A geopolítica, os efeitos da IA ao mundo, o papel da mídia para combater mentiras e a liderança ascendente da China se credenciam em Cúpula Global
Essa reportagem foi publicada na edoção 213, da Revista NORDESTE, de outubro. Leia abaixo ou acesse pelo app da NORDESTE direto de seu smartphone clicando aqui
Por Walter Santos
Quem chega à China inevitavelmente impacta com a visível pujança do País na cena global a partir da sua estrutura, dos fatores econômicos e efeitos sociais, tanto que é também comprovada a atenção estratégica do País em desenvolver comunicação de qualidade abrigando conteúdos e cobertura relevantes na atualidade.
Só que desta feira a cena principal da conjuntura não se voltou exclusivamente sobre temas da economia e os conflitos no mundo, mas a busca de melhor domínio sobre a IA e os efeitos da desinformação a perturbar os países e lideranças.
Aliás, já faz algum tempo, o mundo de uma forma global convive com efeitos imensuráveis do universo tecnológico impactando fortemente a conjuntura da sociedade e, em especial da Mídia como instrumento de veiculação e formação da opinião pública, agora tendo que conviver com contextos graves de disseminação de Fakenews e Deep Fake a exigir Pacto Global reunindo Veículos e organismos de comunicação de vários países para evitar o caos.
Em síntese, esta foi a essência que fez a China liderar de 10 a 17 de outubro, em Urumqi, a 6ª Cúpula Global de Mídia reunindo representantes de 105 países visando consolidar estratégias comuns de melhores práticas tratando os efeitos produzidos por instrumentos como a Inteligência Artificial (IA) nas sociedades, entre eles a aplicação de uso de instrumentos como Fakenews buscando interferir nas realidades sociais dos países.
Como consequência da articulação produzida pela XINHUA, a impressão reinante é que a China consolida posição de liderança e vanguarda a partir das relações diplomáticas envolvendo países de todos os continentes na adoção de estratégia de avanços para avanços comuns.
Aliás, para formatar ações efetivas de contribuição, a Cúpula evoluiu para uma plataforma de alto nível para troca e coordenação de mídia global criando efeitos de reconhecimento internacional.
FALA DO PRESIDENTE
Segundo o presidente da XINHUA, Fu Hua, há esperança de que os meios de comunicação de vários países usem a partir da cúpula como uma oportunidade para discutir as responsabilidades e missões da mídia no contexto da transformação tecnológica, ao mesmo tempo em que experimentam um verdadeiro Xinjiang com diversidade, inclusão e hospitalidade.
Estudo com fundamentação
Para discutir propostas e encaminhamentos a contribuir com a mobilização e repercussão efetiva dos trabalhos da Cúpula, a organização se fundamentou na elaboração de um relatório de “Think Tank” intitulado “Responsabilidade e Missão das Mídias de Notícias na Era da IA”.
A partir deste documento formatado pela Agencia de Notícias China – XINHUA como co-organizadora da Cúpula, ficou evidente “os desafios e riscos para a indústria da mídia causados pelo uso indevido da tecnologia de Inteligência”.
É que, como tem sido atestado “o uso indevido e o abuso da IA tem contribuído para a ampla produção e disseminação de desinformação minando a confiança social que é essencial para as organizações de notícias desencadeando uma crise global de credibilidade do cenário de informação”.
Mais detalhes
Conforme se efetivou, líderes de mídia convidados incluindo Dmitrii Gornostaev, vice-editor-chefe do Rossiya Segodnya Media Group, e Tamas Kovacs, CEO do ATV Media Group, da Hungria se reuniram com presidente da XINHUA. Do Brasil estiveram presentes apenas o CEO da Revista NORDESTE, Walter Santos e o representante da Folha de São Paulo, Marcelo Benez.
Gornostaev disse que a Rossiya Segodnya colabora estreitamente com a Xinhua em estruturas multilaterais, como a Cúpula Mundial de Mídia e a Cúpula de Mídia do BRICS. Ele expressou vontade de continuar fortalecendo o intercâmbio e o aprendizado mútuo e de continuar aprofundando a cooperação prática com a Xinhua.
