Universo intelectual dispõe a partir de dezembro de novo livro do escritor Rui Leitão rememorando fase difícil da história brasileira
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Jornalista Rubens Nóbrega e escritor Waldir Porfirio apresentam a obra
O livro “EU VIVI A DITADURA MILITAR”, está programado para ser lançado no dia 13 de dezembro, data em que completam 60 anos do AI-5. Publicado pela editora A UNIÃO, da Empresa Paraibana de Comunicação, tem 260 páginas, e conta com prefácios do jornalista Ruben Nóbrega e do historiador Waldir Porfírio, além da apresentação do autor, com preço de capa no valor de 60 reais.
Está em campanha de pré-venda ao preço promocional de 50 reais, até a data do lançamento, com frete grátis. Os interessados deverão se comunicar com o autor através do endereço eletrônico: rleitao276@gmail.com.
AULA DE HISTÓRIA
Rubens Nóbrega
Jornalista e analista político
Ler Rui Leitão é lembrar – para não esquecer, nem deixar repetir – o mal que fez ao Brasil como um todo e aos brasileiros em geral a ditadura inaugurada pelo golpe militar de 1964.
Ler Rui Leitão é se informar e entender – para não deixar que prosperem – tendências e tentativas de reedição do regime que prendeu, perseguiu, caçou, cassou ou matou milhares de pessoas por serem divergentes ou diferentes dos opressores.
Ler Rui Leitão é se preparar para resistir à intolerância, ao preconceito e ao extremismo político de quem quer e defende a morte da democracia com o extermínio de quem resiste ao intolerante, ao preconceituoso e ao extremista.
Ler Rui Leitão é ter aula da história sem professor que usa subterfúgio para esconder ou proselitismo para convencer, mas não foge aos fatos históricos que expõe didática e objetivamente para o entendimento mais clarividente do leitor.
Ler Rui Leitão é assimilar conteúdos de quem sabe, com maestria, conectar temas e abordagens à realidade presente, com todos os fundamentos do passado recente e argumentos que conduzem a um futuro mais condizente com nossas melhores expectativas e esperanças.
Ler Rui Leitão garante acesso a pressupostos, efeitos e consequências do falso patriotismo que não consegue encobrir o entreguismo patético e a vassalagem mais ridícula dos devotos da submissão do país ao poder, valores e interesses de potências estrangeiras.
Ler Rui Leitão é encontrar em sua escrita o bom combate firme e determinado contra injustiça social, desigualdade regional, destruição dopatrimônio natural e obscurantismo a serviço das trevas.
Ler Rui Leitão é, enfim, descobrir nele um defensor inesgotável da fraternidade real entre todos os seus concidadãos, com harmonia e paz fundadas no respeito integral e apoio irrefutável às Liberdades Civis, aos Direitos Humanos, à Soberania Nacional e ao Estado Democrático de Direito.
Sei de tudo isso porque leio Rui Leitão. E este livro só reforça a vontade e a necessidade de recomendar que todas e todos o leiam também. Porque ler Rui Leitão faz bem, faz muito bem.
MEMÓRIA E VERDADE DA DITADURA MILITAR NO BRASIL
Waldir Porfírio da Silva
Psicólogo, advogado, escritor, mestre em direitos humanos, políticas públicas e cidadania
O escritor Rui Leitão nos brinda, quase que diariamente, com artigos sobre fatos ocorridos durante o estado autoritário que iniciou a partir de 1964, com o golpe civil-militar, que agora toma forma de um livro que merece nossa atenção e leitura, em especial, por conta do tempo que estamos vivendo com eventuais tentativas de grupos novos golpes e defesa, por grupos políticos e ideológicos de extrema-direita, que defendem e apelam por uma nova intervenção militar em nosso país.
“Eu Vivi a Ditadura Militar”, a mais nova obra do meu confrade do Instituto Histórico e Geográfico Paraíbano, mergulha profundamente nos anos de chumbo do Brasil, um período marcado por repressão, censura e resistência, violações dos direitos humanos, incluindo torturas, prisões arbitrárias, desaparecimentos e assassinatos. Rui Leitão busca resgatar a memória desses tempos difíceis, oferecendo uma visão crítica e detalhada dos acontecimentos.
Uma característica nos artigos de Rui Leitão, aqui transformados em capítulos, é a peculiar narrativa dos fatos, muitas vezes em forma de crônicas, que são lembrados com a leveza da pena do autor que compartilha suas experiências pessoais e observações sobre a resistência estudantil, artística e intelectual ao regime.
As fontes para seus artigos, em sua maioria, são extraídas dos relatórios da Comissão Nacional da Verdade e da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória do Estado da Paraíba, que tiveram papel crucial em documentar, seja por testemunhos das vítimas, ou arquivos dos serviços secretos que funcionaram no decorrer nos 21 anos de sombrios.
Podemos dividir esta obra em quatro pilares fundamentais:
(1) Resistência e Repressão, quando é explorado os diversos movimentos de resistência que surgiram em resposta à opressão do governo militar, desde a militância estudantil até a atuação de artistas e intelectuais;
(2) Violação dos Direitos Humanos, quando não é poupado os detalhes nas descrições às atrocidades cometidas pelo regime, incluindo torturas e desaparecimentos, enfatizando a importância de lembrar e aprender com o passado;
(3) Memória e Verdade, quando sublinha a necessidade de resgatar e preservar a memória histórica para combater o negacionismo e garantir que os erros do passado não se repitam;
(4) a Análise Crítica feita pelo autor sobre o impacto da ditadura na sociedade brasileira, discutindo as consequências sociais, políticas e econômicas que perduram até hoje.
As vigas e lajes desses pilares podem ser vistos nos seguintes artigos, dentre outros: “O último discurso de Jango como presidente”; “A consolidação do golpe”; “O incêndio da UNE”; “Golbery: criamos um monstro” (ao referir-se à criação do Serviço Nacional de Informação que bisbilhotou a vida e deu provas para punição de opositores); “O parlamento legalizou o golpe militar”; “O primeiro Ato Institucional” e “As cassações e prisões após o AI 1” (que cassou mandatos eletivos e suspendeu direitos políticos, prendeu opositores, elencando os paraibanos vitimados por ele); “Bipartidarismo: a democracia do ‘faz de conta’”; “Forças militares invadiram o Congresso em 1966”; “A Frente Ampla” (formada por adversários políticos que se uniram contra a ditadura; Carlos Lacerda, João Goulart e Juscelino Kubitschek).
Adentra das violações aos direitos humanos: “Pedro Fazendeiro e Nêgo Fuba” (dois líderes camponeses que foram os primeiros desaparecidos políticos da ditadura); “O caso das mãos amarradas” (trata das torturas sofridas pelo sargento Manoel Domingos no Rio Grande do Sul e a simulação de sua morte pelos agentes do regime); “Prisão preventiva de estudantes paraibanos”; “DOI-CODI – Centro de repressão da ditadura”; “O suicídio forjado” (trata-se do assassinato da militante Iara Iavelberg, companheira de Carlos Lamarca); “A Guerrilha do Araguaia” (relata a resistência dos guerrilheiros do PCdoB e a reação da ditadura com torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados dos corpos);
Em tempo: “A granja do terror” (propriedade particular de Campina Grande que foi cedida para que militares pudessem torturar presos políticos); “Vítimas das sessões de torturas nos anos de chumbo” (trata-se da morte sob tortura do jornalista Vlademir Herzog); “Tortura que nos envergonham”.
