Rogério Sobreira, economista-chefe do Banco do Nordeste, analisa o futuro da região em meio a um cenário macroeconômico desafiador, destacando oportunidades em infraestrutura, energias renováveis e turismo
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Por Luciana Leão
Apesar de um cenário de juros elevados, a economia do Nordeste mantém projeções animadoras para o fim deste ano. A região deve crescer acima da média nacional em 2024, com destaque para setores como indústria e serviços. A Paraíba, por exemplo, lidera o crescimento nacional com uma taxa de 6,8%.
Em entrevista exclusiva à NORDESTE, Rogério Sobreira, economista-chefe do Banco do Nordeste, analisa os desafios e oportunidades para a região a partir de 2025. Ele discute como a região pode enfrentar questões macroeconômicas globais, como a volatilidade cambial e as políticas de protecionismo dos EUA, enquanto aproveita oportunidades em áreas como infraestrutura, energias renováveis e turismo.
Rogério Sobreira também sublinha a importância de políticas públicas voltadas ao aumento do poder de compra das classes mais baixas e ao fortalecimento da industrialização, elementos cruciais para garantir um crescimento inclusivo e sustentável.
Revista NORDESTE– As projeções para a região permanecem positivas? O que pode influenciar essa tendência?
ROGÉRIO SOBREIRA– As projeções permanecem inalteradas, mas o viés é de uma pequena alta, tanto para a região, quanto para o Brasil.
NORDESTE– O crescimento do Nordeste acima da média nacional é sustentável? Que fatores podem consolidar ou ameaçar essa trajetória?
ROGÉRIO SOBREIRA – Os maiores desafios para a manutenção deste crescimento são três: (1) a política monetária, que entrou novamente em uma espiral contracionista, que vai elevar o custo do crédito, dificultando os investimentos e o consumo das famílias; (2) a perspectiva do corte de gastos públicos, que irá subtrair força da demanda agregada, prejudicando principalmente o setor de serviços, que é bastante importante na região; e (3) o fortalecimento do dólar e uma possível retomada de políticas protecionistas pelos EUA, piorando o quadro inflacionário doméstico por um lado e, por outro, podendo afetar as exportações da região.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES
NORDESTE – Quais políticas públicas poderiam maximizar os impactos econômicos na região, dado o atual contexto macroeconômico?
ROGÉRIO SOBREIRA– Dois conjuntos de políticas públicas seriam importantes de serem mantidos: (1) aquelas voltadas para crescimento do poder de compra das classes de renda mais baixas; e (2) políticas voltadas para apoiar a industrialização na região, em especial no âmbito da política Nova Indústria Brasil (NIB) do governo federal.
NORDESTE- Infraestrutura e logística continuam sendo gargalos na região. Como o senhor projeta esses setores para 2025?
ROGÉRIO SOBREIRA – O gargalo é também uma enorme oportunidade. O investimento nesses setores depende não só de manter o custo do crédito dentro de um intervalo adequado, mas também da construção/aperfeiçoamento dos marcos legais necessários a apoiar o investimento privado, haja visto que estes gargalos são melhor enfrentados através do investimento privado e PPPs. No que diz respeito à projeção para 2025, o cenário é bastante favorável, se os dois pontos que coloquei acima forem adequadamente endereçados.
NORDESTE– Entendo. Mas, como transformar desafios em oportunidades num cenário macroeconômico repleto de incertezas?
ROGÉRIO SOBREIRA – A região possui ainda enormes gargalos que são também oportunidades, como dito acima. Os principais desafios para a materialização dos investimentos, tanto aqueles maiores, estruturantes, quanto os menores, são ainda o elevado custo de crédito, a ainda elevada volatilidade macroeconômica.
Veja o comportamento do câmbio, por exemplo – a menor perspectiva de crescimento do setor externo e a perspectiva da retomada das guerras comerciais. No entanto, tais desafios podem ser adequadamente endereçados, o que pode significar apenas um pequeno atraso na materialização dos investimentos, do crescimento e do desenvolvimento da região.
SETORES EM DESTAQUE
NORDESTE – Investimentos em energia renovável têm sido frequentes no Nordeste. Quais os impactos desses projetos na economia regional?
ROGÉRIO SOBREIRA- Os impactos são elevados, seja sob o ponto de vista dos seus efeitos multiplicadores no emprego, seja sob o ponto de vista da geração de renda na região.
Adicionalmente, os investimentos em energias renováveis, onde a região possui uma clara vantagem comparativa, colabora para apoiar o desenvolvimento do segmento de hidrogênio verde que, por ter diversas aplicações, possui um enorme potencial de impacto para a economia da região.
NORDESTE– Assim como a energia renovável, o turismo é uma indústria de peso no Nordeste. Como consolidar o Nordeste como destino internacional? Qual relevância seria a região ter mais investimentos em segurança pública, infraestrutura e promoção turística
ROGÉRIO SOBREIRA – A indústria do turismo é uma das que mais cresce no mundo, evidenciando sua importância. Na região, existe um amplo horizonte a ser aproveitado neste campo, haja visto ainda pequena participação que o turismo tem no PIB regional.
A região possui indiscutivelmente uma grande perspectiva de desenvolvimento do seu potencial turístico, inclusive e principalmente do turismo sustentável, que é aquele cuja demanda tende mais a crescer. Naturalmente, os indicadores de violência da região e do país deveriam ser melhorados a fim de auxiliar no desenvolvimento desta indústria.
INCENTIVOS FISCAIS
NORDESTE– Qual o papel dos incentivos fiscais no desenvolvimento regional, especialmente com a reforma tributária?
ROGÉRIO SOBREIRA – Sob o ponto de vista dos principais incentivos fiscais e do fundo constitucional do Nordeste (FNE), a reforma tributária não sinaliza praticamente nenhuma mudança para o futuro. Contudo, existe uma tendência de evidenciar continuamente os impactos destes incentivos na região, algo que o BNB já faz e está trabalhando para aprimorar ainda mais essas evidências.
NORDESTE- Quais são as principais fontes de investimento esperadas para o Nordeste, a partir de 2025? Há alguma indicação por setores específicos, como infraestrutura, turismo ou tecnologia?
ROGÉRIO SOBREIRA – Os maiores investimentos na região, no futuro próximo, devem se concentrar em infraestrutura – saneamento, principalmente – ainda energias renováveis por conta das perspectivas para o hidrogênio verde, logística – estradas, ferrovias e portos – e, em menor grau, turismo, neste caso por conta da ainda elevada volatilidade macroeconômica. É importante mencionar, ainda, o potencial representado pelos data centers.
NORDESTE – Por fim, dado o cenário de juros altos, quais setores da economia nordestina devem enfrentar maiores dificuldades?
ROGÉRIO SOBREIRA – Aqueles mais diretamente ligados ao consumo das famílias, com destaque para os serviços e o pequeno comércio.