Por Rosa Aguiar – especial para a Revista Nordeste, publicada na edição 213. Leia abaixo ou acesse aqui, pelo APP Nordeste
A produção de cana-de-açúcar está ligada a história do Brasil e foi esta cultura que deu sustentação ao processo de colonização do país. Da cana de açúcar vinha o “ouro branco”, o açúcar, especiaria muito valiosa, interesse dos portugueses e outros povos que por aqui vieram. O ciclo do açúcar foi a principal base econômica , social e cultural até meados do século XVIII. Na Paraíba há registros de introdução da cana de açúcar em 1579, na Ilha da Restinga, e historiadores afirmam que o primeiro engenho data de 1587. A capitania da Paraíba esteve entre as três maiores produtoras de açúcar, junto com Pernambuco e Bahia, e era conhecida por ter o melhor pão de açúcar das Américas.
A tradição dos engenhos paraibanos permaneceu durante séculos produzindo açúcar, rapadura, melado, e foi imortalizada na literatura de autores consagrados nacionalmente como José Américo de Almeida, em A Bagaceira, e José Lins do Rego, em Menino de Engenho.
Depois do período do apogeu veio o declínio dos engenhos e, desde a década de 1990, o ressurgimento deles com a produção de cachaça de alambique, que foi se aprimorando e, atualmente, dá fama ao Estado pela enorme quantidade de marcas e pela qualidade.
Produção de alambique em destaque no país
Produzidas em todas as regiões da Paraíba, do litoral ao sertão, a cachaça tem na Paraíba o maior produtor individual do país e é o Estado que mais consome a bebida feita em alambiques. Existe até o Dia da Cachaça Paraibana, 10 de junho, e a Capital Paraibana da Cachaça, a cidade de Areia, e tudo criado por lei.
O especialista em cachaça Maurício Carneiro, consultor do Sebrae Nacional nas áreas de agroindustrialização, produção, gestão de qualidade, instrutor do Senar e ministrante de curso de Sommelier de Cachaça afirma que a experiência dos alambiques paraibanos é reverenciada por produtores do país inteiro, e é constante a vinda de caravanas para acompanhar os métodos de produção. “A qualidade da cachaça da Paraíba é inconteste e eu afirmo que é a melhor cachaça de alambique do país.”
A qualidade das marcas de cachaças da Paraíba é comprovada pelo resultado dos concursos que participam, tanto no Brasil quanto no exterior, entre eles o Concurso Mundial de Bruxelas, o Ranking da Cúpula da Cachaça, o Concurso de Vinhos e Destilados do Brasil.
No Estado são mais de 80 marcas consolidadas produzidas em mais de 50 engenhos, entre elas, marcas como Matuta, Nobre, Boa do Brejo, Gregório, Serra Limpa, Ipueira, D´dill, Turmalina da Serra e muitas outras. “Se a gente pegar uma amostragem de 10 alambiques da Paraíba, com certeza, quase todos são medalhados. A média é de mais de duas medalhas para cada engenho paraibano participante dos concursos”, afirma Maurício.
Ele ressalta que a fase, agora, é atingir a excelência, com a valorização do produto. “Estamos com uma geração de produtores, de uns cinco anos pra cá, que recebeu o bastão já com muita qualidade, e essas novas gerações chegam imprimindo um novo patamar, com uma formação intensa. É o caso dos jovens produtores da nova geração da cachaça Triunfo, o Thiago Baracho, de Areia, a Luciana Loureiro, da cachaça São Paulo, em Cruz do Espírito Santo, Alexandre Rodrigues, da Baraúna, em Alhandra, Rafael Lemos, da cachaça Volúpia, em Alagoa Grande, entre outros”.
O presidente da Associação Paraibana dos Engenhos de Cachaça de Alambique, André Amaral Filho, defende a utilização da marca “Cachaça da Paraíba”. Ele afirma que “a valorização desse patrimônio vai consolidar a cachaça paraibana como ícone da identidade da Paraíba”. A Associação está fazendo um trabalho de fortalecimento da marca Cachaça da Paraíba e recentemente, entregou ao governador do Estado, João Azevedo, um documento intitulado “Programa de Fortalecimento dos Engenhos da Paraíba”.
“Ainda há muito o que desbravar dentro e fora da Paraíba, há muito o que crescer, tanto os médios quanto os grandes produtores. Já vivemos aqui a civilização do açúcar, temos uma tradição de mais de 400 anos de implantação dos engenhos , e novos terroirs a serem utilizados. A nossa cachaça é um produto nobre que agrega muito valor e pode levar a nossa tradição para o Brasil e para o mundo”.
Recentemente mais de 25 entidades paraibanas, entre elas a Associação dos Engenhos Produtores de Cachaça de Alambique, Aspeca, a Associação dos Produtores de Cachaça de Areia, APCA, Sebrae PB, Sesc PB, Senai PB, Conselho de Agronomia, Conselho de Química criaram a Câmara Setorial da Cachaça que tem o objetivo de fortalecimento da cadeia produtiva e da marca Cachaças da Paraíba