Resultados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI) sobre a presença de microplásticos nas praias do litoral pernambucano revelou dados preocupantes que evidenciam a urgência de ações para combater o problema ambiental.
Liderada pelo biólogo e coordenador Múcio Banja e pela pesquisadora Jéssica Mendes, a pesquisa é fruto de um trabalho iniciado em 2019 em naufrágios na costa pernambucana. A partir de 2022 foi iniciada a coleta de amostras de sedimentos em diferentes praias da região, incluindo Paiva, Suape, Porto de Galinhas e Tamandaré.
Os resultados mostraram uma média de mais de 300 fragmentos de microplásticos em cada amostra de 200 ml de sedimento, evidenciando a presença significativa desses resíduos nas praias estudadas.
Praia do Paiva
Um dos achados que surpreendeu os pesquisadores, na coleta feita em 2024, foi a constatação de que a praia do Paiva, uma área reservada e pouco habitada, apresentou a maior quantidade de microplásticos (695 fragmentos no total), superando até mesmo praias com maior atividade turística, como Porto de Galinhas (320 fragmentos).
Essa descoberta levanta questionamentos sobre as fontes de contaminação e a necessidade de investigar a influência de fatores ambientais e humanos nesse cenário.
Além disso, a pesquisa também explora a presença de microplásticos em animais marinhos, como as esponjas que são animais filtradores e que capturam partículas presentes nas correntes marítimas. Os resultados preliminares indicam uma quantidade alarmante de microplásticos acumulados nesses organismos, o que ressalta a importância de entender os impactos dessa contaminação na fauna marinha.
“A quantidade de microplásticos encontrados em nossas amostras é extremamente preocupante. Essa contaminação representa um sério risco para o ecossistema marinho e para a saúde humana”, pontua Jéssica Mendes.
Impacto subestimado
Na avaliação do biólogo Múcio Banja, o impacto dos microplásticos no meio ambiente é muitas vezes subestimado pela população. “Esses pequenos fragmentos representam uma ameaça real à vida marinha e ao equilíbrio dos ecossistemas costeiros”, reforça Banja.
Os pesquisadores do IATI ressaltam que esses resultados são apenas o começo de um estudo mais amplo e que ainda há muito a ser investigado. No entanto, os dados obtidos até o momento são preocupantes e exigem ações imediatas para mitigar os efeitos negativos dos microplásticos no ecossistema costeiro.
Técnica
O estudo, realizado ao longo de períodos de estiagem e chuvoso, contou com a coleta de sedimentos por mergulho autônomo. As amostras foram submetidas a protocolos de análise que incluíram separação do sedimento e dos microplásticos por meio de flotação, identificação em microscópio estereoscópio e análise granulométrica para classificação sedimentológica.
Os resultados revelaram a presença de 1.406 partículas de microplásticos nas amostras analisadas, com destaque para o nylon azul, que representou 63% do total. Todas as praias estudadas apresentaram registros desses micropoluentes, sendo a praia do Paiva a mais afetada.
A pesquisa também buscou correlacionar a presença de microplásticos com fatores como ação das correntes marinhas e influência dos rios como o Jaboatão (praia do Paiva), Massangana e Tatuoca (praia de Suepe). Os resultados indicaram uma associação direta entre a presença de microplásticos e a dinâmica costeira, destacando a praia do Paiva como uma área especialmente sensível aos impactos antrópicos (ações realizadas pelo homem).
Além de estudar a presença de microplásticos no sedimento litoral, o IATI está desenvolvendo tecnologias inovadoras para separar as pequenas partículas de microplásticos dos corpos dos animais estudados. Para isso, estão sendo desenvolvidos métodos para dissolver a matéria orgânica associados a distúrbios controlados, a partir de vibrações e produção de microbolhas ultrassônicas, que deverão otimizar os resultados dos estudos.
*Com informações da Ascom IATI