Por José Natal*
Não vamos aqui recorrer ao Antigo Testamento, nem pesquisar a vida de Nabucodonosor, para justificar o porquê dessa história dos ídolos com pés de barro. Os mais curiosos, certamente vão recorrer ao Google ou a Inteligência Artificial para entender afinal, que diabo é isso. Muito simples, quem tem os pés de barro são aqueles que ostentam o que não tem, se passam pelo que nunca foram e enganam muita gente durante muito tempo.
Mas não o tempo todo. Analogias a parte, muito triste a realidade do nosso futebol, esporte que nos acalenta, nos diverte, nos emociona e, muitas vezes, nos livra de angústias e outras dores.
Além dos dissabores causados pela nossa Seleção, nos últimos tempos, a penitência agora é lamentar, a sequência de ler, assistir e ouvir falar do crescente número de ídolos do nosso futebol envolvidos, ou citados em questões nada relacionadas aos bons costumes. O caso mais recente, e lastimável, envolve o jogador Bruno Henrique, do Flamengo, clube de maior torcida do País.
Nada foi ainda provado contra ele, mas o simples fato da robusta citação negativa, já abala os sentimentos e as emoções do torcedor. Nos últimos tempos a série de escândalos e denúncias envolvendo jogadores famosos é de fazer inveja ao mundo político, onde a hipocrisia é a coisa mais sincera. Alguns ídolos do nosso futebol estão com as piscinas cheias de rato, e como cantava Cazuza, muitas coisas nesse mundo da bola não correspondem aos fatos.
Muitos deles, ricos e paparicados, se enveredaram pelo caminho do luxo e beleza, e dane-se aquele amor que outrora unia torcida, futebol e paixão. Sinal dos tempos modernos, e o tempo não para. Não para de exportar nossos garotos bons de bola, que são vendidos a preço de ouro para o mercado europeu, que por lá aprendem a jogar o futebol deles, e esquecem como se joga o nosso.
O resultado só não enxerga quem não quer. Nossa seleção, antigamente verde e amarela, hoje é composta por um bando de gente tatuada da cabeça aos pés, que sem o número na camisa a torcida não sabe nem quem é. Lembram-se do Neymar, aquele garoto mimado que jogava no Santos e se bandeou pra Europa e hoje virou filhote de Mustafá? Pois é, ele mesmo que por aqui um dia se envolveu numa polêmica de assédio, se livrou da justiça e entre uma contusão e outra, fazia um gol para seleção, e depois rolava no chão como se fosse um doente com a febre do rato.
Robinho, aquele outro que veio da Vila, também ganhou o mundo, violentou mulheres e hoje faz pedaladas na cadeia. Sem direito a replay. Rico, poderoso e muitas vezes aclamado no Brasil como um exemplo de atleta vencedor, Daniel Alves também deu sua parcela de ajuda nessa nefasta investida de somar vergonhas ao País do futebol. A coisa não para por aí.
Todos se recordam da lista de 16 jogadores, ligados a vários clubes do País, julgados e condenados pela justiça a pagar pelos erros, implicações nos acertos sobre resultados de jogos pelo campeonato brasileiro. Estão em andamento processos que investigam Luiz Henrique, do Botafogo, e Paquetá, que joga na Europa.
A justiça quer saber o que há de verdade sobre o envolvimento deles com negociatas de apostas, atitudes suspeitas que não deveriam fazer parte da conduta de craques que são ídolos de imensas torcidas. Não há como não lamentar tudo isso. Os torcedores, aqueles que adoram o chamado futebol raiz, das peladas e dos estádios, da leitura dos cadernos esportivos de outros tempos, não aprovam essas atitudes.
Bons tempos do Flamengo de Joel, Moacir, Dida e Babá. E, é claro, do insuperável ídolo maior, o nosso Zico – o eterno galinho de Quintino. Do Botafogo de Nilton Santos, Jairzinho e Garrincha. E também do Vasco de Barbosa, Ademir e Friaça. Do tricolor de Castilho, Didi e Telê Santana. Do Santos, de Pelé, do Palmeiras, de Ademir da Guia e Dudu. Não há como não invocar um certo saudosismo, o futebol é assim.
É feito de boas lembranças, o torcedor apaixonado é um eterno contador de histórias, que de alguma forma envolve seu clube de coração. Não é saudável, e nem um pouco agradável, as histórias que hoje jogadores sem apreço às suas torcidas, ao invés de alegria a festa, insistem em seguir algo sabidamente fora do que acontece no campo de jogo.
Cabe a CBF, aos clubes e a todos aqueles dirigentes que cuidam do futebol como um bem valioso para o esporte no País a missão de zelar pelas instituições que dirigem.
Esse abalo, que o caso recente que envolve Bruno Henrique, talvez sirva como um sinal de alerta para que todos entendam que, para que o Brasil continue sendo o País do futebol, é preciso que tudo seja de fato dentro do campo de jogo, dentro da lei. Sem que se exija a presença do VAR.
*José Natal é jornalista