A produção de energia solar ultrapassou a marca de 45 gigawatts (GW) de potência instalada, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica (ABSOLAR), relatório divulgado no dia 1º de agosto, o que coloca a participação da fonte solar em 19% da matriz elétrica brasileira.
Desse percentual, a participação da geração distribuída (GD, equivale a 30,7 GW, representando R$ 148,82 bilhões em investimentos, R$ 44,6 bilhões em arrecadação e mais de 920 mil empregos. Entende- se como GD, termo dado à energia elétrica gerada no local de consumo ou próximo a ele, sendo válida para diversas fontes de energia renováveis, como a energia solar, eólica e hídrica.
Já no segmento de geração centralizada, as grandes usinas solares possuem mais de 14,8 GW de potência no País, com cerca de R$ 62,9 bilhões em investimentos acumulados e mais de 442,9 mil empregos verdes gerados desde 2012.
Diferentemente da Geração Distribuída, a Geração Centralizada é composta por usinas de grande porte, que são conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN), o sistema elétrico que leva energia ao consumo por meio de uma rede de transmissão e distribuição.
Nesta semana, no Recife, acontece o Fórum GD Nordeste, que terá como um dos principais debates os desafios e soluções para tornar a forma de geração de energia mais competitiva, além de mostrar o potencial do Nordeste para investidores do Brasil e do mundo.
O site da Nordeste conversou com o executivo Tiago Fraga, CEO do Grupo FRG Mídias & Eventos, membro do Conselho da Universidade Livre do Meio Ambiente e ex-membro do Conselho da ABGD, que é a Associação Brasileira de Geração Distribuída.
NORDESTE – Quais são as principais expectativas para o Fórum Nordeste de Geração Distribuída este ano? Quais temas e palestrantes o senhor destacaria na programação deste ano?
TIAGO FRAGA – A expectativa do Fórum GD Nordeste esse ano em Recife é a melhor possível, principalmente pelo potencial da região nordeste como um todo, para as energias limpas, para as energias renováveis, a aptidão que a região tem para esse tipo de geração na eólica, na biomassa, na solar, outras tecnologias que estão entrando também como armazenamento de energia. Então, esperamos que seja um evento que marque uma nova era, não somente no estado de Pernambuco, mas também em toda a região do Nordeste. O evento tem a expectativa de manter esse protagonismo da região Nordeste e apresentar isso para o Brasil e para o mundo.
Nós teremos alguns palestrantes renomados, como o Élvio, que foi diretor da Aneel por mais de 20 anos, teremos também uma palestra com o Raul Beck, falando sobre tecnologias de armazenamento de energia, terei eu também uma palestra falando sobre ESG, sustentabilidade na produção de energia elétrica, teremos diversos palestrantes que irão trazer as últimas novidades e tendências tecnológicas, como módulos inversores.
Políticas Públicas e incentivos
NORDESTE – Quais são os principais desafios enfrentados pelo setor de GD atualmente?
TIAGO FRAGA – Quando se fala de desafios e oportunidades para a região nordeste, com certeza, o principal desafio que nós temos é com relação às políticas públicas mais claras e também a parte regulatória.
Pegando o exemplo da geração distribuída, que são principalmente as pequenas usinas, a micro e a minigeração, teve um crescimento estrondoso nos últimos anos, porém, alguns caminhos políticos que estão sendo adotados, são realmente gargalos e obstáculos, inclusive muito difíceis de serem superados. Diria, então, que o principal desafio que nós temos é a parte regulatória e também a parte política, que tem que ajudar com políticas públicas claras e com todo tipo de incentivo para que esse tipo de geração de energia continue forte.
Benefícios para o Consumidor
NORDESTE – Quais seriam em termos de benefícios para o consumidor a adoção da GD com mais intensidade? Ou seja, quais são as principais oportunidades de crescimento para a GD no Nordeste?
TIAGO FRAGA – A eficiência da geração distribuída realmente é impactante, principalmente na vida do consumidor final, que vê a real possibilidade de ter uma diminuição do valor da conta de energia elétrica. Todos sabemos que, no Brasil, pagamos uma das energias elétricas mais caras do mundo. Então isso tira potencial de compra, tira às vezes um bem estar, uma viagem, até mesmo o dinheiro de um remédio, por exemplo.