Elenca fatos da resistência ao estado autoritário: “A luta armada contra a ditadura militar”; “A morte que incendiou o Brasil” (revolta estudantil ao assassinato de Edson Luís) e “Da missa para a batalha campal” (o enfrentamento dos estudantes nas ruas contra a polícia após a missa de 7º dia de Edson Luís, enfatizando o ocorrido em João Pessoa); “O ‘QG’ do movimento estudantil secundarista” (cita o Liceu Paraibano e o Restaurante Universitário da Lagoa como pontos de organização e mobilização); “A pregação revolucionária de Dom José Maria Pires”, “A Conferência de Dom Helder”, “os Bispos Vermelhos” e “A ameaça de prisão de Dom Fragoso” (indiscutíveis pregadores da igreja católica da resistência e da defesa dos direitos humanos); “A ocupação da FAFI”; “O desbaratamento de um aparelho comunista”;
Cita a ação de grupos da sociedade civil em apoio ao regime: “O terrorismo da extrema-direita na ditadura” (a atuação do Comando de Caça aos Comunistas); e “Membros do TFP expulsos da Paraíba” (trata-se de militantes fascistas que defendiam a Tradição, Família e Propriedade), além da utilização pela oposição da cultura como forma de resistência: “A vida não se resume a festivais”; “O Pasquim”; “A lei da censura prévia”; “O teatro do oprimido”; “Cantata para Alagamar”; “A produção cultural Brasileira no exílio”; “Cantos da Rebeldia”; “A volta de Vandré ao Brasil”.
Uma parte do livro muito instigante são os artigos que tratam do memorável discurso do então deputado federal Márcio Moreira Alves, em 1968, que denunciou torturas nas masmorras da ditatura e toda a reação do comando ditatorial para punir o parlamentar até o impensável Ato Institucional nº 5.
Nela estão “A reação dos parlamentares da ARENA”; “A posição firme de Ernani Sátyro”, “Nervosismo político às vésperas do julgamento”; “A ditadura vencia mais uma batalha”; “A história poderia ter sido alterada”; “Ao Rei tudo, Menos a honra”; “A vitória do parlamento brasileiro”; “A pressão dos militares”; “A reunião do Conselho de Segurança Nacional”; “A noite que durou 10 anos”.
Rui também escreveu sobre o processo que iniciou a transição democrática entre o estado autoritário e o seu fim, com a Nova República: “O projeto de Anistia”; “Enfim a anistia, ainda que restrita”; “A sansão da lei de anistia”; “A extinção da ARENA e do MDB”; “O nascimento do Partido dos Trabalhadores”; “Faltaram 22 votos”; “A eleição que abriu caminho da redemocratização”; “A morte de Tancredo e o fim da ditadura militar”; “O anúncio da revogação do Decreto-Lei 477”; e “O réveillon da redemocratização”.
“Eu Vivi a Ditadura Militar”, além de ser uma leitura essencial para aqueles que desejam compreender a complexidade do período ditatorial no Brasil, também serve como um alerta sobre os perigos do autoritarismo e a importância de defender a democracia e os direitos humanos e um apelo para que as gerações presentes e futuras se engajem na construção de uma sociedade mais justa e democrática.
APRESENTAÇÃO DO AUTOR
Rui leitão
jornalista e escritor
Boa parte da sociedade brasileira que defendia, e continua defendendo, a intervenção militar, não viveu a experiência de um governo ditatorial. Eu vivi. No livro “1968 – O Grito de uma Geração”, editado em 2013, relato, na ordem cronológica dos acontecimentos, os momentos sombrios que todos nós enfrentamos naquele ano.
Fui protagonista e testemunha de fatos que marcaram os movimentos de resistência ao regime, pela militância estudantil, artistas e intelectuais. Sem dúvidas, foi um tempo muito tenebroso com inúmeras perseguições e mortes.
O período de 1964 a 1985 ficou conhecido como “anos de chumbo”, quando pessoas das mais diferentes classes sociais, em todo o Brasil, enfrentaram consequências intensamente cruéis e desumanas, como torturas, prisões, desaparecimentos e assassinatos. Não há como apagar essa sombria página de nossa História.