Kovacs comentou que a Xinhua desempenhou um papel significativo na promoção do intercâmbio e cooperação de mídias globais. Ele disse que a ATV valoriza muito a cooperação e espera expandir as áreas de cooperação e alcançar mais resultados frutíferos.
Durante a cúpula, a Xinhua também assinou documentos com a Agence France-Presse, o Mehr Media Group, do Irã, e a Agência de Notícias da Bulgária, concordando em divulgar a cooperação em áreas como troca de informações de notícias e visitas de pessoal.
Ainda, a constatação
Líderes globais de mídia destacaram as oportunidades e os desafios enfrentados pelos veículos de mídia mundiais na era da inteligência artificial (IA) depois que um relatório sobre IA foi divulgado por um think tank afiliado à Xinhua, a agência nacional de notícias da China.
“É um documento muito importante”, disse Waref Kumayha, presidente do Instituto de Estudos e Pesquisa da Rota da Seda do Líbano, observando que o mundo entrou em uma nova era como um resultado da tecnologia da IA generativa, que trouxe grandes mudanças para muitas indústrias, incluindo a mídia de notícias.
Segundo o relatório, a maioria, 66%, da mídia de notícias pesquisada em todo o mundo considerou o impacto da IA generativa na indústria de forma positiva. Além disso, 51,2% dos entrevistados já haviam começado a programar tecnologias de IA.
“A IA oferece à indústria de mídia a capacidade de ser mais eficiente ao fazer o trabalho pesado, liberando tempo para que nossos jornalistas e criativos expressem a estratégia e apresentem seu conteúdo e histórias de forma eficaz”, disse Viasen Soobramoney, presidente do conselho editorial da Independent Media da África do Sul.
A IA está capacitando inovações criativas em smartphones, reforçando a personalização da televisão e revolucionando a transmissão, disse Gao Jack Qunyao, presidente da Whale TV de Cingapura.
Falando na cúpula, Andrey Kondrashov, diretor-geral da agência de notícias TASS da Rússia, disse que a IA está profundamente transformando a indústria da mídia. “É essencial que os profissionais da mídia se unam e aproveitem essa oportunidade para utilizar essa tecnologia corretamente, para melhorar coletivamente o bem-estar humano.”
Mais regulamentação
No entanto, os veículos de notícias pesquisados também expressou apreensões sobre os possíveis riscos de credibilidade associados à IA, com uma maioria significativa, 85,6%, dos meios da mídia pesquisados acreditando que a aplicação da IA generativa exigia uma melhor regulamentação.
“É importante entendermos como a inteligência artificial está sendo aplicada, especialmente porque essas novas tecnologias frequentemente contribuem para a desinformação e o discurso de ódio que afetam a vida de milhões de pessoas em todo o planeta”, disse Pierre Krahenbuhl, diretor-geral do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Deepfakes e FakeNews
A disseminação da desinformação e dos “deepfakes” é uma questão importante que exige esforços coletivos para ser resolvida. A interação, em vez da divisão, dentro da comunidade profissional global deve ser nossa principal missão, disse Dmitrii Gornostaev, editor-chefe adjunto do Rossiya Segodnya Media Group, da Rússia.
O relatório salientou que as disputas generalizadas de valores e os dilemas éticos colocaram a IA em um dilema entre o desenvolvimento e a governança, portanto, a mídia de notícias deve assumir suas responsabilidades sociais, comprometer-se com uma abordagem “pessoas em primeiro lugar” e promover a “inteligência para o bem” na era da IA.
Tamas Kovacs, CEO do ATV Media Group da Hungria, disse que a disseminação da verdade continua sendo o núcleo das reportagens e a responsabilidade que a mídia de notícias deve assumir na era digital, em meio ao desenvolvimento rápido de novas tecnologias.
“Ainda temos a responsabilidade primária de criar conteúdo de alta qualidade que seja verdadeiro, confiável e significativo”, disse Kondrashov. “É crucial que defendamos os padrões profissionais, nos envolvamos em um pensamento objetivo e racional e apliquemos a sabedoria chinesa de buscar um terreno comum ao respeitar as diferenças.”