Então, a gente acredita muito que essa possibilidade real do custo da conta da energia elétrica só veio, principalmente, pela baixa nos equipamentos, que foi muito grande nos últimos anos, a facilidade também em financiamento. Mas, com certeza, esses equipamentos que hoje estão ao alcance de qualquer cidadão brasileiro contam com uma tecnologia avançada e que traz um real benefício, que é o impacto na conta de energia elétrica.
Engajamento e Educação
NORDESTE – Qual é a importância do engajamento da comunidade e da educação sobre GD para o sucesso do setor? Existem iniciativas específicas para aumentar a conscientização e a participação da população na GD?
TIAGO FRAGA – Nós temos hoje uma revista, que é a Revista Brasileira de Energia Solar. Nós temos portais, trabalhamos muita conscientização nas redes sociais também, sempre incentivando o uso da energia limpa, o uso da energia renovável, incentivando a opinião pública, a sociedade civil como um todo, que cobre isso dos seus deputados, os seus senadores.
Cobre a possibilidade de ter essa redução na conta da energia elétrica, que muitas vezes vem sendo atacada por grandes interesses, principalmente de concessionárias e outros atores que hoje dominam o cenário de produção e também de oferta da energia elétrica ao consumidor final. Então, essa conscientização que a gente sempre procura levar, que o consumidor brasileiro, cada brasileiro, tem o direito de gerar a sua própria energia, é um direito adquirido por lei e a gente deve fazer uso dele.
Impactos Ambientais e de Sustentabilidade
NORDESTE – Como a geração distribuída pode contribuir para a sustentabilidade e redução de emissões de carbono?
TIAGO FRAGA – Hoje, nós temos um grande número de comércios, na geração em micro condomínio é muito forte nas residências, e também uma grande fatia nas indústrias, farmácias, supermercados, são diversos tipos de segmentos que hoje se beneficiam e utilizam a geração distribuída principalmente pela solar fotovoltaica nos seus telhados e isso tem trazido grandes benefícios, não somente na diminuição na conta da energia, que é uma realidade, mas também toda essa movimentação tem ajudado com que o Brasil diminua as emissões de gases de efeito estufa.
Então, cada telhado, cada comércio, cada indústria que utiliza a geração distribuída, que utiliza a energia solar fotovoltaica está contribuindo para um mundo melhor, está contribuindo para uma transição energética limpa e segura e principalmente para amenizar e para impactar positivamente as emissões que, com certeza, estão na pauta de qualquer país, de qualquer nação, inclusive de compromissos assinados. Acredito que no comércio e na indústria que são grandes consumidores de energia tem, além de aliviar a conta no final do mês, também tem contribuindo para que nós possamos ter um mundo melhor, respirarmos um ar melhor e isso só é possível quando se há uma conscientização, uma preocupação com as emissões dos gases na atmosfera.
Geração de Empregos
NORDESTE – Em termos de expectativa para o futuro, o quanto esse tipo de negócio para quem investe na GD, pode trazer para o Nordeste, Brasil, implicando inclusive na geração de emprego e renda?
TIAGO FRAGA – Referente ao futuro, aos empregos. A região Nordeste é a prova do potencial que a geração distribuída de energia com fontes renováveis tem. Um potencial muito grande, onde milhares, principalmente integradores, como se fala em geração, micro e minigeração. Milhares de integradores, que são aqueles que vendem a energia solar do consumidor original, viram na geração distribuída uma oportunidade de negócio ou viram na geração distribuída um emprego.
Hoje, são dezenas de milhares de pessoas empregadas devido a essa movimentação da energia renovável. Então, a mesma coisa em projetos de biomassa, mas principalmente na GD Solar, onde instaladores também se capacitaram. Então, o mercado exigiu uma certa capacitação de mão de obra qualificada em demandas específicas na parte de manutenção. Por exemplo, na limpeza das usinas, dos telhados, toda a parte bancária também, toda a parte de financiamento que se mobilizou nesses últimos anos para atender essa crescente demanda da geração distribuída e isso tudo impactou diretamente na geração de milhares de postos de emprego.