É preciso resgatar a memória dessa época, para que as gerações contemporâneas e futuras conheçam a magnitude das violações de direito promovidas pela Ditadura Militar, e assim reagir contra o “negacionismo histórico” que o governo passado tentou implementar, num esforço de absolver o Golpe de 64 e seus líderes.
É necessário conhecer as verdades históricas desse período, por muitos, estrategicamente, ocultados na educação das novas gerações. Com a compreensão crítica do processo histórico, podemos caminhar em direção a uma democracia social e participativa, que possibilite mudar as estruturas sociais brasileiras que geram a miséria, a pobreza, as desigualdades e a exclusão social.
Muitos brasileiros, dissidentes políticos perseguidos pelo regime militar, passaram a viver na clandestinidade. Fugiram para não morrer. A Comissão Nacional da Verdade é uma importante fonte documental do período, reunindo os relatórios sobre os diversos crimes praticados pela ditadura.
Neles encontramos depoimentos de estudantes, professores, militares, operários e integrantes de grupos da luta armada que se formaram principalmente após o endurecimento do golpe, com o Ato Institucional Nº 5.
A ditadura deixou, pelo menos, 434 mortos e desaparecidos, usou técnicas como choques e pau de arara para torturar os que desafiavam o autoritarismo do governo instalado, instituiu a censura na imprensa e na arte, cassou políticos, aumentou a desigualdade social e cerceou a liberdade de expressão. Tentou calar seus opositores censurando qualquer tipo de mensagem contrária aos seus interesses. A ruptura democrática ocorrida em março de 1964, originalmente era chamada de “revolução”, por seus promotores, depois nomeada, acertadamente, como um “Golpe civil-militar”.
A cultura autoritária legada pela ditadura continua sendo exercida por alguns ocupantes de cargos eletivos, alinhados ideologicamente à extrema direita, embora travestidos de defensores da democracia. O historiador Paulo Ribeiro da Cunha, numa análise de trabalho realizado pela Comissão Nacional da Verdade, afirma que “a mídia contemporânea submetida aos interesses do capital manipula dados, distorce fatos e ainda cria versões da realidade segundo a ótica das elites”. E assim, “garantindo a versão meritocrática do liberalismo, dando continuidade à concepção conservadora das elites brasileiras”.
Mas a propaganda procurava transmitir a imagem de um país que se desenvolvia. O Estado sempre utilizando o poder repressivo e o poder ideológico, sem qualquer escrúpulo. Era o império da força. A cultura do medo era difundida com o propósito de erradicar a ameaça subversiva, por eles assim compreendida. Rever essa fase truculenta e traumática de nossa história é colaborar com o fortalecimento do processo democrático que esteve recentemente atacado. Ditadura nunca mais.
Sobre o autor
Paraibano, nascido em Patos. É articulista do portal de notícias WSCOM desde 2011. É Sócio efetivo da Academia Paraibana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba e da Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Obras publicadas:
- 1968 – O GRITO DE UMA GERAÇÃO Editora UEPB – 2013;
- A ESSÊNCIA DA SABEDORIA POPULAR Editora A UNIÃO – 2014;
- CANÇÕES QUE FALAM POR NÓS
Editora A UNIÃO – 2016
- SENTIMENTOS, EMOÇÕES & ATITUDES Mídia Gráfica e Editora – 2017
- UM OLHAR INTERPRETATIVO DAS CANÇÕES DE CHICO
Editora IDEIA – 2020
- REVOLUCIONÁRIAS
Editora A UNIÃO – 2023
Até na Guerra existe ética, se o inimigo é feito prisioneiro deve ser desarmado e alimentado, porém jamais poderá ser torturado ou morto, sob pena de que quem o fizer, responderá às Cortes Marciais.
Portanto, o governo militar agiu fora da lei ao torturar e matar civis. O Estado não tem o direito de proceder dessa forma, se um estudante era suspeito de subversão, deveria ser investigado, julgado, preso ou liberado conforme a lei, torturar e matar jamais, isto é coisa de militar criminosi.