A decisão do governo Trump de impor uma tarifa de 25% sobre o aço importado, incluindo o do Brasil, deve ser analisada considerando a elasticidade-preço da demanda. Para o engenheiro potiguar e mestre em Economia Lourinaldo Nóbrega, os efeitos dessa medida não são tão desastrosos quanto se poderia imaginar, especialmente quando analisados sob uma ótica estratégica.
No caso do aço-liga exportado, que é insumo para a produção de bens superiores, a elasticidade costuma ser maior do que 1, o que significa que a demanda é sensível a variações de preço. Se um exportador brasileiro simplesmente repassasse integralmente a tarifa ao consumidor americano, aumentando o preço em 25%, a receita cairia proporcionalmente mais – por exemplo, se a elasticidade for 1,4, a receita poderia encolher em 35%. Por isso, o ajuste de preços tende a ser intermediário, buscando um equilíbrio que minimize perdas. Um fator que favorece o Brasil nesse cenário é o real desvalorizado, que dá alguma margem para absorver parte do impacto tarifário sem comprometer tanto a competitividade.
Outro ponto relevante, segundo Nóbrega, é que a taxação imposta por Trump foi linear para todos os países, eliminando a possibilidade de substituição de fornecedores dentro do próprio mercado americano. “Se a taxação tivesse sido seletiva, os compradores americanos poderiam optar por importadores não tarifados, reduzindo drasticamente a demanda pelos produtos brasileiros”.
O fato de Trump não ter considerado essa estratégia demonstra seu primarismo em negociações comerciais, o que, paradoxalmente, beneficia os exportadores afetados, acrescenta Lourinaldo Nóbrega.
Diante dessa medida protecionista, o Brasil precisa pensar em respostas estratégicas. Para Nóbrega, retaliações diretas devem ser feitas com inteligência, escolhendo bens e serviços com alta elasticidade-preço, dificultando o repasse do custo ao consumidor brasileiro.
“Um caminho eficiente seria taxar serviços “tradables”, ou seja, aqueles que impactam a balança comercial, mas possuem substitutos viáveis no mercado interno. Essa abordagem minimizaria efeitos inflacionários, já que os bens superiores têm peso menor na cesta de consumo usada pelo IBGE para medir a inflação”.
Apesar do impacto inicial da medida, “os efeitos não são tão severos quanto se poderia imaginar. Há margem para ajustes estratégicos que podem mitigar perdas e até gerar oportunidades para o Brasil no médio prazo”, conclui Nóbrega.