Por Matthew Ward Agius – da DW
As pesquisas eleitorais nos Estados Unidos indicam que a disputa entre a candidata democrata, Kamala Harris, e o candidato republicano, Donald Trump, está acirrada e que a diferença entre os dois deverá ser muito pequena.
As sondagens dizem que Harris lidera a corrida com uma vantagem de cerca de 2 pontos percentuais, mas também é verdade que Trump nunca esteve tão próximo como agora de um candidato rival nas pesquisas nacionais.
Apesar de a maioria das pesquisas ter corretamente afirmado que o então candidato democrata, Joe Biden, venceria a eleição de 2020, a margem de vitória sobre Trump foi bem menor do que as pesquisas então sugeriam.
Em 2016, Trump claramente venceu a eleição, apesar de os levantamentos sugerirem que a então candidata democrata, Hillary Clinton, venceria por larga margem.
Posteriormente, o instituto Pew Research Center verificou que pelo menos 88% das pesquisas nacionais superestimaram a popularidade dos candidatos democratas.
“Pesquisas que consideram todo o país são enganosas quando tentam generalizar o que vai acontecer”, observa o especialista Thomas Gift, da University College London, uma universidade pública da Inglaterra.
“Neste momento, por exemplo, parece que Kamala Harris vai ganhar no voto popular – ela está na frente por alguns pontos percentuais. Mas não está claro se ela ganhará no Colégio Eleitoral.”
No complexo sistema eleitoral dos EUA, o que conta não é o total de votos obtido em todo o país (o voto popular), mas as vitórias nos estados, o que garante os votos dos delegados estaduais que formam o Colégio Eleitoral que de fato elege o presidente.
No momento, os analistas de pesquisas eleitorais avaliam que os Estados Unidos estão divididos igualmente entre os dois candidatos.
Entre a ciência e a arte
E será que as pesquisas estarão certas desta vez? Isso depende de os entrevistadores conseguirem chegar a uma parte bem específica da população que vota em Trump.
Ao avaliar a intenção do eleitor, os pesquisadores tentam levar em conta o maior número possível de variáveis.
“Entrevistamos pessoas que são muito diferentes umas das outras e fornecemos essas informações ao público”, diz Don Levy, diretor do Siena College Research Institute, que produz a que é considerada uma das pesquisas de melhor qualidade para o jornal The New York Times.
Como regra geral, as pesquisas de opinião tentam obter aleatoriamente uma amostragem suficiente de “prováveis eleitores” para produzir um resultado dentro de um nível de confiança de 95% – o que significa que o mesmo resultado ocorrerá 95 vezes em 100 – e dentro de uma determinada margem de erro, geralmente em torno de 3%-4%.
O tamanho da amostragem necessária para atender a esses parâmetros é baixo. Cerca de 600 pessoas é tudo o que um pesquisador precisa para representar uma população de 100 mil dentro de uma margem de erro de 4 pontos percentuais. Para uma margem de 3 pontos são necessárias mil.
Essa é a ciência da pesquisa eleitoral. A arte é encontrar a combinação representativa correta na amostragem para tornar a pesquisa o mais precisa possível, e cada instituto tem o seu método.
A primeira coisa a ser feita é verificar se alguém é um provável eleitor. Na eleição americana anterior, pouco mais da metade dos aptos a votar costuma comparecer às urnas, então não faz muito sentido ouvir alguém que depois nem sequer votará.
O Siena faz isso combinando o histórico de comparecimento do eleitor às cabines de votação com uma entrevista verbal por telefone.
Se um entrevistado se encaixa na definição de provável eleitor do Siena, ele é questionado sobre seu voto e, em seguida, categorizado demograficamente para formar uma determinada cota na pesquisa – quanto mais granulares forem essas amostras, ou seja, quanto maior o seu nível de detalhamento, mais robustos serão os resultados da pesquisa.
O Siena tem cerca de 40 cotas únicas que ele tenta compor para representar com precisão os dados demográficos de um eleitorado, incluindo variações de gênero, etnia, idade, nível de escolaridade e assim por diante.
“Nós nos esforçamos ao máximo para formar essas cotas, não apenas em relação aos Estados Unidos como um todo ou ao estado da Pensilvânia como um todo, mas também por regiões do estado”, diz Levy.
O eleitor anti-establishment de Trump
Obter amostragens representativas em 40 cotas não é uma tarefa fácil. Em 2016 e 2020, claramente houve uma falha nas metodologias de pesquisa que subestimou substancialmente a intenção de voto em Trump entre o eleitorado americano.
Levy atribui a diferença entre as pesquisas e o resultado final à dificuldade dos pesquisadores em captar um subconjunto específico da população, que ele chama de “viés de não resposta e anti-establishment” – nele estão os americanos que apoiam Trump e se recusam a participar das pesquisas que tentam incluí-los.
Levy diz que praticamente todos os institutos de pesquisa cometeram esse erro e suspeita que não captar esse eleitor anti-establishment significou de três a sete pontos de erro em 2020. A solução é óbvia: incluir esses rebeldes.
“Havia uma percentagem significativa de entrevistados para os quais eu ligava e dizia: ‘Aqui é o Don, do Siena College Research Institute, estou fazendo uma pesquisa eleitoral’, e eles simplesmente gritavam ‘Trump!’ e desligavam”, diz Levy.
“Em 2020, nós os registramos, mas eles não foram incluídos, e quando fomos verificar, mais tarde, descobrimos que, se tivéssemos contado essas pessoas, teríamos corrigido cerca de 40% do erro. Desta vez, nós as estamos incluindo.”
A importância da Pensilvânia
Nos Estados Unidos, o presidente é eleito por um Colégio Eleitoral, onde ele precisa obter pelo menos 270 dos 538 votos, e não diretamente pelo voto popular.
Os delegados do Colégio Eleitoral são divididos entre os 50 estados, e esses delegados são obrigados a votar no vencedor do voto popular no estado (há duas exceções a esse método “o vencedor fica com tudo”: Nebraska e Maine. Esses estados alocam dois delegados para o vencedor do voto popular estadual e um delegado para o vencedor do voto popular em cada um de seus distritos).
Esse sistema complexo já levou Trump e George W. Bush (em 2000) a serem eleitos pelo Colégio Eleitoral apesar de terem menos votos dos eleitores do que seus concorrentes.
Para prever o resultado do Colégio Eleitoral, os analistas e comentaristas transferem os resultados das pesquisas num mapa com estados “vermelhos” (onde os republicanos certamente vão vencer), azuis (onde os democratas têm vitória certa) e “indecisos” (também chamados swing states, ou estados-pêndulo). Eles fazem isso prevendo qual candidato ganhará o voto popular em cada distrito eleitoral estadual.
No momento, a maioria dos analistas concorda que sete estados considerados indecisos vão, ao fim, decidir a corrida à Casa Branca: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin.
Devido à disputa acirrada deste ano, um destes está sendo observado com especial atenção: a Pensilvânia, um estado tido como indicador do resultado final, pois ficou do lado do presidente eleito nas quatro eleições anteriores e que tem 19 valiosos votos no Colégio Eleitoral.
“É muito difícil imaginar qualquer um dos candidatos chegando à Casa Branca sem vencer na Pensilvânia”, diz Gift, que é nativo desse estado.
Gift diz que a quantidade de dinheiro que está sendo gasta por ambos os lados na Pensilvânia e a atenção que está sendo dada a ela são claros sinais da sua importância. “Os candidatos estão fazendo tudo o que podem para vencer na Pensilvânia. Eu realmente acho que esse é o ponto central desta eleição”, diz Gift.
*Foto: Alex Wong/Getty Images