados também revelam que as chacinas atingem desproporcionalmente comunidades negras, quilombolas e indígenas, expondo um padrão de seletividade e omissão das autoridades na proteção dessas populações vulneráveis.

 

Das chacinas analisadas, 38,4% ocorreram em zonas urbanas, 45,4% em zonas rurais e 16,2% em regiões intermediárias. A pesquisa também indica que 2015 foi o ano com o maior número de episódios de chacinas, com um total de 64 eventos. Já 2017 registrou o maior número de vítimas, com 382 mortes, seguido por 2015, com 305 mortes.

 

Para Amarílis Costa, diretora-executiva da Rede Liberdade, esses números evidenciam um padrão de violência estrutural contra populações vulneráveis. “Há uma violência direcionada e uma omissão persistente das autoridades em proteger essas comunidades. Esse cenário exige uma resposta urgente e um comprometimento do Estado”, afirma.

 

A pesquisa revela ainda que as chacinas atingem de forma desproporcional comunidades negras, quilombolas e indígenas, o que indica uma seletividade dos homicídios. Sem dados oficiais detalhados sobre o perfil racial das vítimas, os pesquisadores estimam que a maioria desses crimes ocorre em territórios majoritariamente negros.

 

De acordo com Rodrigo Portela, consultor e um dos pesquisadores do estudo, a violência se concentra desproporcionalmente nessas comunidades. “Este estudo mostra que comunidades inteiras permanecem desprotegidas, e o Estado falha em oferecer políticas de reparação para as famílias das vítimas”, observa.

 

O estudo também destaca que a ausência de um monitoramento unificado e de medidas de responsabilização reforça a invisibilidade das chacinas. Sem informações detalhadas sobre as vítimas — como raça, idade e condição social — e sem um banco de dados oficial, a compreensão desses eventos permanece incompleta.

 

Os pesquisadores observam que a década de 1990 teve uma subnotificação de chacinas devido à limitação dos dados disponíveis, baseados principalmente em registros secundários e jornalísticos. Somente a partir de 2011, com o aumento da cobertura midiática e o uso mais frequente do termo “chacina” para descrever esses eventos, a base de dados se consolidou e permitiu uma compreensão mais precisa da escala do problema. Essa lacuna histórica, segundo eles, dificulta uma resposta mais direcionada às comunidades afetadas.

 

Diante dessa falta de dados e da impunidade persistente, os autores do levantamento reforçam a necessidade de um acompanhamento mais efetivo e de uma estrutura de segurança pública que proteja essas populações.

 

“O dado mais importante que se obteve é o de apagamento dessas vítimas, que, ao nosso ver, serve para a manutenção de um projeto de destruição material de corpos e populações julgados como descartáveis e supérfluos, caracterizados como vidas matáveis e sem valor”, conclui o documento.

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Wallyson Costa

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