Países de língua
Portuguesa
“Eu sou um leitor e analista permanente da China no contexto global. Acompanho os passos e as decisões da China como contraponto aos países do Ocidente, em especial os EUA para entender o futuro da humanidade sabendo que os chineses se mantêm ampliando espaços”, disse Walter Cândido dos Santos, fundador da Revista NORDESTE, do Brasil. Na sua visita à China, ele esteve participando da 6ª Cúpula Mundial de Mídia em Urumqi, capital da Região Autônoma Uigur de Xinjiang, no noroeste da China.
Experiência em 3D; Revista NORDESTE e Folha, únicas convidadas
Com o tema “Inteligência Artificial e Transformação da Mídia”, a cúpula reuniu mais de 500 participantes de 106 países e regiões, incluindo representantes de 208 importantes veículos de mídia, agências governamentais e organizações internacionais.
Este ano marcou o 50º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Brasil. “Estamos buscando aprofundar e expandir nosso acompanhamento das relações entre o Brasil e a China, especialmente em áreas de inteligência artificial”, enfatizou ele.
Conforme notícia na Agência XINHUA em português, no entender do Walter Santos, a disseminação de notícias falsas é um problema estratégico que cria uma espécie de manipulação de dados nos vários continentes gerando descrédito do setor e instabilidade política em diversos outros casos.
“A China está buscando contribuições para enfrentar esse problema, e é importante discutir como lidar de fato com essa realidade ”, avaliou, salientando que esse problema não se limita ao Brasil, mas é algo que está acontecendo em todo o mundo. Ele destacou o lançamento de Laboratório na Paraíba voltado a fazer checagem de notícia e combater a desinformação a partir da UFPB, Secitec, API e AMIDI.
Marcelo Benez, diretor-executivo comercial da Folha de S. Paulo, acha que a cúpula foi uma oportunidade para compartilhar as opiniões das diferentes mídias do mundo.
“A inteligência artificial é uma realidade e é uma tendência crescente, mas para as mídias existe uma oportunidade muito grande de utilizar o que há de bom na inteligência artificial em termos de maximização de processos e agilidade. É importante que o jornalismo profissional continue sendo o antídoto das fake news”, disse ele.
“Essa cúpula é muito importante porque é uma forma de você conectar o planeta, conectar o mundo. Grandes marcas de notícias compartilhando suas principais e melhores práticas, as tendências do mundo da mídia e da comunicação.”
Mama Saliu Sané, diretor-general da Radiodifusão Nacional, da Guiné-Bissau, elogia os resultados da cúpula. “Nós, os países africanos, especialmente a Guiné-Bissau, temos uma parceria inegável com a China. Devemos trabalhar para fortalecer ainda mais essa parceria. Por essa conferência, precisamos ter acesso direto às cooperações das mídias da China e explicar uma verdadeira China sem depender de outras agências”, disse ele.
“Aproveitar a inteligência artificial para suporte, no bom sentido, é bom. Se for no mal sentido, é mal. Porque não se pode ofuscar a realidade em detrimento dos nossos próprios objetivos”, apontou Mateus Neto César Ferreira, diretor-geral da Agência STP-PRESS, de São Tomé e Príncipe.
APERFEIÇOANDO TV
Na semana em que, URUQIN abrigou o debate sobre a 6a Cúpula Global de Mídia, onde a Revista NORDESTE participou como único veículo nordestino chamou a atenção também da qualidade estética e de conteúdos da CCTV – televisão estatal que acompanha todos os fatos do mundo inserindo com destaque os assuntos da própria China em termos de avanços nos vários setores da sociedade chinesa.
Em tempo: fazendo propagandas até de consumo muito bem exposta e produzida, mas a essência da programação é jornalismo puro e muita cobertura sobre temas cultural e ambiental.
ALÉM DA MÍDIA
Chamou a atenção, por exemplo, no domingo, dia em referência às Crianças no Ocidente, foi possível identificar na CCTV um nível de qualidade nos temas que se misturam com os assuntos abordados pela XINHUA em português.
Foi o que percebemos na abordagem sobre o trato da qualidade no mercado de futuro, cuja análise se identifica a seguir com material obtido junto à agência chinesa.
Em tempo: a TV chinesa também está ao mercado de telenovelas, o que é muito explorado no Ocidente.
*Walter Santos foi convidado da Agências de notícias Xinhua à 6ª Cúpula da Mídia, na China