O Nordeste e a história real da indústria discográfica

Produtora cultural Katia Mesel revela detalhes da ROZENBLIT, indústria pernambucana que marcou fase do Brasil 

 

Acesse o conteúdo completo abaixo ou se preferir direto no APP NORDESTE. Matéria públicada na edição 210, da NORDESTE.

 

Por Walter Santos

 

 

Quem se depara na atualidade com a produtora cultural Katia Mesel invariavelmente a encontra envolvida até o pescoço com o resgate memorial da imortal Clarice Lispector, um ícone da literatura e da contestação intelectual, agora tomada de apoios culturais relevantes. Só que o envolvimento dela com a produção de vanguarda remonta fases extraordinárias como o da indústria Rozenblit, no Recife, onde há registro de produção vanguardista desde os anos 70. Eis a entrevista:

 

Revista NORDESTE – A história da música discográfica quando dispunha de comando mercadológico nos anos passados apresentava a ROZENBLIT, em Recife, como referência nacional. Qual sua leitura e o papel da referência na indústria discográfica nacional?

 

Katia Mesel –  A história da Fábrica de Disco Rozenblit é uma das mais importantes da música popular brasileira. Foi fundada em 1954 e por mais de uma década foi a maior produtora de discos em vinil do país, e por muito tempo, a única gravadora nacional. Seu selo: Mocambo!

 

NORDESTE – Daí, Como tudo começou?

 

Katia Mesel –  Por favor exemplo como elemento histórico : José Rozenblit registrou o frevo, ciranda, pastoril, repentistas, românticos, como ninguém! A música pernambucana rolava nas radiolas, dos salões, das saletas, salinhas, terraços e sombrinhas, pois, estava ali, na loja da Rozenblit, na rua da Aurora, no buchicho do Quem me Quer.

 

NORDESTE – Qual o diálogo nacional?

 

Katia Mesel – A nível nacional, a Rozenblit lançava os discos com as músicas vencedoras dos célebres Festivais de Música Popular Brasileira, apenas 2 dias depois do festival, criando assim, uma enorme consideração no meio musical nacional! E deixando as multinacionais boquiabertas, e no fim da fila.

 

NORDESTE – Qual o papel da indústria com o boom na divulgação decisiva do Frevo através de Claudionor Germano, por exemplo?

 

Katia Mesel – José Rozenblit gravou e divulgou o frevo de todas as formas – instrumental, de bloco, de rua, interpretado, imortalizou Capiba, Nelson Ferreira, Claudionor Germano, orquestra da Policia Militar, e muitos outros, não tão famosos.

 

NORDESTE – Quem você representava à época?

 

Lula Cortês e Kátia Mesel. Foto: Arquivo Pessoal

 

Katia Mesel –  Eu não representava ninguém, apenas produzi 4 LPs, no início da década de 70, (Satwa, No Sub Reino dos Metazoários e o álbum duplo, Paêbiru, e Flaviola eo Bando do Sol), todos com a parceria e participação de Lula Côrtes, meu companheiro, na época.

Eram uma produção independente, da ABRACADABRA (eu e Lula). Quem fez o meu contato com José Rozenblit, em 1972, foi meu pai, para fazer o orçamento do Satwa. Todos os ensaios eram na casa da minha família, rolava muita sonzeira! E eu ficava louca para registrar esse som tão novo, magico e psicodélico!

 

NORDESTE – Como a Sra dimensiona o significado da ROZENBLIT nesse tempo depois dos anos 70?

 

Katia Mesel: A Rozenblit existiu, e persistiu com sua proposta apaixonada pela música pernambucana e popular brasileira, até o desaparecimento do imortal José Rozenblit. Depois disso virou outra coisa, que não sei definir. Perdeu-se (da minha visão e interesse) na avalanche de tantas gravadoras de fundo de quintal, de samplers e falsos profetas.

 

NORDESTE – Dados existentes apontam a ROZENBLIT como, por exemplo, por produções musicais a exemplo de Paêbiru, como referência do Nordeste. Na sua opinião, o que isso significa na história particular e do mercado ?

 

Mesel : “Éramos pioneiros”. Foto: Divulgação

 

Katia Mesel – Olha,  Significa que éramos pioneiros! Satwa, de Lula Côrtes e Lailson de Holanda, foi o primeiro disco instrumental, independente do Brasil, foi gravado em 2 canais, de madrugada, para ficar mais barato o uso do estúdio de gravação da Rozenblit. Todas as 4 obras fonográficas, mencionadas acima, foram pagas à Rozenblit: pelo estúdio de gravação, pela impressão gráfica das capas (criação minha), pela prensagem e pelo master.

 

 

Disco de Zé Ramalho, 1978

 

 

Acho que ainda devo ter os recibos dos pagamentos. Quanto a PAÊBIRU, nós (eu e Lula) que selecionamos e convidamos os músicos participantes, nessa época Zé Ramalho, parceiro de Lula, praticamente morava na minha casa. Os ensaios eram lá em casa. Eu alugava o equipamento, ia buscar os músicos em suas casas, oferecia alimentação, fazia o figurino das apresentações, contratava os teatros para os shows de lançamento. O selo SOLAR foi desenhado por mim, com letra set e nankin. As fotos do álbum duplo, são minhas e de Fred Mesel, meu irmão. Fora isso, todos os lançamentos da Mocambo, são exclusivamente da Rozenblit.

 

NORDESTE – Por que a indústria deixou de existir, mandar e se acabar diante de cinco inundações no mesmo lugar? Por que não procuraram outro lugar?

 

Katia Mesel -Sinceramente, não sei responder.

 

NORDESTE – Qual o futuro desse acervo?

 

Katia Mesel – também Sinceramente, não sei responder.

 

NORDESTE – Como a Sra projeta o futuro da indústria cultural do Nordeste e particularmente a partir de Pernambuco?

 

Katia Mesel –  A indústria cultural é fruto de quem faz, do interesse que causa, não só ao turista, mas que agrada o próprio povo. Com o reconhecimento do prazer dos folguedos, do sabor dos sucos, do pote de barro, do peixe na telha, da moda instigante.

Particularmente, Pernambuco, vai de vento em popa! A nossa ebulição cultural não tem freio, tem frevo nas veias! É a diversidade mais variada e diferente do mundo!

Curta e compartilhe:

Walter Santos

Leia mais →

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *