O que exatamente um bando de parlamentares e a ex-primeira dama, Michele Bolsonaro, foram fazer de fato nos Estados Unidos no dia da posse do Presidente Trump, ninguém até agora soube explicar. A ideia era assistir a posse no local do evento, e quem sabe apertar a mão do empossado. Assistiram tudo pela TV, como eu, você e milhões de outras pessoas o fizeram, sem sair de casa, e talvez com mais conforto, e menos coca-cola.
Barrados à porta dos principais eventos, sem convites oficiais e ignorados pela mídia quase que totalmente, se limitaram a abastecer suas redes sociais, com aquelas fotinhas sem graça, às vezes dançado, quase sempre sorrindo. O Governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, não se conteve, e sem sair de casa, botou um bonezinho trampista na cabeça, e foi pra galera. Imagem ridícula.
Incrível a capacidade com que algumas autoridades, ditas responsáveis, não se incomodam nenhum pouco com o zelo da própria imagem, e se dispõem a se expor em público sem o menor constrangimento. Nada demais, é perfeitamente normal, qualquer cidadão comparecer a um ato de posse de qualquer autoridade. Desde que seja convidado, ou no mínimo, que desfrute de alguma intimidade ou algum parentesco com o empossado. Alegam alguns deles que a presença em eventos dessa natureza, ainda mais fora do País, os tornam mais conhecidos e dá projeção a imagem política.
Da comitiva parlamentar do Brasil, presente ao ato, não mais que cinco ou seis os que tem a imagem conhecida dentro do próprio estado de
origem. A verdade é que o tempo passa, as coisas mudam e a vida acontece. Mas o já conhecido comportamento vira-latas não desgruda do brasileiro com muita facilidade. Desde os tempos de escola, desde os tempos de adolescência e juventude, que o brasileiro curte, admira e muitas vezes manifesta frustrações por não ter condições de se americanizar.
O sonho de gerações, não muito distante, era comprar Calça Lee, cigarros More, cerveja Budweiser e equipamentos eletrônicos em Miami ou Nova York. O Brasil era o País, o mundo era os Estados Unidos. A intensidade dos sonhos foi diminuindo com o tempo, mas a admiração pelo País continua, agora já bem moderada.
O meio político, infelizmente, não entendeu ou não aceitou com muita tranquilidade essa mudança. Até hoje os americanos encantam nossos políticos, e alguns deles escancaram isso sem constrangimento. Essa eleição de Trump colocou alguns dos nossos parlamentares em estado de êxtase, alguns com manifestações quase absurdas.
O ex-presidente Bolsonaro alegou ter sido convidado, mas nenhum convite de fato apareceu, ou pelos menos essa foi a argumentação da justiça, que o impediu de deixar o País. A esposa Michele o representou. Ninguém apertou a mão de Trump, foram à Disney e não viram o Mickey. Numa mistura de imaturidade política e amadorismo diplomático, toda a comitiva voltou pra casa sem a beijar a mão daquele que muitos acreditam vai ajudar os partidos de direita no Brasil. Em outras circunstâncias, essa armação talvez até pudesse ajudar em alguma coisa, mas na condição atual, parece difícil.
O pano de fundo de todo esse beija mão a Tio Sam chama-se sucessão presidencial de 2026. Não sei se por ingenuidade ou devaneio, o fato é que acreditam que a mão do presidente americano tenha influência nas eleições do Brasil. Ninguém convence do contrário aqueles que acreditam nessa lenda, por isso, o melhor é deixar a história rolar.
Pablo Marçal, o improvável e muito votado na eleição municipal de São Paulo, com alguma ironia espalhou críticas sobre essa caravana de barrados no baile, e como sempre deu seu pitaco sobre a corrida eleitoral para 2026. Segundo ele, todo mundo pode ser candidato, desde que seja aprovado por Bolsonaro. O curioso e pitoresco disso tudo é que, mesmo sendo o motivo maior de toda essa demonstração de puxa-saquismo explícito, Donald Trump com a arrogância de sempre sequer tomou conhecimento sobre a presença ou não de qualquer brasileiro na sua posse. O melhor seria pedir um pouco de bom senso e mais cautela aos nossos parlamentares, para que evitem gestos de submissão e beijem mão com exageros e bajulação. O tempo dos vira-latas tem que acabar de vez.
Por José Natal
Jornalista